domingo, 16 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - MEIO


MEIO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Somos tontos

Procurando 

Um lado

Esse lado existe?


O importante

É que este lado

Não 

Esteja vazio


Mas há a cegueira

domingo, 9 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - PORTO SANTO II


PORTO SANTO II

(Janiel Martins, RN/Brasil)


O Porto Santo...

... é belo e tão delicado

Tão delicado...

... como a fumaça...

... do pensamento 

Aqui...

... não tem demónios

Só tem leveza 


De irmãos... 

... trouxe...

... uma fragância

E o Porto Santo expulsou...

... os demónios


O Porto Santo...

... é um belo útero

 

domingo, 2 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - DUAS FACES E DOIS MEDOS


DUAS FACES E DOIS MEDO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Deste que me entendo por ser vivo que tenho medo.

O medo é o nosso cérebro suicidando os bichos pequeninhos, que estão dentro da nossa matéria.

É uma reacção.

Eu acho que queima e o pensamento deve ser a fumaça.

Deve ser porque o pensamento é tão leve e friozinho, chega a dar coceguinha no coração.

O estômago queima a comida que comemos e o cérebro deve ser uma peça que esfria o sangue, se não o sangue iria ferver muito.

O sangue é constituído por nutrientes da comida.

É meio podre, sei lá...

domingo, 25 de junho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - PORTO SANTO


PORTO SANTO

(Janiel Martins, RN/Brasil)

 

O Porto é Santo

Não deixa os demónios te dominarem 

 

O Porto é Santo

É o filho que os pais fazem questão

De falar para os amigos

O meu filho é diferente

 

O Porto é Santo

Tem delicadeza peculiar do restante Portugal

Como se poesia 

Florbela Espanca

 

 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

UM FOGUETE



UM FOGUETE

(Janiel Martrins, RN/Brasil)


Nesta terra

Para onde fui lançado

Há fome

Há tristeza


A sujeira

Não é material

Há sujeira

(Senti)mental

 

Oh homem

Porque paraste de pensar?

domingo, 11 de junho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - SALTO


SALTO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Reconheça

Que é dopamina

Corpo

 

É uma infecção

De infantilidade

 

Reconheça

Que é apenas

Uma infecção

De piedade

Infantil

 

Não tenho defesas

As infecções

Só antibióticos

 

domingo, 4 de junho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - NÃO HÁ ARMAS

 


NÃO HÁ ARMAS

(Janiel Martins, RN/Brasil)


As paixões são venenosas

É uma parte alheia

O narcisismo é seco

 

Não vou criar armas

Que se fodam os meus pobres sentimentos

Que se fodam?

 

domingo, 28 de maio de 2023

CAFÉ COM LETRAS - MERGULHANDO NO VÁCUO


MERGULHANDO NO VÁCUO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Mergulhei num abismo onde o medo não existe.

Só sinto o sangue escorrendo no pobre coração que um dia faltará.

Fico triste.

Estás falando só, doida?

Estou pensado.

A vida é a resistência de viver e não podemos parar.

Viver o quê, doida? 

O tempo é uma solidão.

As cobras são engraçadas. Só dormem e caçam.  

Acho que vou ser uma como uma cobra.

O que as cobras pensaram para evoluir e chegar a este corpo, Francivaldo?

É mesmo! Devem ter pensado a vida é uma foda. 

Lá vens tu com as fodas, Francivaldo!

Assim disse Jesus Cristo. Dai de comer e de beber, a quem tem fome e a quem tenha sede. 

A fome não é só de pão, doida, a forme também é da carne.

Faz sentido, Francivaldo.

Olha doida, o pé do menino que Deus esqueceu aqui fora.

Vixe... que pé bonito.

Deixa eu colocar ele dentro de tu, pra nós trazer outra vida?

Larga com isto, Francivaldo.

domingo, 21 de maio de 2023

CAFÉ COM LETRAS - ESQUECIMENTO DE DEUS

 


ESQUECIMENTO DE DEUS

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Gosto do cheiro das plantas

Gosto da fome

Do cheiro da fome de viver

Gosto de olhar o pé de menino 

Que Deus esqueceu aqui dentro.


domingo, 14 de maio de 2023

CAFÉ COM LETRAS - BURACO DE PAREDE IV

 

BURACO DE PAREDE IV

(Janiel Martins, RN/Brasil)


... Quatro dias depois

Minha mãe, eu vim pegar minhas roupa.
Vá logo minha filha, que o seu pai é muito ignorante, se ele chegar aqui vai falar besteira.          

E essa cara labida veio aqui fazer o quê?, Não está bom na casa do seu macho?

Fale assim com a menina, não.
Você também quer ir embora? Vá com ela.
Deixe de ser bruto homem, nem os animais são assim...resmunga, resmunga com tu mesmo.

Vá minha filha.

Um dia eu volto para visitar a senhora e meu pai.
Volte quando a poeira baixar minha filha, e nunca deixe os outros pisar em você.
O caminho não volta para nós.

(A separação para o ser humano é bruta. O ser humano não foi preparado para a separação.)

Terezinha eu vou para São Paulo
Vá não, Josivaldo, São Paulo é muito longe, eu vou ficar com saudades de tu, assim como aquela estrela tem das outras amigas delas. As estrelas, pelo menos, elas avistam umas às outras e se tu for eu nem vou ver tu.
Eu vou porque eu quero uma vida melhor para nós.
O meu coração murcha, quando tu fala que vai embora. Dá um frio dentro do meu peito e o meu peito só tem um namorado.
E tu tem outro namorado, Terezinha?
O namorado do nosso peito é o nosso coração, ninguém entra dentro do nosso corpo. O namorado do corpo é o nosso espelho, é a sua proteção. Dentro de nós não precisamos de companhia, Só da nossa natureza, imagina só a tristeza de uma estrela.

Dizem que Dalva não é uma estrela, é um planeta.
Cada estrela tem um bocado de filho, e Dalva é iluminada pelo nossa estrela que chamamos de Sol, e as estrelas para não viverem só, têm os planetas que vivem os arrodeando.
E a lua é o quê?
A lâmpada da terra.
É Terezinha?
Não sei não, só sei que a minha imaginação pensa assim, e como nós não podemos ficar com muita coisa no miolo da cabeça, eu acredito na minha imaginação.

Dizem que é bom plantar quando a lua está nova, que joga toda a força para a terra e deita a galinha para nascer na força da lua, para os ovos quebrar melhor.
Eu fico com o meu juízo tremendo quando a lua está cheia.
É Terezinha?
É sim, tenho um sentimento de inveja, com tristeza de não o conhecer o mundo, quando a lua está grandona.



Serra das Tapuias, 2002

(O silêncio permaneceu durante todo o dia, a lua nasceu bem cedinho, ninguém comeu, o barulho do carro de Dede, veio como o chorro)


Olha...
(a sacolinha com os teus documentos, não foi falado, a mão foi estendida)

Fechei a cabeça, sem deixar sair lagrimas, fechei, deitei sem mesmo ter forças para fechar a porta. Não tive medo, pois naquela noite já não existia sentimentos, acordei com um frio no peito que não era aquecido com café. Tinha perdido os sentimentos todos. Fiquei como uma estrela, solitária. Preferi ficar na cama mais um dia e uma noite. A morte doera menos. Hoje eu sou a estrela Dalva.