domingo, 15 de outubro de 2023

SUSTENTO DA ALMA - ESPÚRIO NO WELLNESS CENTER



Ponta Delgada, 17.30 horas.

Após uns formidáveis momentos com amigos, onde se misturaram os prazeres dos reencontros, com alguns desejos e intentos de articulação de útil e motivante (futuro) trabalho... voltei ao hotel e, (tão) feliz com a tarde, tomei um duche e mergulhei na água, com a temperatura que me é tão de pertença (30º), na piscina interior.

De serenidade tatuada na alma e na expectativa de um final de tarde feliz... (que me levaria e elevaria o entusiamo para umas cracas, lapas e demais açóricas iguarias, ao jantar...), mal entrei na piscina, acordei (em pânico) do perfect day que trauteava mentalmente e em consonância com o Lou Reed que me fazia companhia...! 

Deparei-me com um cenário de vandalismo e toxicidade ambientais (apesar de todas as indicações estarem escarrapachadas numa visível sinalética, para informação dos mais distraídos, dos inábeis em civismo e em civilidade, ou dos puros tugas..., do que possível e inadmissível neste wellness center ou, bem se entenda, noutra coisa qualquer cujas exigências sejam similares), no local que procurei... para um confortante final de tarde e preparatório início de noite.

Wellness center... (tal como designado).

No borbulhante jacuzi, estavam 3 moçoilas, já entradotas (fim dos 20 ou início/meio dos 30 anos), com os antebraços, braços e crânios cabeludos (a sinalética obrigava o uso de toucas) de fora de água, protegendo o que, digo eu (!),  lhes era de maior valia: os 3 telemóveis que seguravam, com as 6 mãos e sem que nem um pequeno desvio de olhar fosse autorizado pela formatação.  

Talvez o erro estivesse no facto da sinalética do Wellness Center não impedir o uso de telemóveis.

Restaurando-me (tentando...!) da bizarra visão..., olha o meu olhar para um pujante e saloio som, que agudizou todo o (surpreendido) Wellness Center, e vi (ouvi e assustei-me) uma mulher, escancarando a boca e disparando a cabeça para trás, no seu orgulhoso biquini preto e dourado, numa tão sonora e despropositada gargalhada, apontando e acompanhando o motivo de tanta graça, a saber: o verdete gretado dos pés, sobre quem, especulei, ser o seu companheiro que, igualmente, se torcia em gargalhos exibindo o barulho que lhe jorrava dos cascos, num sotaque repleto de trejeito de linguagem (muito) lisboeta, que fazia exibir o burgesso, em material e em gritante mediocridade.      

... pois fiz o reparo na recepção do hotel... 

Nem voltei a ver verdete na piscina, nem vi mais telemóveis no jacuzi.

Não reparei se estavam no banho turco. Não se via muito bem. 


Paulo Passos  (Braga, Portugal)