quinta-feira, 11 de maio de 2017

CONGRO FRITO


Ingredientes:

- Congro fresco
- Limão
- Vinho branco
- Oregãos
- Pimenta branca
- Colorau
- Farinha de trigo
- Coentros
- Sal
- Óleo de fritar


Modo de preparação:

Sendo o congro (safio ou cação ... penso serem o mesmo e, a diferirem, 
talvez se prenda com fases de desenvolvimento ...!) um peixe bastante espinhoso, 
sugere-se que o corte em postas bastante finas.


Em São Miguel é hábito deixar as postas finas 
a marinar em limão e vinho branco, de um dia para o outro, 
para ajudar a amolecer e, como tal, serem de menor incómodo.
A marinada inclui sal e coentros.
A fritura ainda torna as espinhas mais quebradiças, 
pela crocância que lhes é incutida.


Misture num prato, a farinha, o colorau, os oregãos e a pimenta.
Envolva posta por posta do peixe, neste preparado.
Em óleo quente vá fritando, sem exagerar na quantidade de peixe que 
coloca de cada vez, para não arrefecer o óleo.
Deixe descansar sobre papel absorvente e acompanhe com um vinho branco, 
salada de alface, cebola nova e tomate, temperada a seu jeito.


Coma fruta, a que lhe apetecer ou lhe for possível.

A estes que a ternura invadiu - Fernanda e Paulo (Marianos),
fica um beijo ... bem no meio do tempo ...!!!
Parabéns querida e doce Fernanda.

Edição: Janiel Martins

domingo, 7 de maio de 2017

CAFÉ COM LETRAS - DIALOGANTES



SOB E SOBRE A PELE
(Janiel Martins - RN / Brasil)

Sob a pele e sobre a pele 
pelados ou por pelar.
Vos tenho.
Aqui no meio do tempo.
Dois mastros que me entesam 
pelo texto, pela palavra, por vós.
Um no cheiro, 
no tacto e no sabor.
Esse que é um ser eu.
Outro no imaginar, 
nos sentidos exaltados 
pelo mistério da incerteza sonhada.
São dois, feitos homens feitos, 
que se respondem nos desenhos grafados 
e perpetuados nos seus escreveres.
Texto de um, belezado pela essência impulsiva.
Texto de outro, belezado pela análise.
Texto de um, projectiva criação.
Texto de outro, analítica interpretação.
Dialogantes inteiros.
Meus.
Sob e sobre a pele.
Amados donos dos vossos dizeres 
... convosco sou.


Fonte da imagem: Facebook
SOB A PELE
(Antônio Baltazar Gonçalves - SP / Brasil)

Não há pressa na pele papel macio
do homem mais velho;
Não há demora na pele seda porcelana
fria do rapaz de frete.

Vivem sós, marcaram esse desencontro.
A pressa do rapaz é olho de águia na grana,
não aprendeu amar.
A demora no olhar do outro é gana,
esqueceu-se como se ama.
Seria bonito de ver se o caso fosse outro,
de amor entre dois homens
encontro de gerações como oração coordenada
pelo desejo nato desinibido
ou a simples sobreposição da pele
à sede de hidratação
ou troca de afeto,
solidão mordida ou apenas fome.
Mas não é o caso,
embora comum é famigerado esse encontro.
Os dois foram tatuados no escuro
marcados pela vida, um será o outro amanhã.
Sendo a pele o maior órgão do corpo
se compreendida tornar-se-ia
e a tudo, o mais humano de nós.
Mas não é o caso o caso desse encontro.
Aqui a pele é moeda de troca
papel de grife
embrulho
do perfume o frasco
perfumaria
mal tocada quebra
tanto mais trocada mais sangra.
A pele nunca está pronta.
Por negros pêlos de um lado
e loiros finos fios do outro,
perfurada feito granito,
a pele eriçada é a mais bela flora
na epiderme em choque.
Flor repisada, duro espinho
brutal arma na bainha.
Por fim, o acerto é feito
: amor abjeto, a obra
o coito.
Vivos beijos mortos de línguas tensas,
o silêncio é o oco do desejo que sobra.
Na pele dos dois um texto há muito redigido
é um pedido de socorro mal grafado,
o grito de um menino que foi abusado ,
gemido abafado, nada é esquecido.
O medo no ápice do orgasmo
pede colo e paz de abrigo.
Agora só há pressa,
grana gasta e marcas na grama.
Aplacada a gana, os dois buscam
no tempo o que não foram.
No escuro, a quixotesca figura se desfaz
depois de aplacado o furor.
Os homens seguem sem rumo seu rumo,
o que foi amplificado fica não dito.
Junto deles vai a sombra do medo,
cravado na memória do corpo
sob a pele.



SOBRE A PELE
(Paulo Passos - Braga / Portugal)

Esfregar na pele 
O sabor de língua
Esfregar na língua
O sabor de pele
O ansiado
O desejado
(In)cómodo e irresistível
Geme o tesão que é o teu
Não o que não te pertence
Não afogues o que tens
Porque não ao livre?
Solta no grito o jorro
Desamarra o pau.

Narração de angústias
Experimentos de vão
Tardios, perdidos
Em estepes de fraquezas
De mágoas
Ou de medos
Massacrado
Oscilante.

Dirás da pele
Que te é alma.

Mas tem desejo
Desejo e fuga
Deste não feito homem
Deste não feito gente
Desejo esquecido de ser
Desejo com dor
Mas tem outro querer
Mesmo o narcísico
De fugir
Par do tesão
Do tesão de ser homem.

Texto vivido
Denunciado
Discursação vérita 
Analítico em prosa
Dolorido em poesia
Cheira a medo
Tem narração
Tem mancha tatuada
Matador de um
Nascedor de outro
Fica no outro
No do homem teso
No teso que és tu
Ou todos
Gritador do teu gemido
Audível o teu tesão.

Diz de ti. 

Mutações 
Dirás.


Janiel Martins