Final de tarde ... 17.30 horas ...
Trânsito difícil ...
Dia de estouro ...
Calor a esganar ...
Entrar em casa, tirar os sapatos e as meias ... à medida que me aproximo do sofá da sala, fiel amigo de imediato encontro entre a rua e o acolhimento de casa ...
... tirar os jeans e o pólo branco, já com a célebre penumbra de encardido a desenhar o contorno do colarinho que roça na parte de trás do pescoço, fruto do suor e das naturais andanças corporais de um dia cheio, abafado e sem direito a pensar ...
... só em boxers ... apenas pensando em estatelar-me nesse meu bege amigo, que me recebe, invariavelmente sorridente e de braços abertos, jamais sem reclamar ...!!!
Só ouve as lamurias silenciosas que o corpo vai debitando ... até que este adormece ou sorri com um pujante espreguiçar ... quase sempre depois de um cochilo ...
gostoso, mas tão gostoso ...!!!
... atirar tudo para o cesto da roupa suja, começar a ouvir a água do duche a correr e a salpicar, provocadoramente, os anseios de a sentir escorrer pelo corpo quase como se em água o desejo fosse de me transformar.
O comportamento da água é, invejavelmente, curioso ... tão só porque faz o que tem que fazer de sua vontade ... ocupa todas as superfícies como rainha de um poder ... deforma-se e forma-se consoante os formatos que a balizam ... e,
sempre que pode, usa e abusa da soberania do carinho e da violência.
Água a escorrer pelo corpo, de modo a que água eu fosse ... só deixando o corpo modelar o itinerário da corrente.
Divinal ... despertar para prazeres da transparência ... água feita cura.
Tóim ... Tóim ... Tóim ... um violento acordar para outras circunstâncias ... reais!
Toca o telefone ... voz familiar, amiga e já muito saudosa aos meus sentidos.
Jantar em casa, com uns amigos recém chegados, do interior sertanejo.
Cozinha ...
Afliçãozita ...
Pensamento, novamente, em rotações exageradas ...
Toalha enrolada na cintura, ainda a pingar por todos os lados ...
... surge a salvadora GOROROBA ...!!!
Não sei se existe como significante.
Mas sei que existe como significado.
Sei que, no Sertão, muitos somos a designar uma misturada de alimentos,
de modo a serem aproveitados, enquanto restos de outras refeições, ou mesmo,
como refeição para maximizar o rendimento.
GOROROBA ...!!!
Gororoba de R.O. Lê-se: Gororoba de Restos de Ontem
(que podem ser vários, tanto os dias como os restos!) ...!!!
Serenada a aflição do momento, pela solução encontrada e, já lavado e vestido,
pensamentos em ordem ... frigorífico mais leve ... e mãos à obra que se faz tarde ...!!!
Tempo de viver o entusiasmo do encontro.
Estufado de legumes com frango - uma quantia razoável que sobrou de uma qualquer refeição e já ocupava espaço no congelador que não deveria ser seu ...
... destino: micro-ondas para descongelar!
Arroz de grelos, feito do jantar do dia anterior, adormecido estava dentro do frigorífico, esperando por nova sorte - fogão com ele, em banho-maria!
Suavemente misturado, com um retoque de apuramento de temperos, uma chuvadinha
de salsa picada e um chuveirinho de sumo de limão.
Um refrescante suco de citrinos, enriquecido com hortelã, em acompanhamento da
Gororoba de R.O.
foram os ingredientes de reforço à união,
união já vivida pelos prazeres do reencontro e ... melhor ...
... do reencontro inesperado ...!!!
Junção de sertanejos ... é a alma que brinda!
Sem questões ... os dias são potenciais dias de muito prazerosas aventuras,
aventuras vividas no espaço de casa ... na intimidade assistida pelo sofá fiel.
Adormeci no sofá bege da sala, apenas sem os sapatos
e, estou certo, com um rasgado sorriso de satisfação.
Sonhei vermelho ... vermelho do Sertão.
Bem hajam ... surpresas de revitalização,
surpresas vindas do Sertão, do Sertão de cada um ...!!!
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Fonte das imagens: Janiel Martins |