sábado, 27 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - UM PETISCO AÇORIANO

Morcela com Ananás e Queijo Fresco com Pimenta da Terra

Um Petisco Açoriano


Numa tarde chuvosa e sem tréguas da humidade, passada em São Miguel, a elegante maneira açoriana não deixou que o clima do dia fosse obstaculizador a uma muito agradável tarde, onde a companhia, a conversa e o lanche foram soberanos.


Devo dizer que a humidade que senti na Ilha de São Miguel, a que os açorianos designam por "capacete", não me foi, de todo, desagradável.


Sentia-me a atravessar uma nuvem, sem estar dentro de um avião, o que achei divertido e peculiar.

Acresce que, se o tempo desse dia não fosse esse, talvez o petisco ("tira-gosto", no Brasil) não tivesse acontecido.


Pimenta da Terra








Aconteceu, sim! ... e aconteceu em casa de um designer e família, que tinha conhecido no dia anterior, enquanto olhava o quotidiano micaelense, sentado no muro da avenida marginal, em Ponta Delgada.

Estava sentado e senti uma mão (pequena) sobre o meu joelho e, olhando, vi um sorriso apontado para mim, esticando uma bolacha. 
Era uma oferta! Estava a ser oferendado!

Soube, logo de seguida, que era a Rita, de 5 anos, que se passeava com os pais - o Pedro e a Ana.

A Rita tinha sido a incomensurável mediadora e geradora das fabulosas tardes que iria ter, tanto nesse dia, como no dia seguinte.

Certamente que, com uma cicerone como a Rita, ninguém fica impávido e sereno perante os impulsos naturais de acarinhamento.

Acabámos sentados numa esplanada virada para o mar, o notável mar açoriano, densamente sedoso, de textura Atlântida e de sensações extraordinariamente mutáveis, mágicas e misteriosas. 

Bebemos uma cerveja regional, por sugestão do Pedro e da Ana, acompanhada por um hábito, que já conhecia, frequente em todo o Portugal. Acompanhar a cerveja com um tira-gosto chamado "tremoço", a que melhor me familiarizei, alcunhando-os de "teimosos", por serem, realmente, insistentes. Não se pára!

Delícia de combinação: a cerveja, os tremoços, a conversa, a companhia e o sítio!

Ajustámos realidades, onde debitei ser brasileiro e que iria ficar nos Açores por pouco tempo, para muita pena minha!

Trocámos de números de celulares ("telemóveis", em Portugal), combinando um próximo encontro para mais uma conversa, num momento de oportunidade.

A sorte inclinou-se para o meu lado e, na manhã seguinte, toca o meu celular. Era a Ana a convidar-me para um lanche em casa deles, uma vez que a chuva e a humidade não estarem a dar grandes variedades de alternativas. 
Era um sábado!

Aceitei e encontrei-me com o Pedro, no local e hora combinados, onde me foi, simpaticamente, buscar.

Entro no carro e, logo depois estávamos parados em frente a um portão gradeado, que era a entrada para a casa.
Lanchamos na sala que tinha contiguidade com o alpendre, garantindo-lhe a aragem necessária para os dias em que se justificasse, como me foi explicado.

A amizade parecia já de longa data.

Bebemos cerveja açoriana que acompanhou uns esplendorosos  petiscos regionais, cuja combinação de aromas e sabores fizeram trepar o paladar até aos destinos menos comuns e mais apetecíveis.

Foram grelhadas morcelas (no Brasil pertencem à classe dos embutidos) de São Miguel, cuja descrição gastronómica prima pelo requinte do equilíbrio.

É tudo harmonioso.
A textura, o picante, a canela, o crocante da pele grelhada, o aroma, a impensável, mas surpreendente, ligação com o ananás, salpicado levemente com raspa de limão, por um lado. Por outro lado, o queijo fresco lambuzado de vermelho, por uma pimenta regional dos Açores, designada por Pimenta da Terra, como lambuzado de clareza, esteve a duração desse momento.

Degustei-me e deliciei-me com os petiscos (...) fiquei amigo do Pedro, da Ana e ... da pequena Rita.
Eles ficaram meus amigos.

A disponibilidade, a franqueza, a partilha, a nobreza das motivações, a relação, foram os insubstituíveis ingredientes de primeira linha. Adornaram, descontraidamente, o ambiente! Marcaram presença para o futuro!

Qualificações e sensações que, mesmo a imaginação, tem dificuldades em interpretar. 



Texto e imagens: Janiel Martins
São Miguel não deixa ser descrito!
Não se descreve, sente-se e vive-se!

Apenas alguns eleitos, dessa terra de grandes criadores (escritores, pintores, escultores, compositores, ...,), como me referiu a Ana, conseguem que o Arcanjo se deixe ludibriar, quando aludem à Ilha!

Saudosamente, Pedro, Ana e Rita!
Saudosamente, São Miguel! Ilha de São Miguel!

                                                                                                                                                   
                                                                           









sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

BATATADA NO FORNO

Ingredientes:

- 2 kg de batatas
- 0,5 kg de peito de frango
- 1 cebola
- 2 dentes de alho
- 1 pimentão / pimento
- queijo ralado q.b.
- açafrão q.b.
- sal e pimenta q.b.


Modo de preparação:


Lave bem as batatas e coze-as, sem retirar a casca, numa panela com água e um pouco de sal.
Escorra-as e deixe-as arrefecer.
Retire a pele a rale-as grosseiramente.

Corte o frango em tiras e, numa panela coza-o com um pouco de água, o alho, a cebola picada e o pimentão cortados em cubos.
Tempere com o sal, a pimenta e o açafrão.
Deixe cozinhar até a água evaporar.
Recheio pronto!

Cubra o fundo de uma assadeira com uma parte da batata ralada, sobreponha o recheio e cubra-o com mais uma camada de batata ralada. Repita o procedimento, ficando com 2 camadas recheio intercalado com a batata. Finalize com batata e polvilhe com a sua dose preferida de queijo ralado. Leve ao forno a 200 graus, para gratinar, deixando dourar ao seu gosto!

Aconchegante refeição para um dia qualquer!

Delicie-se e brilhe!
Decore com verde...o verde de São Miguel...!

Edição: Janiel Martins





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

LOMBO DE PORCO NO FORNO

Ingredientes:

- 1 lombo de porco
- Colorau q.b.
- 2 dentes de alho
- 1 cebola
- 2 folhas de louro
- Sal e pimenta q.b.
- Cravinho q.b.
- Azeite q.b.
- 1/4 de copo de vinho branco
- Batatas de assar
- Grelos de nado


Modo de preparação:

Numa assadeira de forno, misture os alhos picados, a cebola às meias rodelas, o colorau, o louro, o cravinho, o sal e a pimenta.
Uniformize, juntando os líquidos: o azeite e o vinho.
Esfregue bem o lombo neste preparado.    
Deixe apurar durante cerca de 1 hora.


Ladeando o lombo, coloque batatas inteiras, previamente bem lavadas e golpeadas a meio, sem as descascar.
Cubra com papel de alumínio, com a parte mais brilhante virada para os alimentos.
Leve ao forno a 180 graus, tendo o cuidado de retirar o papel de alumínio ao fim de cerca de 45 minutos.

Coza os grelos, a seu modo, sem desperdiçar os caules.

Sirva como bem entender ... é sua, a refeição!

Fonte da imagem: Janielson Martins


CAFÉ COM LETRAS - BARCELOS E O FIGURADO DE RUA

Barcelos é, indubitavelmente, uma cidade que se rege pelo cariz da exemplaridade.


Almocei, sem referências, num restaurante do centro da cidade, onde me degustei com uns rojões minhotos, por sugestão do garçon (como se diz no Brasil) ou funcionário (como se diz em Portugal) e, ..., "em Roma sê romano!" ..., que me estava a atender, ao se aperceber que eu era brasileiro. Notável sugestão, a dele!

... a cordialidade, a empatia e a simpatia tiveram, igualmente, lugar de pódio, tendo sido um merecedor de ouro durante todo o almoço ...

Fez as honras da casa ao me oferecer um dos muitos nobres e símbolos da Região do Minho e de Portugal - o Vinho Verde.
Bebi durante o almoço (aprendendo!) uma malga de vinho verde "batido" por ele. 
O vinho verde deve ser servido fresco e deixado cair de determinada altura para o vivificar na malga, advindo daí a expressão "batido".

A malga foi um delicioso requinte!

Na companhia dos invejáveis rojões (prato regional da gastronomia minhota) e do vinho verde, a refeição tornou-se demais agradável e, surpreendentemente, também pela companhia de um vizinho de mesa, que fez questão de me integrar nos meandros culturais da vinha e do vinho verde.

Após o almoço, terminado com um pudim regional e um café tirado na perfeição, despeço-me do meu parceiro de conversa e pago a minha despesa, já ao balcão.

A gentileza e simpatia do ambiente do almoço, deixou-me confortavelmente sorridente, assim como me fez sentir que em Barcelos ninguém é estranho. Todos integram a terra e todos estão convidados, por bem, a pertencer à cidade e à vida da cidade.

Enternecido com a genuína cordialidade e feliz com todo o momento, saí do restaurante ... garantindo-me que este almoço não ficaria apenas comigo. Teria que ser partilhado ... teria que ser contado, pela satisfação vivida!


Com tempo e sem rumo definido durante a tarde, viajei-me pela cidade, olhando, olhando, olhando e caminhando.
A tarde estava chuvosa. Contudo, nada que abalasse as garantias de conforto, a que esta cidade já me tinha habituado.

Reparei, mais uma vez, que, pelas ruas, praças, rotundas, avenidas, jardins ... enfim onde houvesse Barcelos, estava presente a sua gente. 
Aqui, nunca se está só!
Gente que recolhe do interior da vida, a matéria para ser iluminada. Gente que desenha e esculpe o figurado da terra, uma das suas maiores e douradas virtudes.
O povo está na rua, também pela via dos seus manifestos culturais, pelos seus representantes em figurado.
O figurado de rua, esculpido com a mestria do conhecimento ancestral e com o orgulho na modernidade. 
É o manifesto do poder popular transformado em arte.

Pelo figurado, senti a presença da íntima vida, exposta pelos espaços comunitários, pelos espaços do coletivo. 
Esplendor da criatividade nas relações entre pares.
Notável exemplo de manter a cidade nos seus cidadãos, devolvendo a existência barcelense a quem é barcelense e a quem recebe como um barcelense.
Qualquer pessoa é barcelense, quando está em Barcelos!






O figurado está na rua. 
São esculturas de Barcelos para o mundo, representações do concretismo e do imaginário, dos seus notáveis artesãos e artesãs. 






Em débito ... algumas fotos das esculturas que, não sendo apenas peças que decoram a cidade, são, sobretudo, preciosos brasões de identidade e grandiosidade de uma Gente:












Ilustre cidade ... um museu vivo e futuro.

Agigantou-se o figurado, simbolizando a monumentalidade do povo.

Uma experiência de vida comungada com a terra.

Congratulações por, de todas as vezes que estive em Barcelos, me terem obrigado a sentir-me um homem de Barcelos.




Nunca é excessivo, ...,  aludir a Barcelos!


Até breve e bem haja, Barcelos!





                       
      Fonte das imagens: Janielson Martins
  




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

LENTILHAS COM CHOURIÇO

Ingredientes

- Lentilhas (você manda!)
- Chouriço (o que entender)
- Cenouras (a seu prazer)
- Couve (a mesma dosagem dos anteriores)
- 1 cebola
- Alhos (2 generosos dentes)
- Polpa de tomate (2 colheres de sopa)
- Sal e pimenta q.b.
- 2 folhas de louro
- Azeite


Modo de preparação:


Tenha em consideração que as lentilhas não necessitam de ficar de molho, previamente à sua cozedura.
Previamente lavadas, elas cozem bem ao serem colocadas num tacho com água a ferver, durante cerca de 25 a 30 minutos.
Não coloque sal na água de cozedura das lentilhas. 
Para que as lentilhas possam ficar aromatizadas, misture o que entender. Estas levaram 2 folhas de louro, 1 dente de alho esmurrado e cenouras cortadas (sugere-se que não retire a casca das cenouras).
Escorra e reserve.

No mesmo tacho (passando-o apenas por água, para retirar eventuais restos de espuma) deite o azeite e a cebola picada. 
Adicione o chouriço, cortado à sua maneira, a polpa de tomate, a couve grosseiramente cortada (ou rasgada, consoante a sua necessidade de aliviar tensões!) e o sobrante dente de alho (picado).
Deixe a envolvência dos ingredientes acontecer, ajudando com umas carinhosas mexidas.

Depois de cozinhado, ponha o lume no mínimo e adicione o preparado das lentilhas.
Mexa, ternamente, de forma a que todos os elementos se conjuguem.
Apague o lume. 
Tendo em consideração que os enchidos já são temperados com sal, apure-se ao adicionar o sal e a pimenta moída na hora, ajustando temperos.

Sirva e felicite-se, acompanhando com uma colorida salada de alface e tomate, temperada como só você sabe ... !!!

As doses dos ingredientes serão por si ajustadas, consoante o número dos comensais e o respetivo apetite.
As lentilhas enobrecem pela sua fartura em fibras, vitaminas e minerais ... (também são proteicas!). 

Impressione, ... , é o seu mais recente sucesso!

Fonte das imagens: Janielson Martins 






terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - JORGE SÁ, UMA RETROSPETIVA

Grafite sobre papel, 1991, 40 X 30 cm
Jorge Sá
Natural de Santarém (Portugal)
Arquiteto


Referenciado em diversos locais do mundo, é portador-merecedor de vários prémios, menções honrosas e distinções que o caracterizam como um marco da imagem, tanto cinematográfica, como na pintura, na arquitetura e nas artes visuais no seu genérico.

Tendo tido o honroso prazer de conhecer alguns dos seus trabalhos de pintura, não poderia alhear-me de compartilhar o que de belo existe e o que de mais-valia está na essência do Homem - o ético belo!

Esta matéria centra-se no débito de uma parte do espólio de pintura (de um colecionador particular), do completo artista Jorge Sá, com que me familiarizei na minha última estadia na Europa.

Estes quadros, entre outros, foram expostos para um específico evento, em Braga (Portugal), que, majestosamente, permitiram a admiração de alguns trabalhos do artista, relativos ao período de 1991 a 2008.


Óleo sobre tela e infogravura, 1993, 40 X 30 cm




Tinta permanente sobre papel, 1993, 30 X 20 cm

 Óleo sobre tela, desenho e infogravura, 1994, 70 X 50 cm

Óleo sobre tela, desenho e infogravura, 1994, 60 X 50 cm



Lápis e pastel sobre papel, 1995,  29 X 21 cm



                          Lápis sobre papel, 1998, 25 X 20 cm                           
Acrílico sobre tela, 2003, 24 X 18 cm
Acrílico sobre tela,  2008, 40 X 30 cm


Acrílico sobre papel, 2008, 10 X 10 cm



Um investimento cultural que jamais se afastará.

Viajará comigo para o Brasil, onde será divulgada como uma coleção representativa do trabalho do artista que, seguramente deverá ser representado no nosso Brasilis.



Jorge Sá, arquiteto, cineasta, pintor, docente universitário, ..., congratulações nobres e devidas, ...! Deve ser partilhado ! Deve ser público !

A constância do equilíbrio manifesta-se no alongamento da verticalidade do traço, ... , 
... numa personalidade de elite !

Olhe! Deslumbre-se! Acompanhe com um vinho tinto português... !!! ...
... e converse sobre o assunto !

                                                                                                                                                              



Fonte das imagens: Janielson Martins











segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - CAFÉ DA MANHÃ EM SÃO MIGUEL


...   ...   ...
O sentimento era o de segura e fiel pertença.
Senti-me, de imediato, integrante membro familiar.
As agressões dos estímulos eram, melodiosamente inexistentes.
Tudo era suave, calmo, terno e genuíno. 
A força maior era a de cada palavra desconhecente da impaciência e da censura.
Nada era atropelo! 
Tudo era harmonia!
...   ...   ...

O Café da Manhã é a primeira refeição do dia e, em Portugal, tem a designação de Pequeno-Almoço.
Durante a minha, infelizmente curta, estadia em São Miguel, fiquei hospedado no interior do conforto que, em toda a sua plenitude, era, esse ambiente, transbordante de satisfação, melodia tranquilidade e cooperação. 


Não podia deixar de partilhar o que foi o meu despertar, na minha primeira manhã, em São Miguel.
Após um profundo sono restaurador, num aconchegante e idílico quarto, depois de desamparar as portadas das janelas, depois de deixar entrar o canto do dia solarengo, depois de me espreguiçar com o sorriso da segura certeza, depois de me despedir da noite, foi o duche morno e sedoso que me levou o bom dia, por mim já esperado, neste cenário de transcendência, onde apenas os benefícios da gula me atraía para os valores terrenos.
Desci as escadas, sorriu-me um bom dia, aromatizado com café fresco e dirigi-me para um outro sorriso que me chamava docemente.
Só teria que celebrar todos os momentos dessa manhã!

Sentei-me e olhei para tudo o que tinha para escolher.
Indeciso, optei por uma reconfortante malga que seria por mim apetrechada.
A malga, de loiça regional da Lagoa, como fiquei a saber durante a refeição, foi o estímulo para dar continuidade à conversa, já encaixada nos ânimos dos presentes comensais.
Percebi a dedicação pelos ofícios da Ilha, com a olaria a tomar as rédeas do assunto, obediente ao contexto.
É a loiça da Lagoa e a loiça da Vila (Vila Franca do Campo). Dois concelhos da costa sul da Ilha.
A loiça da Lagoa, pintada, vidrada, tem o seu cariz decorativo e utilitário.
A loiça da Vila Franca do Campo, ensaia-se, sobretudo, pelo registo de servir os usos domésticos, sendo de maior rudeza, não tendo o tratamento final de pintura e de vidrado, mas não menos considerada.
"Cada uma com o seu jeito", ouvi, num sotaque de delícia maior (sotaque micaelense).


Lancei mãos a uma dessas malgas de loiça da Lagoa, peguei numa maçã, imaculadamente lavada e brilhante.
Cortei-a, grosseiramente, sem a descascar, para dentro da malga.
Juntei uma generosa colher de divinal mel açoriano (mel de incenso).
Espremi um limão, aproveitando tanto o suco como a polpa.
Parti 3 nozes, tendo-as adicionado ao meu preparado.
Deitei 1 colher de sopa (bem cheia) de sementes de linhaça moída e inteira.
Não resisti ao coco ralado que clamava atenção. Foi uma colher dele!
Forrei com um notável e cremoso iogurte açoriano.
Mexi, calmamente! Mexi e perdi-me rodando a colher dentro da malga, tão suavemente que o movimento se tornou em mais um natural indutor de paz.

Numa varanda, protegida por um imponente e belíssimo muro de basalto, abrilhantado por grandes hibiscos amarelos, fez-se a refeição acompanhada por uma conversa digna de um Nobel da elegante serenidade.

Olhava, tanto para o momento como para o basalto. Negro basalto! Rocha de beleza infinita, naquela sua natural reserva, absorvendo e entranhando, no seu negro, as histórias e as conversas que vai vivendo, atentamente e silenciada.



O aroma do café fresco que incorporava o ambiente, passou a ser sabor ...



Um café da manhã na Ilha de São Miguel !

Um pequeno almoço na Ilha de São Miguel !

A Ilha do Arcanjo ! 



Fonte das imagens: Janielson Martins


domingo, 21 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - ILHA DE SÃO MIGUEL


SÃO MIGUEL
(Pormenores sentidos)

Açores
Portugal
Nesta minha última estadia na Europa, fui privilegiado com uma passagem pela 
Ilha de São Miguel, nos Açores, caracterizado por todo o Portugal, 
como a sua região de maior beleza.
A pouco mais de 2 horas de voo do Porto, aterra-se em Ponta Delgada, 
capital da Ilha de São Miguel - Açores.
Voo tranquilo, voo interno, mas com uma subtil e suave impressão de que 
a sub-tropicalidade era o destino.
Assim foram os meus sentidos!
De fato, ao aterrar em Ponta Delgada, logo nas escadas para descer do avião, 

as calças de ganga começam, levemente, a ficar comprimidas às pernas...


Senti que a minha existência estava a ficar mais próxima e conjugada com 
a coletiva existência humana.
Este sentimento, de origem comum, foi-se incorporando de tal forma que, 
no dia seguinte, ao me deparar a integrar o cenário da Caldeira Velha, 
na encosta do pico vulcânico que alberga a Lagoa do Fogo, senti-me a 
comunhar com um ambiente jurássico, tal a monumentalidade 
da beleza e da desconcertante surpresa de integração.


Descrever São Miguel, sem sentir a Ilha, é mentir!
Enquanto brasileiro e como brasileiro nordestino, aludirei, aos meus sentidos 
da forma mais direta e frontal que me for possível, tal como a 
frontalidade da essência do Sertão do Nordeste Brasileiro!
                                                                                      Assim: 

Terei que tentar relatar, da forma mais próxima dos meus sentimentos, 
face a esta notável nobreza que os deuses (deve ter sido trabalho de todos!), 
num dedicado dia de inspiração, ofereceram ao mundo.
... Fiquei, de imediato, açoricodependente. 
Assustei-me com a pureza e a densidade deste sentimento.
... Descobri, para meu alívio, que a açoricodependência não seria uma doença, 
mas sim uma paixão!
Senti a açoricodependência, mas só a identifiquei quando saí da Ilha, 
de regresso ao Porto.



Fiquei preso à Ilha, ao sair dela! 
Ela é, determinantemente, uma paixão! É uma fusão com um território ilhéu, 
onde se conjugam os elementos primeiros: água, fogo, ar, terra.
É uma equidade de existência, é o ser a mesma coisa, é o estar intrincado 
no espaço e o espaço intrincado no ser.
Sem refletir, rendi-me às emoções ... passei a estar apenas a sentir. 
Senti que não existiam matrizes prévias de valorização, a não ser a adesão 
incondicional, brutal, maciça e imediata a tudo o que é estímulo açoriano, inerente 
a este constante estado fusional, eterna, abrangente e saborosa dependência. 
Neste enquadramento existencial passa apenas a existir a alimentadora 
estimulação, misturada com a angústia e dor da consciência da 
separação física da dualidade tatuada - ilha/homem.
Não interessa a editora, não interessa o escritor, 
não interessa o artista, não interessa o documento ou o documentário, 
não interessa o canal televisivo, não interessa a estação de rádio, jornal ou 
coleção de postais ou mesmo as próprias fotos tiradas ... !!!

   
   Interessa, tão só, ouvir a ânsia de estar novamente na materialização desta
dependência, na reativação  dos sentidos existentes e inventados da textura do mar, 
da felicidade do basalto, da irrequieta magia sísmica e vulcânica, 
da essência genuína da gente, na exaltação da total pertença a essa Ilha, 
certamente ao Arquipélago dos Açores.
Indubitavelmente, não se pode fugir de São Miguel, esta pujante e nobre terra. 


 A Ilha entranha-se corporalmente, ...,  comandando!
Não são experiências turísticas ... é Vida! Vida que, 
muito brevemente será outra vez vivida.



Sem retorno na existência. Nunca mais se fica igual!

               Ilha nobremente pujante! Tatuaste-te na minha alma!


Açores, até breve ... muito breve!

Gratidão profunda a São Miguel.
Gratidão profunda e antecipada às 8 Ilhas que ainda não senti!

Texto e imagens: Janiel Martins