Nesta minha última estadia na Europa, fui privilegiado com uma passagem pela
Ilha de São Miguel, nos Açores, caracterizado por todo o Portugal,
como a sua região de maior beleza.
A pouco mais de 2 horas de voo do Porto, aterra-se em Ponta Delgada,
capital da Ilha de São Miguel - Açores.
Voo tranquilo, voo interno, mas com uma subtil e suave impressão de que
a sub-tropicalidade era o destino.
Assim foram os meus sentidos!
De fato, ao aterrar em Ponta Delgada, logo nas escadas para descer do avião,
as calças de ganga começam, levemente, a ficar comprimidas às pernas...
Senti que a minha existência estava a ficar mais próxima e conjugada com
a coletiva existência humana.
Este sentimento, de origem comum, foi-se incorporando de tal forma que,
no dia seguinte, ao me deparar a integrar o cenário da Caldeira Velha,
na encosta do pico vulcânico que alberga a Lagoa do Fogo, senti-me a
comunhar com um ambiente jurássico, tal a monumentalidade
comunhar com um ambiente jurássico, tal a monumentalidade
da beleza e da desconcertante surpresa de integração.
Descrever São Miguel, sem sentir a Ilha, é mentir!
Enquanto brasileiro e como brasileiro nordestino, aludirei, aos meus sentidos
da forma mais direta e frontal que me for possível, tal como a
frontalidade da essência do Sertão do Nordeste Brasileiro!
Assim:
Terei que tentar relatar, da forma mais próxima dos meus sentimentos,
face a esta notável nobreza que os deuses (deve ter sido trabalho de todos!),
num dedicado dia de inspiração, ofereceram ao mundo.
... Fiquei, de imediato, açoricodependente.
Assustei-me com a pureza e a densidade deste sentimento.
... Descobri, para meu alívio, que a açoricodependência não seria uma doença,
mas sim uma paixão!
Senti a açoricodependência, mas só a identifiquei quando saí da Ilha,
de regresso ao Porto.
de regresso ao Porto.
Ela é, determinantemente, uma paixão! É uma fusão com um território ilhéu,
onde se conjugam os elementos primeiros: água, fogo, ar, terra.
É uma equidade de existência, é o ser a mesma coisa, é o estar intrincado
no espaço e o espaço intrincado no ser.
Sem refletir, rendi-me às emoções ... passei a estar apenas a sentir.
Senti que não existiam matrizes prévias de valorização, a não ser a adesão
incondicional, brutal, maciça e imediata a tudo o que é estímulo açoriano, inerente
a este constante estado fusional, eterna, abrangente e saborosa dependência.
Neste enquadramento existencial passa apenas a existir a alimentadora
estimulação, misturada com a angústia e dor da consciência da
separação física da dualidade tatuada - ilha/homem.
separação física da dualidade tatuada - ilha/homem.
Não interessa a editora, não interessa o escritor,
não interessa o artista, não interessa o documento ou o documentário,
não interessa o canal televisivo, não interessa a estação de rádio, jornal ou
coleção de postais ou mesmo as próprias fotos tiradas ... !!!
não interessa o artista, não interessa o documento ou o documentário,
não interessa o canal televisivo, não interessa a estação de rádio, jornal ou
coleção de postais ou mesmo as próprias fotos tiradas ... !!!
Interessa, tão só, ouvir a ânsia de estar novamente na materialização desta
dependência, na reativação dos sentidos existentes e inventados da textura do mar,
da felicidade do basalto, da irrequieta magia sísmica e vulcânica,
da essência genuína da gente, na exaltação da total pertença a essa Ilha,
certamente ao Arquipélago dos Açores.
Indubitavelmente, não se pode fugir de São Miguel, esta pujante e nobre terra.
A Ilha entranha-se corporalmente, ..., comandando!
Sem retorno na existência. Nunca mais se fica igual!
Ilha nobremente pujante! Tatuaste-te na minha alma!
Ilha nobremente pujante! Tatuaste-te na minha alma!
Gratidão profunda e antecipada às 8 Ilhas que ainda não senti!
Texto e imagens: Janiel Martins
Uma beleza de descrição, uma genuína transposição de sentimentos para um texto.
ResponderExcluirIndubitavelmente, uma narrativa poética de excelência.
Literatura pura.