domingo, 2 de fevereiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - RACHADURAS CEREBRAIS


RACHADURAS CEREBRAIS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

A terra racha-se com a falta da água no chão do Sertão.

Eu racho-me de emoções que não sei viver.
Não saber viver é um vazio, é destruturação cerebral.

Onde nos buscamos? 
Viver é para a morte.
Onde está o intervalo da vida?
Eu quero pausar e voltar depois.
A palavra é bonita.
Tudo demais é loucura.
Menos a ilusão.

Eu acho que a tristeza é o medo da morte.
E acho que o sexo é raiva da morte.

Dividindo a vida em texto:
Inocência...
Nada se sabe mas faz-se de conta que sim...
Resignação...
A ferrugem cerebral corrói.

Iludir é o tesão da vida.





ESCREVER SEM GRAMATICAR
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aprendi a respeitar o texto sem a pressão e a força da gramática.
Pensei, sempre, que não era admissível fazê-lo.
Sei, hoje, que sim.
Faço-o.
Tenho uma gramática personalizada.
Tem nome.
Digo-o mas não o escrevo.
Uso-a em liberdade.

Escrevo… escrevo o que sinto e avalio em mim e no que vejo.
A minha gramática dá corpo à alma que digo em escrita. 
Acho que é a minha forma de prazer, em pleno, de comunicar.
Aprendi que comunicar em texto é possível sem "saber escrever".
A gramática é uma convenção.
Escrevo do jeito que sinto e penso.
O (meu) lápis chama-se sentimento.

A (minha) borracha chama-se pensamento.



Edição: Paulo Passos