domingo, 16 de setembro de 2018

CAFÉ COM LETRAS - O DEFUNTO FALANTE



O DEFUNTO FALANTE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

o que esse tróce veio fazê aqui!
ele tava tão bem.
mas pia só o que ele tá falando.
tá falando di eu?
seu Geraldo ficou foi me devendo duzentos real!
e o pior de tudo é que ninguém sabia.
ele morreu de que horas mêmo?
meio dia e meio.
e foi de quê mêmo?
uma dô no meio do peito.
bem que eu escutei o galo cantá.
bem por essa hora.
quero ver o caningado falar do meu dinheiro.
ele era um cabra bom.
ele ficou devendo a alguém?
que eu saiba não.
dizem que a alma fica penando na terra se o cabra tiver dívida.
e ainda o defunto vem puxá o pé do cabra.
mas pia só como é atrevido...!
vamos enterrá de que horas?
e ainda qué jogá areia di eu.
na boquinha da noite.
deixa eu jogá as primeiras três pás de terra.
Geraldo, não é para você enterrá o defunto sozinho não!
Se não ele vai puxá o meu pé.

Edição: Paulo Passos