quarta-feira, 25 de julho de 2018

CAFÉ COM LETRAS - CALL ME BY YOUR NAME


CALL ME BY YOUR NAME


CHAMA-ME PELO TEU NOME


ANDRÉ ACIMAN

LUCA GUADAGNINO


"(...) Vocês tinham uma bela amizade. Talvez mais do que uma amizade. E invejo-te por isso. No meu lugar, a maioria dos pais gostaria que tudo isso desaparecesse, ou que os filhos esquecessem o que se passou. Mas não sou esse tipo de pai. Se houver dor, cuida dela, e se houver chama, não a desprezes, não sejas brutal com ela. A abstinência do que gostamos pode ser algo terrível quando nos deixa acordados, durante a noite, e ver como os outros se esquecem de nós mais depressa do que gostaríamos de ser esquecidos não é melhor. Arrancamos tanto de nós próprios só para nos curarmos das coisas, mais depressa do que deveríamos, que entramos em falência por volta dos trinta anos e temos menos para oferecer de cada vez que começamos com alguém novo. Mas tentarmos não sentir nada, porque temos medo de sentir alguma coisa? Que desperdício!
Não conseguia assimilar tudo aquilo. Estava estupefacto.
- Falei do que não devia? - perguntou ele.
Respondi que não com a cabeça.
- Então, deixa-me dizer mais uma coisa. Vai ajudar a esclarecer tudo. É verdade que estive perto, mas nunca tive o que tu tiveste. Havia sempre algo a travar-me, ou que se metia no caminho. Como irás viver a tua vida só a ti diz respeito. Mas lembra-te de que os nossos corações e corpos só nos são dados uma vez. A maioria das pessoas não consegue evitar viver como se tivesse duas vidas, uma é a maquete, a outra, a versão finalizada, e depois há uma série de versões pelo meio. Mas a verdade é que temos apenas uma vida, e antes de que te dês conta, o teu coração está gasto, e, quanto ao teu corpo, chega uma altura em que ninguém olha para ele, e cada vez menos gente se quer aproximar de ti. No presente há tristeza. Não invejo a dor. Mas invejo a tua dor.
Respirou fundo.
- Pode ser que nunca mais falemos disto. Mas espero que não me condenes por o ter feito. Teria sido um péssimo pai se, um dia, tu quisesses falar comigo e a porta estivesse fechada. (...)"


Excerto do livro: CHAMA-ME PELO TEU NOME, André Aciman


Livro: André Aciman

Filme: Luca Guadagnino


Edição: Janiel Martins
Imagens: internet