sexta-feira, 16 de setembro de 2016

SUSTENTO DA ALMA - IMPÉRIO DO REBANHISMO



Ancorados a arcaicos determinismos sociais, estamos impedidos de consciencializar e tornar o acto de vontade e de optar, em manifestos livres.

A deterioração e a cristalização da decadência e da dependência, na sua fiel submissão ao carneirismo, coadunam-se na consolidação do podre,
 da involução e da paralisia da criatividade.
É o império do rebanhismo ...!!!



A inconsciencialização das regras e valores que estão na subjacência e influência das matrizes de pensamento, são de tal forma ferradas que obstaculizam a decisão tanto do pensar como do agir, condicionando-os aos meandros e balizamento do que 
não se desregra em determinado grupo referencial e integrativo.



No Portal dos Psicólogos (www.psicologia.pt), no link abaixo debitado, está um texto em formato de narrativa romanceada, estando plasmadas, contudo e indubitavelmente, 
as justificativas do título desta matéria.



"Psicologia e Putrefacção Social" - título de mais um artigo digno de louvo e de obrigatoriedade de dever, do psicólogo Paulo Passos, já várias vezes citado neste blog.

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?psicologia-e-putrefaccao-social&codigo=AOP0399&area=



" PSICOLOGIA E PUTREFACÇÃO SOCIAL

Paulo Passos

            O quotidiano de Olívia e Toninho não trouxe novidades de maior a nenhum, após o casamento.
Toninho continuava a achar piada às reactivas de Olívia e às suas formas de apreciar. Continuava a rir da mulher e a rir com ela.
Olívia, não sentia necessidade de ter que sentir alguma coisa mais, só pelo facto de estar casada, pelo menos em casa.
Nisso ela era bastante prática, sabia escolher os ambientes para se exigir.
Viviam na casa de Olívia, oferecida como prenda de casamento, pelo pai, por sugestão da mãe Rosalina.
Para Toninho não tinha significado de maior. Tinham que morar nalgum sítio, pagando eles ou não.
Ficou resolvido.
Ficou resolvido mas com o cumprimento do acordado entre os agora, marido e mulher. Nada e muito menos a casa, seria escolhido ou tinha interferência de Rosalina.
Rosalina só podia oferecer coisas que fossem quebráveis! Riam.
Não se imaginava a viver num cenário de teatro de revista.

Tinha muitas mais certezas sobre o que não queria e não gostava do que o contrário.
Toninho era intransigente em poucas coisas. Era, literalmente intransigente, com a falta de senso.
Interrogava-se sempre, até com alguma agressividade, quando percebia que, sendo o senso-comum o esquema mais elementar do funcionamento humano, como era possível este falhar? Só se se deixasse de ser gente?
A falta de senso estava muito enraizada e impedia a autocrítica.
Impedindo a autocrítica impede-se a evolução.
Estagna-se.
Impedindo a evolução mantem-se o primarismo.
Estagna-se.
Toninho, nestes pensamentos chegava a ver meia dúzia de hominídeos de gravata e saltos altos, num quotidiano de satisfação e sem a menor qualificação e competência avaliativa.
Era visceral o asco que sentia, relativamente a certos manifestos, designados por culturais. Cultura não é nada disto! Reforçava-se.
Sentia vergonha acima das suas capacidades de controlo, quando se dava de frente com a televisão emitindo um desses programas que ele tanto temia.
A revista à portuguesa encimava a lista, logo seguida pelas touradas, bem como por tudo o que envolvesse animais ao serviço de patetices.
Sempre tinha lidado com animais, cresceu no meio deles e cresceu apreciando os constantes flagrantes de nobreza que deles advinham, sobretudo em tudo o que concerne à ternura. Apaixonava-os e entendia-os.
Não era um homem com orgulho patriota.
Pouco lhe dizia a selecção nacional de futebol ou outras. Os símbolos nacionais também não mexiam com ele. O orgulho nacional era um limite que lhe tendia para zero, nos bons dias!
O fado (ou enfado! Como por ele referido, quando se intentava na convicção) era mais uma desgraça que fazia congelar Toninho, só de imaginar que se podia cruzar com essa brejeira e pobre lamúria guitarrada em qualquer esquina. Na sua versão de gingão, o fado era um atropelo para Toninho. Dizia ele: “essa coisa, designada por fado gingão, arrasta em si um jogo de cintura e um tremer de cabeça, que se exibe apenas com plateia, seja real ou imaginada, nunca sendo um manifesto genuíno, mas tão só um ordinário manifesto camuflador das incertezas viris. A mulher masculiniza-se, quando o canta, tentando, infrutiferamente, substituir o amargo cinzento por um leque de cores que nunca por cá existiu”!
Era a rendição perante o pessimismo e o fatalismo dos perdedores.
Era a portugalite, era a infecção do país, travestida de lantejoulas abandonadas pelo brilho.
O queixume justificava a existência quando esta não existe! Era o queixume no seu formato de alimento. De tóxico alimento! Era o leite materno fora de prazo. Era a paralisação chorosa e sentida da fome, satisfeita por lágrimas. Era o sorriso da pequenez. Era o elogio da permissiva dor nacional.
Toninho criticava vivamente a falta de pensamento avaliativo, o parasitismo e a desqualificação.
A rapaziada das televisões; os formatos de linguagens; os sotaques; as novelas; os espectáculos; os actores e actrizes de curso intensivo (ou de nenhum, a adicionar ao vazio das aptidões e vocações para esse fim); os jurados e juradas de concursos; as pequenas e os pequenos (independentemente da idade e do aspecto) a repetirem exaustivamente números de telefone em mendiga alusão ao consumo; as clonagens dos cabelos; dos trajes; das poses e dos chavões; o desespero e o pânico de um eventual dia mais sem um momento de protagonismo; o ar para-descomprometido e para-descontraído de alguns, em que impõem corporalmente que, estar escarrapachado numa cadeira, qual espreguiçadeira, é sinal de profissionalismo. Enfim, tudo o que, deste pobre e insano calibre existisse, Toninho repelia.
Repelia também, todas as manifestações de solidariedade, exibidas pela comunidade televisiva. Acartar feridas individuais para público tirava Toninho do sério. O aparato criado pelos outros, só se justificava enquanto aguardassem a sua vez para o desvalido, mas apreciado, estrelato da dor.
 Misericórdia! Toninho sempre acreditou que o sofrimento não é para ser sofrido nas televisões. Se tem horário de emissão não é sofrimento.
É como haver listas de espera para parir.
Folgava em saber que havia muita gente que não queria, nem mortos, ir para a televisão sofrer.
Ria, mas com certa preocupação, pensando nos exemplos a repudiar.
Gostava de aconselhar, sempre que estava com amigos, para se ter cuidado com as vocações, para não se correr o risco de ser recrutado para uma televisão.
A desqualificação era, até ao tutano, intolerada por ele. E a desqualificação massiva, sendo a dominante e a que mais rapidamente se reproduz, destrói futuros, presentes e passados. Está a invadir tudo! É praga e de dimensões epidémicas!
Ficou adepto de quem ia viver para o estrangeiro. Sentia-se libertado com mais uma levada de gente a ir trabalhar para fora. Sentia que mais alguns estavam a ser poupados à exploração e à gatunagem. Sentia que eram mais alguns poupados à corrupção. Sabia que alguns iriam ter oportunidades de qualificação, não se deixando embrutecer pela trivialidade da cidadania em off.
Sabia que a realidade não era assim tão doce, mas sentia e sentia alívio.

Sempre se confraternizou com o elevado valor do altruísmo e do gregarismo.
Não se queria deixar adormecer pelos princípios acríticos desta gente e desta funcionalidade. Destes protagonistas, escapavam poucos. Muito poucos!
Chegou uma vez a perguntar, no hospital onde trabalhava, quem eram algumas das pessoas que tinham escrito alguns dos livros que se encontravam entre os mais vendidos, que via nas livrarias.
Tinha clara noção que esta classificação, a ser verdadeira, só podia ser um incentivo à compra. De outra forma não via sentido.
Sabia que os nomes estavam em português, mas não sabia quem eram os corpos desses nomes. Tudo se agravava, severa e irremediavelmente, quando a capa do livro era uma fotografia da pessoa que o tinha escrito. Nestes casos, pensava Toninho, o arrojo e a pouca vergonha ultrapassavam o egocêntrico narcisismo, na sua pior flagrância. Agravada pela indecência com que, descaradamente, faziam a difusão das responsabilidades, referindo que tal decisão tinha sido alheia à vontade do próprio ou da própria. Misericordiosa pobreza!
Não se pasmava com isto, era por mera informação, pois era sabedor que a leitura não sendo prática corrente por aqui, o número de exemplares vendidos não podia ir além do número de dedos de uma mão. Mais ou menos isso! Não era preocupante. Se as vendas forem muitas, há sempre a possibilidade de se desconfiar que foi o próprio autor a comprá-los. Faz sempre jeito, para os presentes de aniversários e de outras festividades.
Os outros, os de ler, nunca estão a concurso, continuava o pensamento. Sim, os livros de merecimento, pensava Toninho.
Ler, concluía como se o seu pensamento fosse audível, não é só saber identificar, decifrar e interpretar um palavreado escrito.
Ler não é apenas a aquisição de material informativo.
Ler é injectar sentimentos na informação decifrada.
Ler é crescer.
Ler também é interpretar-se, porque se interpretou. Interpretar e em gáudio.
Ler é sentir e sentir-se.
Ler encaminha o indivíduo a si próprio. Torna-o gente. Confronta-o e prepara-o para receber o outro.
Ler é altruísmo porque é pensar o outro.
Ler serve para despertar sentimentos e mover actualizações de pensamentos.
Ler serve para tornar infinitas as sensações.
Ler desmonta preconceitos e formas rígidas e passivas de sentir.
Ler é trabalho, é produção de gente.
Ler é renovação e é mudança.
Ler é um anti-estagnante e um desenferrujador na sua mais potente forma.
Ler é contrário à paralisante ordem social das coisas.
Ler move percepções.
Ler é lutar contra à mansidão e o conformismo, onde livro é a arma de guerra.
Ler, se para aí se está, ou se pode estar, virado, não é ler o manual de instruções da televisão nova.
Contudo, ninguém lê! Pensava franzindo a testa como que resignado! Como mudar? Questionava! Generalizando, ler os TOP(s) e os semelhantes familiares, não é ler! Só se fossem os TOP(s) de outro povo, rematava com uma ligeira ruborização. Ajustou-se, alastrando o mal para muito além dos TOP(s) e, esforçou-se, tirando um ou outro desse ranking livresco!
Quando não se lê, obviamente, só se pode gostar de televisão. Prioritariamente, mas não em exclusivo, dos apresentadores e apresentadoras dos programas de entretenimento (assim designados), em feroz competição para verem quem grita mais, quem gargalha mais desbocadamente, quem mais alto fala e quem mais e melhor cacareja e papagueia.
Isto, numa versão, sendo a outra, igualmente calibrada pela mesma qualificação, a que usa a alternância, traduzida por um ar piedoso da criatura que apresenta, alternado por uma satisfação sorridente e corpo saltitante, induzida por um jogo a dinheiro, que tanto pode ser ganho no estúdio como em casa assistindo sentado no sofá, com o telefone ao lado.
Em todo este povo há o hábito de não perderem uma oportunidade para falarem de si ou dos seus convincentes e experientes pontos de vista, transformados em contributos para a certeza (pela via de o “…eu por exemplo…”! Transformam-se, imediatamente, em modelos exemplares!).
Há também os programas, em que os prémios vão para quem mais sofre e tem a vida mais escavacada, desde que a exponha em público.
A desgraçada da mulher, que ainda agradece por estar na televisão a debitar todas as desvalias da sua vida, em escala pormenorizada, lavada em lágrimas (que também aconchega a cena), cheia de dívidas; os filhos humilhados na escola; o marido desempregado; o frigorífico vazio; o sogro cego a seu cuidado; as moléstias sem darem tréguas; os dentes todos cariados; água e electricidade cortadas; o senhorio diariamente à porta; ter que aturar as meninas da assistência social a vomitarem ameaças e moralismos (tão fácil de fazer com as mazelas dos outros!), fingindo que estão em franca protecção para com os menores,…, não é suficiente para fazer calar quem está a entrevistar! Decididamente que não! Além de ainda ter que ouvir um sábio conselho (invariavelmente na forma de “…mas é uma mulher forte e de coragem, que eu sei…aplausos aqui para a nossa Maria, por favor…”), ainda tem que participar na alusão à glorificação da miséria, do sofrimento, da sujeição e da pobreza, através das palmas.
Aplaudir a penúria dos outros.
Ganhar dinheiro à custa da miséria dos outros.
Os bons e aliviantes conselhos dados, acompanham-se de um fabricado ar de lamento, esgalhado pela moça ou moço do programa, mas logo esquecido pelo entusiasmo contrastante com que debitam, num sorriso patético, mais duas ou três vezes o número de telefone, já decorado pela plateia que também repete em coro e aplaude. Lasca Toninho!
Maldita fraqueza que impele o povo a tanto exercitar o terrífico, pobre, primário e egocêntrico narcisismo! Acrescentava, pedindo, um pouco que fosse, de bom senso! Desiludia-se sabendo que estava a pedir muito!
Lembrou-se que o rol não termina no pessoal do entretenimento. Há muito mais!
Aliviou-se, rindo-se da coincidência, quando pensava no povo que, na televisão, revistas e afins, comenta a vida dos outros, esmiuçadamente em todos os pormenores, à excepção da inteligência altruísta e da humildade que não têm, apesar de lhes serem feitas alusões.
A gravidade assume caracterizações dantescas quando se atrevem a publicar (o que chamam livro) os próprios mundos narcísicos, adornados com um parecer altruísta.
O problema também passa por existirem editoriais comparsas com a industrialização e comercialização do mau. Desde que dê lucro!
Isto é a quantificação do nada. Em valor real é a ode ao vazio. Continuava Toninho!
Um empate a esta gente toda, na maioria das vezes é o justo, arbitrava ele. 
Será que está justificada a imagem recorrente que tem, quando pensa nestas coisas? Lá lhe apareceu novamente a imagem de alguns hominídeos de gravata e de saltos altos! Apetrechados, agora, de um livro, nunca aberto, debaixo do braço.
Tinha sido uma construção de pensamento!

Na rua, a história era outra. Fora de casa, Olívia queria e gostava de ser casada.
A sua vida profissional dava-lhe liberdades de tempo para as futilidades de que gostava.
Sabia bem como tirar proveito disso.
Não perdia tempo, como o marido, preocupando-se. A vida dela era para ser vivida e por ela, dizia cantarolando.
Enquanto Toninho se embrenhava nas suas questões de cidadania, Olívia entretinha-se com as dela.
Andava ocupada com a escolha de roupa para o aniversário de uma conhecida, que ela designava por amiga.
Toninho raramente acompanhava a mulher nos programas dela.
Ela, em abono da verdade, apenas gostava de confirmar que era sabido que ela era casada com ele. Não fazia guerra por não aparecerem juntos. Até preferia assim.
Gostava de ser fotografada juntamente com o mulherio que funcionava como sua referência, para se ver e admirar numa revista qualquer especializada nos assuntos da sua valorização ou nos assuntos da nulidade, no dizer de Toninho.
Fazia sempre questão de dizer que era casada.
Olívia gostava, particularmente, dessas fotografias onde estão as moças todas de três quartos, mais ou menos encaixadas umas nas outras, com o habitual jeitinho de pé para o charme, desalinhadas por cima porque umas são mais compridas e outras mais rasteiras.
Sem ser através dos comprimentos e dos volumes, é difícil fazer-se a identificação, ria-se Toninho, quando Olívia chegava a casa já com a página da revista aberta, onde estava a fotografia com ela e as conhecidas.
Ela gostava de ler o seu nome na legenda da fotografia, junto com alguns nomes com que ela lambuzava o seu ego.
Riam-se, sem que ele desviasse os olhos do que estava a ler, quando ela lhe contava, sentada no braço do sofá onde ele estava, que fulana ou sicrana já há meia dúzia de anos que não passava dos 29 anos.
Para esse povo, o problema da idade era tão grande quanto o da solteirice, finalizava Toninho, dando o indicativo que já não queria ouvir mais.

Com o nascimento de Maria Teresa, Olívia ficou grata a tudo o que fosse santa e santo.
Toda a gravidez foi vivida, contrariamente ao que temia Toninho, com toda a normalidade.
Ele chegou a ouvir Olívia dizer, ao telefone, que gravidez não era doença.
Devia estar a conversar com outra mulher, daquelas que ela gostava de estar horas ao telefone para dizerem coisa nenhuma.
Só podia ser!
As outras, não querem ter registos destas existirem! "



Sê sempre o meu presente, Paulo.

Janiel

Fonte das imagens: Janiel Martins








quarta-feira, 14 de setembro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - FADAS MADRINHAS NO MASCULINO



MADRINHAS NO MASCULINO
(Janiel Martins, RN / Brasil)

Afáveis de interioridades
Aderentes na facilitação
Esta, que é de selecção
Selecção com ELEIÇÃO

Honrados desígnios emanam
Postulados de CARINHO
Incondição e Aceitação por si
Incondição e Aceitação de mim

São duas ... duas fadas
Retinadas para o abraçado
Madrinhas no MASCULINO
São sim ... em comunhado 

Gostoso no ancorado
Seio pai ... seio de um XÊRO
Xêro que faz fungadinho
No pescoço ou por inteiro

Mariano em UMA
Uma celebrante
Correia em OUTRA
Outra celebrante por igual

Tatuaram-se-me em honras
Honras de cristalinos prazeres 
Gratidões de maturância nevadas sobre mim
Masculinamente MADRINHAS ... lídimo senti. 



Madrinhas ... e pêras ...!!!



Uma beterraba cortada em cubos num tacho com água.



Pêras descascadas e na calda mergulhadas.

No fervente, apenas uns dois ou três minutos.



 Junte uma estrela de anis e malagueta, sendo esta opcional.

Fogo desligado.

Arrefecimento natural, de modo a que as pêras absorvam a tonalidade do caldo.

Guarde a beterraba para um posterior cozinhado ... que se lembre.


Polvilhe as pêras com chocolate ralado na hora.

Salteando com nozes.




Flutue pela limpidez do anis ... ancorado no crocante das nozes,

no tesão do chocolate apimentado e na trincada pêra.

Completo completo completo ... só com uma em cada mão ...!!! 


Fonte das imagens: Janiel Martins



domingo, 11 de setembro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - RN / BRASIL, FONTE DOS VERSOS

Fonte da imagem: Janiel Martins

RIO GRANDE DO NORTE / BRASIL

 FONTE DOS VERSOS

Fonte da imagem: Janiel Martins


(Fonte informativa da lista de autores (google):
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grande_norte/rio_grande_norte.html)

POETISAS E POETAS  

RIO GRANDE DO NORTE













Fonte da imagem: Janiel Martins


Alguns trovadores ... com a humildade e a igual representação de 


TODOS os trabalhadores

da(s) Palavra(s), das (des)Rimas, (des)Métricas e (a)Simetrias,

dessas Palavras e Versos escritos e trovados com Liberdade e Sentir,

paridos por este e neste, como legados, Estado do Nordeste do Brasil,

RIO GRANDE DO NORTE 



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Auta de Souza, RN / Brasil (1876 - 1901)
Fonte da imagem: google.



CAMINHO DO SERTÃO
 (Auta de Souza, RN / Brasil)

Tão longe a casa!... Nem siquer alcanço
Vêl-a, atravéz da matta. Nos caminhos,
A sombra desce... E, sem achar descanço,
Vamos, nós dois, meu pobre irmão, sosinhos!

E' noite, já! Como, em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.

Brilham estrellas... Todo o céo parece
Rezar de joelhos a chorosa prece,
Que a Noite ensina ao desespero e à dôr...

Ao longe, a Lua vem dourando a treva,
Thuribulo immenso, para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor. 


NOITES AMADAS   
(Auta de Souza, RN / Brasil)

Ó noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;
 
Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!
 
Vós sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua...
 
Ó noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!

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Miguel Cirilo, RN / Brasil (1936)
Fonte da imagem: google.

DOIS MENINOS
(Miguel Cirilo, RN / Brasil)

estão ao lado um do outro,    
juntos, colados no chão.
achados de pouco em pouco,
são dois: cosme e damião.

retenho-os breves no ar,
enquanto cor aderência:
porém, livrá-los não há
da madeira consistência

quem se demora nos dois
vê que foram trabalhados,
um antes, outro depois:
pelos detalhes usados,
a hora que os sabe mortos
vem com — estando com sono
— ouvi-los: rumor de corpos,
sem dentro, ocos, sem sumo.

são vivos unicamente
do modo como os aceito:
unidos supostamente
no ar do quarto desfeito.

—" não a ambígua face
do deus: já tenho quase
com que moldar o morto
à sua própria imagem.

—não em precário espelho,
o outro: me contento
com apenas o modelo
—o que se tem detento.

(o reino é tão de treva
que — só temor e sono,
não sabe o rei que vela,
talvez, o próprio trono).

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Nei Leandro de Castro, RN / Brasil (1940)
Fonte da imagem: google.
O BAIRRO DAS ROCAS
(Nei Leandro de Castro, RN / Brasil)

- O povo das Rocas é visto
pelo galo, ao amanhecer.
A manhã ali se põe
De pé antes de querer.

Ou seja, ali a manhã
não mais serve ao seu fim:
em vez de acordar, acorda-a
o mestre Valentim.

No cais do Canto do Mangue
é água mansa do rio,   
apenas arrepiada
por uma onda de frio:

a pele cortada pela
lâmina corrente de ar
que sobre o dorso das águas
desce da noite do mar.

Dali os veleiros partem
todos a uma só hora
e transpõem a barra antes
que a transponha a aurora.

A mulher que permanece
não espera pelo homem.
E tudo tão rotineiro
como sua antiga fome

ou como o feto anual
que intumesce seu ventre
ou ainda como a morte '
de um tísico, seu parente.

Meninos sujos, sem cor
definida, fazem festa
nas poças frias de lama
da Rua da Floresta.

O galo da torre, olhando,
humanamente tece
um canto rubro de amor
às crianças., Mas permanece

porque feito de metáfora 
silente, na altaneira
torre cinza de azulejos.
E depois olha a Ribeira.  


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Paulo Augusto da Silva, RN / Brasil (1950)
Fonte da imagem: google.

ATENTADO AO PUDOR
(Paulo Augusto da Silva, RN / Brasil)

Para prender-me
a polícia
por a-tentar
— o pudico e ávido
público
termina por decifrar
a mensagem
dos órgãos de segurança
sexual
e mergulha
sob as cobertas
          comigo.
Deliciosamente infratores
simultaneamente
gozamos
entre relinchos, unhadas,
beijos e coronhadas.


VIDA - MEDO
(Paulo Augusto da Silva, RN / Brasil)

Olho para ele embevecido.
Ânsia voraz de agarrá-lo.
AS BARREIRAS.
Busco seu olhar,
fugindo, fugindo, fugindo.
Nessas horas, persevero.
AS BARREIRAS.
Vou para o outro lado.
Mudo a tática.
 Deixo-me ver à luz do sol.
Os olhos, fugindo
— a chance, fugindo.
Sempre as barreiras, sempre.
É preciso ter consciência
de nossa profunda inutilidade
para suportar o estabelecido.

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João Felinto Neto, RN / Brasil (1966)
Fonte da imagem: google.
FIO DA MEADA
(João Felinto Neto, RN / Brasil)

Se o amor é uma palavra abstrata, 

por que a dor 

é tão física? 

Por que a carne 

é tão fraca? 
Entre nós, 
impressões desfeitas. 
Entre outros, 
o fio da meada.


PERFIL
(João Felinto Neto, RN / Brasil)

Tocasse a vida 
com sua mão 
em uma tinta turva, 
e contornasse em sinuosa 
curva, 
uma forma definida, 
traços que marcam uma silhueta: 
Testa, nariz, 
lábios e queixo, 
olho e orelha, 
restauraria seu perfil. 
Lábios calados, 
olho vazio, 
nariz sangrando, 
testa febril, 
queixo quebrado 
e orelha de abano.

Fonte da imagem: Google


Janiel Martins, RN / Brasil (1991)
ELEFANTINHO RESIDÊNCIA
(Janiel Martins, RN / Brasil)

Elefantinho figurança
aconchego em residência 
Estado que celebra Nordestando
honras em valores 
deste que te é Brasilis.

Fronteiras a Oeste no Ceará
 a Sul com a Paraíba
 e a Este e a Norte
lambido e beijado estás
em Atlânticos banhos indo. 

Ligas pelo Alto Oeste
sensibilidades proboscídeias,
levas memórias e ensinos
na linha do Apodi
Sertão do Apodi,
cerebreias no Assu
este que é de Mossoró,
por Seridó tens motor
e pelo Agreste Litoral Sul,
fecundas por Trairí,
com bases em Potengi,
imponentas em Mato Grande
equilibras pelo Sertão Central
que é de Cabugi e Litoral Norte,
 e potiguas em Metropolitana Natal,
medidas geográficas unificantes
Estado que és cá e lá
interior com costa
chão vermelho
de pó de rubi 
Rio Grande do Norte
assim.

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Janiel Martins