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domingo, 31 de dezembro de 2023

SUSTENTO DA ALMA - THAT`S ALL FOLKS


THAT`S ALL FOLKS

Fonte do texto: https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2023/02/thats-all-folks.html

Autor: Paulo Passos

"Umas crianças agem e outras reagem.
Umas crianças ficam boa gente. Outras ficam aleijadas do carácter.


Criança brinca e, mais tarde, acarinha, lê e deleita-se, livre e serenamente, com o livro (que escolhe) …! 

Estimula-se, natural e activamente, na internalidade do local de controlo das suas motivações.

Em génese, fica implicada na gratificação da assertividade.

That´s all folks


Criança portuguesa vive exaltada (por acumulação de material ansiogénico e depressivo), berra, faz barulho ou camufla-se e, mais tarde, confunde o livro com uma acendalha, empolgadamente numa tarde de churrasco em família…! 

Sobrevive, futuramente, sempre na defensiva, sempre na reacção, agarrada às teatralizações, dissimulações, ansiolíticos e anti-depressivos, assustada e alerta (por condicionamento) de quaisquer nuances das estimulações adversas (familiares, escolares e demais ambientes), pela via da pálida e pouco robusta sã energia psicológica.

Funda-se, o local de controlo das suas motivações, forçosamente, na externalidade e na passividade. 

Resta-lhe, sem alternativa, o rancor e ficar à mercê das pulsões da agressividade, da manipulação ou... da submissão da mansa e pálida passividade.

Vive, enraivecida por um passado (de castração e de domesticação) que lhe glorificou a miséria, mas que (com protecção institucional, legislativa e judicial) valoriza e defende, como obediente guardião, o que ao seu dono pertence...!

That´s all folks"

domingo, 15 de outubro de 2023

SUSTENTO DA ALMA - ESPÚRIO NO WELLNESS CENTER



Ponta Delgada, 17.30 horas.

Após uns formidáveis momentos com amigos, onde se misturaram os prazeres dos reencontros, com alguns desejos e intentos de articulação de útil e motivante (futuro) trabalho... voltei ao hotel e, (tão) feliz com a tarde, tomei um duche e mergulhei na água, com a temperatura que me é tão de pertença (30º), na piscina interior.

De serenidade tatuada na alma e na expectativa de um final de tarde feliz... (que me levaria e elevaria o entusiamo para umas cracas, lapas e demais açóricas iguarias, ao jantar...), mal entrei na piscina, acordei (em pânico) do perfect day que trauteava mentalmente e em consonância com o Lou Reed que me fazia companhia...! 

Deparei-me com um cenário de vandalismo e toxicidade ambientais (apesar de todas as indicações estarem escarrapachadas numa visível sinalética, para informação dos mais distraídos, dos inábeis em civismo e em civilidade, ou dos puros tugas..., do que possível e inadmissível neste wellness center ou, bem se entenda, noutra coisa qualquer cujas exigências sejam similares), no local que procurei... para um confortante final de tarde e preparatório início de noite.

Wellness center... (tal como designado).

No borbulhante jacuzi, estavam 3 moçoilas, já entradotas (fim dos 20 ou início/meio dos 30 anos), com os antebraços, braços e crânios cabeludos (a sinalética obrigava o uso de toucas) de fora de água, protegendo o que, digo eu (!),  lhes era de maior valia: os 3 telemóveis que seguravam, com as 6 mãos e sem que nem um pequeno desvio de olhar fosse autorizado pela formatação.  

Talvez o erro estivesse no facto da sinalética do Wellness Center não impedir o uso de telemóveis.

Restaurando-me (tentando...!) da bizarra visão..., olha o meu olhar para um pujante e saloio som, que agudizou todo o (surpreendido) Wellness Center, e vi (ouvi e assustei-me) uma mulher, escancarando a boca e disparando a cabeça para trás, no seu orgulhoso biquini preto e dourado, numa tão sonora e despropositada gargalhada, apontando e acompanhando o motivo de tanta graça, a saber: o verdete gretado dos pés, sobre quem, especulei, ser o seu companheiro que, igualmente, se torcia em gargalhos exibindo o barulho que lhe jorrava dos cascos, num sotaque repleto de trejeito de linguagem (muito) lisboeta, que fazia exibir o burgesso, em material e em gritante mediocridade.      

... pois fiz o reparo na recepção do hotel... 

Nem voltei a ver verdete na piscina, nem vi mais telemóveis no jacuzi.

Não reparei se estavam no banho turco. Não se via muito bem. 


Paulo Passos  (Braga, Portugal)

 


domingo, 29 de janeiro de 2023

SUSTENTO DA ALMA - PSICOLOGICÍDIO


Original em: 

https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2021/01/psicocidio.html

Conforme texto de Paulo Passos


"ENTRE AS GENTES E OS AGENTES (dos brandos e pálidos costumes) DA PSICOLOGIA ESTÃO:

- As agnosias acríticas e as delirantes idealizações de prestígio das academias e demais associações;

- As apractognosias, sujeitação e facilitismo caseiro dos campos interventivos;

- A banal acrítica, inexperta (permissiva em excesso… por vezes e em conveniência) e ultrapassada burocracia da ordem profissional…

…AMORDAÇANDO-SE (SANGRANDO) A PSICOLOGIA (E RESPECTIVAS INSTITUCIONALIDADES) NOS INFRUTÍFEROS ESFORÇOS DE CREDIBILIDADE… NUM PESSIMISMO RELATIVO ÀS IDEAÇÕES, ESTAS SUICIDÁRIAS (SOBRE A PSICOLOGIA), PELA PARTE DOS SEUS AGENTES, QUE ABUNDAM E SE REPRODUZEM EM ESCALA FÚNGICA..."

domingo, 6 de novembro de 2022

SUSTENTO DA ALMA - DESORGANIZADORES LABORAIS E INSTITUCIONAIS OU... INVISÍVEL DESESPERO

Autorizado o uso deste texto divulgado, originariamente, em:

https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2021/04/desorganizadores-laborais-e.html

Paulo Passos

Psicólogo Clínico

Braga / Portugal

 

"Público ao que é público. 

Sensualidades em aflição e em manha.

O espaço laboral, enquadrado na institucionalidade, exige e exige-se num adequado e equilibrado padrão de relacionamento inter-pessoal, respeitando os determinismos que justificam a existência profissional, desempenhada por sujeitos cuja formação, desenvolvimento e maturidade da personalidade sejam factologia e num paralelo constante com os requisitos e desígnios da competência profissional. 

Contrariamente à majoração do equilíbrio entre o relacionamento e a produtividade, fomentada em determinante, tem, a institucionalidade, opositores num pacote de condutas desviantes dos intentos que parasitam e paralisam espaços laborais, fruto do domínio de idiossincrasias, de aproveitamentos indevidos, de interesses obscuros, de desconhecimento, do amadorismo ou caseirismo e da inércia/incapacidade (conveniente ou inconveniente) das estruturas de liderança. 

         Os contributos da Psicologia Organizacional e do Trabalho estão inclusos no conhecimento e fomentação, de práticas articuladas entre a maximização da produção e do relacionamento motivador e partilhado, porquanto que os contributos da Psicologia Clínica estão centrados na oferta de meios diagnósticos/identificação, facilitadores de promoção de consciencialização que se canalizam à mudança e aperfeiçoamento.

            A conflitualidade intra-psíquica e inter-pessoal (nos trabalhadores, entre trabalhadores e entre trabalhadores e utentes) que abonam os meios laborais, merece ser identificada e clarificada, de modo a que os intentos de outrem servir, se maximizem na plenitude do prazer pelo trabalho.

            Clarificar (diagnosticar e seleccionar) o impacto (eventualmente clínico) na caracterização do dinamismo dos factores da personalidade e consequente ressonância no relacionamento e ambiente, é um intento deveras e amiúde desconsiderado, mas… cuja essência poderá ser a raiz da corrosão do espaço laboral sobre o que, merecidamente, se devem apurar os manifestos para o extermínio dos ruídos e indefinições institucionais onde, lamentavelmente, tantas e tantos se ancoram. 

            A questão centra-se na potenciação da conjugação dos critérios relacionais e produtivos, apetrechando os intervenientes de instrumentos ajustados (isentos de cariz de interesse subjectivo) para o exercício salutar e cabal das funções, no registo do respeito, da maturidade, da viabilidade da actualização das próprias representações mentais… numa institucionalidade que se inteira justiceira da harmonia, equilíbrio, espírito de equipa e de gregarismo, competência… canalizando o prazer em servir o que de público se enforma.

            Inacabamentos e incompletudes de personalidades; feitios em defeito ou defeito em feitios; corpos amordaçados como ferramenta de acting-out e passagens ao acto no formato de sintomas… que se enformem nos próprios pacotes de enfermidade doméstica de cada um… mas jamais em co-habitação e fomentação de toxicidades em territórios laborais e institucionais. 

            Farejam-se à distância mas.... trata-se sempre de um terreno minado e armadilhado pelas próprias criaturas que, inicialmente, se mostram travestidas pelo "conveniente e empático" representante.

                  ... predisposições e rasgos dos desígnios psicopáticos ... in action...  

                 Público ao que é público."

 

 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

SUSTENTO DA ALMA - EXAME PSICOLÓGICO NAS IX JORNADAS DE PSICOLOGIA

 

IX JORNADAS DE PSICOLOGIA E CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

6 E 7 DE OUTUBRO DE 2022

OFIR / ESPOSENDE

EXAME PSICOLÓGICO

PROGRAMA


6 de Outubro de 2022 (Quinta-Feira)

8h30      SECRETARIADO

9h00      SESSÃO DE ABERTURA

               Benjamim Pereira (Presidente da Câmara Municipal de Esposende)

               Fernando Ferreira (Director Executivo do ACES do Cávado III – Barcelos/Esposende)

               Raul Borges (Presidente do Conselho Clínico e da Saúde do ACES do Cávado III – Barcelos/Esposende)

               Paulo Passos (Presidente Residente das Jornadas de Psicologia Clínica e CSP, ACES do Cávado I)

10h00   PAINEL I - EXAME PSICOLÓGICO, EPISTEMOLOGIA E COMPLIANCE

               Moderação: Raul Borges (Médico MGF, ACES do Cávado III)

               Exame psicológico: da epistemologia ao determinismo metodológico

               clínico-científico 

               Paulo Passos (Psicólogo, Centro de Saúde de Braga)

               Compliance... absolutamente
               Zinho Baptista 
(Advogado, Luanda / Angola)

10h45   Debate

11h00   Coffee break

11h30    PAINEL II - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, INSTITUCIONALIDADE, ÉTICA

                Moderação: Helena Oliveira (Psicóloga, Escola Secundária Alcaides de Faria / Barcelos)

               Ética e avaliação psicológica                

               Miguel Ricou (Psicólogo, Universidade do Porto)

               Ética e institucionalidades                

               Fernando Ferreira (Médico MGF, ACES do Cávado III)

               Contrapeso… em conta e em medida                 

               Jorge Cruz (Jurista, Barcelos)

12h15    Debate

12h30    Almoço 

14h00     PAINEL III - CLÍNICA PSICANALÍTICA

                Moderação: José Torres Freixo (Psiquiatra, CRI / Braga)

                Avaliação estrutural integrada: do telescópio ao microscópio                 

                Rui Guimarães (Psicólogo, DICAD / Porto)


14h45    Debate

15h00    PAINEL IV - AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA… EMERGENCY

               Moderação: Susana Oliveira (Psicóloga, Centro de Saúde de Vila Verde)

               Look around… emergências em psicologia
               José Carlos Rego 
(Psicólogo, INEM / Porto)

               Avaliação psicológica e risco suicidário
               Rui Campos
(Psicólogo, Universidade de Évora)

15h45    Debate

16h00    Coffee break

16h30    PAINEL V - ESCOLARIDADE E RISCOS DE DESENVOLVIMENTO

               Moderação: Paulo Correia (Psicólogo, Centro de Saúde de Esposende)

               Maturidade psicológica e ingresso na escolaridade obrigatória
               Maria José Ramos 
(Psicóloga, Centro de Saúde de Cabeceiras de Basto)

               Ansiedade escolar
               Jorge Gonçalves
(Psicólogo / TEPH, INEM / Porto)

               Iliteracia… no exercício de parentalidades
               João Carlos Major
(Psicólogo, Braga)

7 de Outubro de 2022 (Sexta-feira)

   09h00    PAINEL VI – MILITÂNCIAS… EX OFFICIO, EX LEGE, EX ORDINE

                   Moderação: Salete Anjos (Jurista, Braga)

                   NACJR: significâncias em observação
                   Teresa Cristina Alves
(Psicóloga, Centro de Saúde de Braga)

                   Psicologia… justamente
                   Vânia Gonçalves
(Psicóloga, APAC / Barcelos)

                   Revisitação em psicologia forense
                   Sónia Gonçalves
(Psicóloga, Hospital de Magalhães Lemos / Porto)

   09h45    Debate

   10h00    PAINEL VII – MIRARES EM ANÁLISE BIOENERGÉTICA

                   Moderação: Adelaide Marques (Psicóloga, Centro de Saúde de Vila Nova de Gaia)

                  Seeing… mistérios do corpo… in action

                   José Luís Gomes (Psicólogo, Braga)               

   10h45    Debate

   11h00    Coffee break

   11h30    PAINEL VIII – dISFORIAS DE gÉNEROS

                   Moderação: Luís Gonzaga (Ginecologista, Braga)

                   With no trait of indignation
                   Manuela Moura
(Psicóloga, Hospital de São João / Porto)

                   Meeting point
                   João Décio Ferreira
(Cirurgião plástico, Hospital de Jesus /Lisboa)

   12h15    Debate

   12h30    Almoço

   14h00    PAINEL IX – TRANSFERÊNCIAS E CONTRA-TRANSFERÊNCIAS

                   Moderação: Zeferino Ribeiro (Psiquiatra, Braga)

                   Transferência e contra-transferência
                   Paulo Azevedo
(Psicólogo, Porto)               

   14h45    Debate

   15h00    PAINEL X – AVALIAÇÃO PSICOBIOLÓGICA

                   Moderação: Graça Mendes (Psicóloga, Centro de Saúde de Vila Nova de Famalicão)

                   Avaliação psicobiológica: da significância clínica ao potencial para

                   o bem-estar
                   Paulo Moreira
(Psicólogo, Universidade de Trás os Montes e Alto Douro; CIPD / Porto)         

   15h45    Debate

   16h00    SESSÃO DE POSTERS

   16h30    SESSÃO DE ENCERRAMENTO

                  Paulo Correia (Psicólogo, coordenador do Núcleo de Psicologia Clínica / ACES Cávado III)               

 

domingo, 24 de julho de 2022

SUSTENTO DA ALMA - RECOMENDAÇÕES DE UMA PSICÓLOGA DE FAMÍLIA


Paulo Passos

Em: https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2021/07/recomendacoes-duma-psicologa-de-familia.html

 

Sim... uma psicóloga.

Moça ainda nova (beirando os 30), mas convicta (aparentemente). 

É uma psicóloga de família. 

Psicóloga de família... e de outras coisas.

É uma psicóloga conselheira.

Chama-se Jéssica Patrícia.

(Diz-se: Dr.ª Jéssica Patrícia.)

A Dr.ª Jéssica Patrícia é muito urbana.

 

Os "ímpros".

"Ímpro" é uma variante de "hiper", quando aplicada aos hipermercados.

Hipermecado ou "Hiper", para facilitar a comunicação.

 "Ímpro", para os criativos. 

 

(Para dizer a palavra "ímpro", basta verbalizar a primeira sílaba (ím), que a seguinte aparece logo. Mas tem que se carregar bem no "í". Quando assim pronunciado, surge logo a palavra completa e fica tudo composto e com o destino traçado.)

Vai-se, então, ao ímpro.

 

As pessoas vão ao ímpro.

O ímpro serve para fazer compras e para passear.

 

Ir ao ímpro, em família, é uma recomendação que a psicóloga Jéssica Patrícia aconselha.

Uma sanitária (aproveitando a moda do vocábulo) recomendação.

Sanitária e sem dar trabalho, pelo cariz voluntário que a veste, reveste e torna a vestir (tal como o vira que vira e torna a virar...).

São muito acatadas as recomendações da psicóloga de família e de outras coisas, Dr.ª Jéssica Patrícia.

Além do aconchego familiar, há o convívio ("combíbio", para os do Norte) social.

São recomendações da psicóloga Jéssica Patrícia que, numa prescrição que pode ser diária, há a recomendação de, aos domingos à tarde, o efeito ter mais impacto sobre o prazer.

 

O ímpro e o domingo à tarde, são quase um mercante fenómeno de engenharia social.

Nas tardes de domingo, as recomendações assumem, então, o seu momento áureo.

Sem contra-tempos, sem indecisões e sem contrariedades. 

Vai-se.

 

Estacionado o citadino e utilitário veículo de 5 lugares (ou carrinha de 9 ou, até, de caixa aberta), vê-se o desfile de criaturas protagonistas (ainda em formato de aroma de partes de pijama cansado) em direcção à porta, que se abre só (e em magia), do ímpro.

O determino da mãe retira o carrinho para as compras.

Assume o comando do veículo, assim como de todas as outras exigências.

Ainda com réstias do mau humor, fruto da zaragata na hora da refeição (por via do excesso de vinho emborcado pelo marido e sogro), vai no comando, empinando mais ainda o colosso conjunto de duas mamas que a enfeitam e se salientam sob a blusa prateada, bem colada ao corpo. 

Arrasta consigo a velha-mãe que se agarra na lateral do carrinho (amparando-se, querendo acelerar para acompanhar o génio da filha, mas a perna... já não vai lá...), e que, num preparo pensado, se exibe lenta (das dores propósitas), de legs côr-de-rosa, sapatilha branca com aplicativos dourados e t-shirt justa ao corpo, da côr que mais achou ao agrado.

O marido e o sogro seguem-lhe a peugada, levando, de vez em quando (ambos), e por via do audível arejo fugido pela tubagem inferior, um sopapo ofendido, nos bandulhos, dado com a mala, junto com um sacudido e humilhante: "porcos". A velha, aproveitando a culpa já atribuída aos outros, dispara no mesmo sentido (para trás), num alívio que lhe põe um pálido sorriso no rosto. E segue viagem...! 

De nada se apercebe, a velha, para além do alívio, das dores e da admiração pela sua sapatilha com aplicativos dourados.

A filha adolescente, trajada a gosto, segue num afastamento que lhe é devido às imposições das conveniências, sem retirar o olhar do telemóvel que segura e exibe com invejável honra.

O rapaz, aluno da 2ª classe, aproxima-se do pai e do avô, mas sempre vítima dos puxões dados pela mãe, para o afastar da proximidade da zona, farta em indesejados odores. Segue, então, o pequeno, entre a parte de trás do cortejo e a parte junto ao andor, numa luta com um pujante obstáculo nasal que o invade, quase até ao cérebro, que esgravata com a falangeta do indicador direito, integralmente metida na narina, acompanhado do revirar de olhos e franzir de nariz, para melhor apanhar o jeito.

A sobrinha, pela parte do marido, 18 anos acabados de fazer e vestida na sua orgulhosa moda de igual à moda, acompanha a procissão, com a primita de 10 meses ao colo, esta de bandolete amarelinha, elástica e com laço conforme, a prender as penugens que teimam em rarear, numa parceria com diversos pontos do ímpro, de onde emanam orquestrações gritadas dos infelizes berçantes, em oposição aos incómodos trejeitos ambientais das famílias no ímpro.

Num cumprido celibato emancipatório, lá vai a rusga no desígnio que lhe é de opinião e satisfação, matando outros de inveja, esta parte já não tão focalizada pela psicóloga de família (e de outras coisas), como é de bem.

Tarde passada sem demais atributos.

Acompanhando os roncos do sogro, já de volta ao paraíso familiar do r/c esqº trás de um suburbano prédio de 12 andares, vão os resmungos da matrona, numa orquestra onde se ouvem os pasmos silêncios da velha; os sons do telemóvel da filha; o trautear de uma cantiga mal cantada (estrangeira) da sobrinha, tentando acalmar o berreiro da criança de colo; os peidos do marido (que conduz) e os do filho que gargalha em sintonia com o sorriso do pai...; num rogar de praga ao dia que, invariavelmente se repetirá num futuro próximo (fds seguinte), no cumprimento das sanitárias  recomendações da psicóloga de família (e de outras coisas), intitulada e auto-intitulada de Dr.ª Jéssica Patrícia.

Entusiasticamente anseiam as próximas férias anuais, de duas semanas no Algarve.

Já de férias, numa tarde de chuva, limitante para praia, cruzam-se com a psicóloga de família e de outras coisas (a auto-intitulada Dr.ª Jéssica Patrícia), que lhes desvia o olhar, enquanto se dirige para a porta principal do ímpro. Vai na companhia do pai, da mãe e da irmã (recém divorciada), enquanto empurra um carrinho de bebé, onde está deitada uma criatura de poucos meses, dando já alta voz à sua peremptoriedade para com o berreiro e para com o infortúnio.

 Edição: Paulo Passos

domingo, 3 de julho de 2022

SUSTENTO DA ALMA - "O GATO E O JOIO IV"

...empilhando podres em colecção...

Em: 

https://www.psicologia.pt/artigos/ver_cronica.php?o-gato-e-o-joio-iv&codigo=CR0041&area=

2019

Psicólogo clínico (Braga, Portugal)

"Comprar gato por lebre”

“Separar o trigo do joio"


"Diariamente, Maria Augusta e grande parte da massa dos seus colegas, engendravam meios e mecanismos de poderem ser alvos, de um momento que fosse, do protagonismo que servia de combustível para a sobrevivência de quem tinha enveredado por essa via de acesso às pretensas ascensões profissionais.

Era esgotante, mas era impossível desistir.

A desistência não cabia na cega luta por uma direcção ou qualquer outro poleiro de nível acima ao já em pouso.

O problema estava centrado no facto de toda a energia ser consumida nestes meandros. O que devia ser feito era, por norma, desviado do objectivo ou, na melhor das hipóteses, executado na sequência de um grande jogo do empurra. Acotovelavam-se sem quaisquer constrangimentos.

Dentro da universidade o conflito não espreitava, estava instalado de poltrona ao lado do cinismo.

Travestido sim, mas instalado e com raízes profundas.

Aclarar o conflito era a derrota.

Não havia embaraço algum em tomarem café (cafés) depois de uma cena de pugilado de olhares e acusações, no silêncio dos forçados e tensos sorrisos.

Tensos e forçados, mas pertencentes ao plano de sobrevivência.

Maria Augusta nunca perdia a oportunidade de se apoderar (para acrescentar à cábula) de mais uma citação, um título, ou um aditivo de seu interesse.

O manancial de referências era um dos motores do seu empenho.

Pouco tinha, do que suposto existir para uma profissional com expressão e enriquecedoramente livre.

Estava perfeitamente integrada na indústria dos títulos que caracterizava o que fazia enquanto docente, nessa mesma instituição, onde tão facilmente se acessa ao grosseiro e corrosivo plágio (assunto silenciosamente diluído, obviamente, pelos longos corredores repletos de gabinetes).

Maria Augusta, como muitos dos seus colegas, referia-se sempre, a este assunto de forma condenável, cautelosa e merecedora da atenção canalizada para a repreensão acesa e inconcebível, tentando manter a protecção do prestígio institucional (que habitava).

Havia quem questionasse se o prestígio era o institucional ou eram os dos melindrosos individualizados…!

De qualquer modo, não era conveniente existirem beliscos visíveis e muito menos que transparecessem fora de portas.

Era-lhe, no seu formal meio profissional e de modo corrente, atribuído o condão da escrita enfeitada.

Maria Augusta movia-se bem e com destreza no cenário formal das elaborações e formatações de textos, jogando com as palavras de forma inteligente, mais parecendo, até, estar em trabalho de decoração.

Fielmente esgotava-se no universo das exageradas notas de rodapé.

Valorizados (no arranjo do formato) eram os seus escritos, dentro da academia, mas, para muitos outros, eram ocos em produção de utilidade não decorativa.

Tanto abarrotava os textos com tão exagerado número de títulos e citações, com as suas mais recentes apropriações registadas nos seus cardápios de cábulas (impulsionadores fantasmas de um admirável cariz elevado de sapiência), que o despropósito e a incoerência debitavam-se em transbordo.

Qual gemidos emitidos entre dentes (ou pensamentos), eram comentários sobre rodapés que teciam uns dos outros.

Tanto se entrelaçou neste viciante jogo, abundante em sombreados de falseamento (mas tudo ali estava assim alinhavado), que se tornou dependente e incapaz de consciencializar que liberdades tinha o mundo para oferecer.

Também o poderia habitar.

Mas estava petrificada na mordaça.

Já não era capaz."


Edição: Paulo Passos

domingo, 26 de junho de 2022

SUSTENTO DA ALMA - "O GATO E O JOIO III"

...empilhando podres em colecção...

Em: 

https://www.psicologia.pt/artigos/ver_cronica.php?o-gato-e-o-joio-iii&codigo=CR0036&area=

2019

Psicólogo clínico (Braga, Portugal)


"Comprar gato por lebre”

“Separar o trigo do joio"


"Maria Augusta era mais uma criatura que se confundia com a banal promiscuidade entre a ambição e a capacidade.

Tinha leccionado diversas matérias, contempladas no currículo do curso da universidade onde estava empregada.

Sentia um já saturado e embaciado orgulho, mas que ainda alimentava o quase pleno prestígio de realização, cuja ressonância lhe era constantemente canalizada para a intimidade falseada e magoada, mas silenciada pela compulsão ao disfarce, a que estava tão familiarizada.

Ainda assim, continuava Maria Augusta, a fomentar a miraculosa utilitária mania, quase fetichista, no seu enquadramento profissional.

Era uma ferramenta em constante actualização e, tanto quanto transparecia das intrigas internas ao seu serviço, era um elo de ligação geral das pessoas que ali se moviam.

Quase toda a gente tinha e sustentava essa ferramenta, protegida num secretismo individualizado e fortificado.

Mais não era do que um caderno com referências bibliográficas, títulos de livros, nomes de autores, citações, máximas, premissas, enfim uma vasta panóplia auxiliar dos segredos de cada um, materializados numa cábula crescente e auxiliar em todo o percurso profissional

Era um recurso constante, enfeitador do manancial redigido e oratório.

Titularia (industrial) no seu esplendor.

O conhecimento era muito mais amplo em títulos do que em conteúdos.

Da grande maioria dos livros só o título e o nome do autor se tinham cruzado com o olhar (às vezes… também a editora).

Mas isto não era impeditivo para grandes divagações, grandes discursos, conversas, comentários, expressões de deleite até, todos dignos de moldura. Poucos liam. Liam apenas o essencial (um resumo, uma sinopse…) para construção da confabulação, eventualmente necessária para transparecer num ou noutro contexto.

Era uma competição, eram homens e mulheres em silenciosas preces divinas, disfarçadas de conhecimento, a ver quem exibia o primor da novidade mais clássica ou da mais actual, constante no cadernito (agora em formato electrónico) e adquirido, descoberto ou copiado em última hora.

O sentimento partilhado estava tão entranhado pelo comportamento infantilizante, de esconder o tesouro de cada um, que impedia que se tornassem conscientemente maduras as atitudes dentro da universidade.

Um monte de papéis na mão e um ar apressado, meio sério e longínquo, preferencialmente com um lápis apontando subtilmente para os raciocínios que se vão fingindo ter, serve eficazmente para representação de invejável qualidade na tarefa e com a garantia de qualidade (ou de “excelência”, como em voga).

Império da perícia neste disfarce, a que se fingiam alheios.

Cenário montado… infausto elenco em palco.

Como professora, Maria Augusta, era só mais uma que ia participando e vivendo neste declarado enredo, entre os sorrisos das cores que a cada um fosse conveniente e consumisse menos combustível humano.

Nisto “também sou perita”, pensava de si, num invisível sorriso.

Tinha a particularidade do exagero, que se reflectia igualmente na matéria de recolhas.

Era uma acumuladora, tal como a compulsão para o coleccionismo.

Tinha cadernos e cadernos cheios com tudo o que se possa imaginar que fossem títulos, nomes de autores, excertos e citações.

Mas impunha e cumpria a regra de apenas as consideradas grandes referências no assunto. Tudo o que não fosse assim balizado, não constava nos cadernos das cábulas de Maria Augusta, sendo considerados escritos que integravam a heresia e a ofensa académicas, apenas por generalização do preconceito e não por terem sido julgadas por leitura avaliativa.

Eram inconcebíveis e proibidas, estava banalizado, tais misturas, no interior daquelas domésticas (apesar de ferozes) guerras. Não havia brecha possível. Desde que não estivessem balizados pelas medidas estipuladas nas ocasionais valorizações institucionais, muito material escrito era condenado sem julgamento. Um texto era crucificado, sem ter sido lido, apenas porque era proveniente de alguém, lugar ou instituição, que constasse na rigorosa lista a abater.

O prestígio era o alcance geral e valia tudo para o conseguir, ou manter, ainda que apenas por construção, subjectivamente, internalizada.

Despudor de qualificação máxima.

Farsa de boa roupagem.

Esbanjador despudor… despudor ao público."


Edição: Paulo Passos