O blogue – Comer e Saber – apresenta-se com o intuito de exterminar amarras. Impera-se em três rubricas: Sustento da Alma; Café com Letras; Gastronomia e Culinária, como ferramentas de promoção e fomentação de liberdades e pluralidades. Movimenta-se na consciencialização da noção de direito às criatividades, no débito da conjugação dos intrínsecos conceitos de SABER (enquanto fonte de SABOR) e o de SABER (enquanto fonte de CONHECIMENTO).
domingo, 20 de julho de 2025
CAFÉ COM LETRAS - VOU APAGAR A LUZ
domingo, 29 de junho de 2025
CAFÉ COM LETRAS - CRIAS PAIS
Se parar morremos de tristeza.
Larga a cria quando esta decide ir.
Porque não deixamos as crias irem?
Os humanos não são boa raça.
Não cuidamos uns dos outros.
Somos a brutalidade do umbigo, visão única ao alcance.
Tentamos parecer civilizados.
Civilizado é um grupo de macacos que se cuidam mutuamente.
A religião sem dinheiro não é religião.
Falta vergonha.
Falta humildade.
Quando vamos ser crias, mas não crias pais?
domingo, 22 de junho de 2025
CAFÉCOM LETRAS - COSQUINHAS NAS ESTRELINHAS DO CÉREBRO
COSQUINHAS NAS ESTRELINHAS DO CÉREBRO
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Mergulhei na vasta solidão do corpo.
O que o pensamento pensa, acho que o silêncio pensou e fez o corpo para brincar no mundo.
Gosto de escutar o silêncio, lembrando do som dos ponteiros do relógio de parede.
Então, Ruth, estás a pensar?
Estava mergulhando, Eneston.
Este sentimento de flutuar deve ser quando éramos fetos, ou é uma construção do nosso corpo!
Sonhar é como os pássaros vivem, voam.
Tu sabes o que é o sonho, Eneston?
Fala a verdade.
Eu só gosto de sonhar porque vamos a lugares incríveis, mas tenho medo de entender as reações químicas e elétricas que o corpo precisa para sonhar. Acredito que sejam muitas e que muitas sejam malignas.
Até parece que o sonho faz mal?
Acho se eu entender certas coisas, perde-se a fantasia de viver.
Gosto de sentir cosquinhas nas estrelas do cérebro.
Parece que elas fogem atrás de respostas, já reparaste?
É aquela estrela que se forma e vai para longe procurar respostas do pensamento para o corpo.
domingo, 15 de junho de 2025
CAFÉ COM LETRAS - DUAS FOMES II
Deixei a lua à minha procura.
Aqui estou.
Estais a falar só, doida?
Estava a pensar alto.
Nem todos os dias posso olhar para a lua, para ficar com saudades dela.
Fico triste quando a lua nasce nas minhas costa, acho que é a leste.
Depende, doida.
Sei lá, só sei que a lua me trás pensamentos e acho, até, que causa uma explosão de estrelinhas no cérebro mas só não podemos deixar os ouvidos pensarem.
Já basta ouvir, não doida?
É, as vezes é melhor ser inocente.
Gosto tanto de cair no pensamento.
É melhor deslizar-me.
Tu já reparaste, Francivaldo, que nós vamos onde queremos!
Como assim, doida?
Quando pensamos e sonhamos as estrelinhas que tem dentro do nosso cérebro explodem e devem torna-se fumaça e vão para onde queremos.
É engraçado o que que vimos fazer no mundo!
Ter duas fomes.
Ham!!!
A de comida e a outra.
domingo, 8 de junho de 2025
CAFÉ COM LETRAS - VISÃO DE CIMA (III)
domingo, 1 de junho de 2025
CAFÉ COM LETRAS - VISÃO DE CIMA (II)
Será que o teu olho, é o fim do ramo, chuchu?
As pessoas falam do olho da planta, deve ser o teu olho.
Sento assim, tu tem um bocado de olhos.
Que pena que tu não tem um a boca para falar com eu.
Já agora, lembrando, a boca das plantas fica nas raízes.
Tu tiveste foi sorte em ter-se expandido.
Já a vida humana não é muito justa, chuchu!
Uns têm de mais e outros nada.
Chuchu, eu acho que tu queres andar igual a nós, por isso é que tu cresces.
Não é?
domingo, 25 de maio de 2025
CAFÉ COM LETRAS - VISÃO DE CIMA (I)
Porque tu não me respondes?
Eu sei que estás vivo, pois tu continuas a crescer
Tu deves ver o mundo, igual quando sonhamos em conhecer um lugar
Temos aquele pensamento longo, leve
Até esquecemos do nosso peso
Tu tem vontade de conhecer algum lugar, em especial?
Eu quero conhecer a ilha do Covo
Porque é bem pequeninha
Eu quero sentir a sensação de estar no meio do universo
Se tu quisesse, quando eu for, eu levava tu
Será que tu escuta!
Eu vou falar como é a terra
A terra é redonda
Flutua no espaço
Gira em torno de um bola de fogo
Que não sei direito como é
Porque não consigo ver por muito tempo
Tenho medo que derreta meus dois olhos
E só a cabeça fica vendo
Como tu vês
Chuchu tem outra bola perto da terra
Eu queria ir lá
Mais não fui ainda
Tu já sonhou na lua?
Eu ia ficar muito feliz em ir na lua
Mesmo num sonho
Quem sabe nós vamos para a lua no mesmo dia
Pró sol não
Se não nosso pensamento se acaba
Sem nem dar tempo de virar cinzas
Pois tá bem, chuchu
Vou pra casa, um pouco
Que todos temos de comer
E tu come o quê mesmo?
Já que não tem boca?
Deve tá se alimentando do próprio corpo...
domingo, 4 de maio de 2025
CAFÉ COM LETRAS - QUEM COLOCOU CRISTO NA CRUZ
QUEM COLOCOU CRISTO NA CRUZ
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Há muito que somos uma peça decorativa
Não há mudança
Quem colocou Cristo na Cruz?
...
Na Terra somos o velho tempo
O pensamento vai como ejaculação
...
É desejo de continuar
E leve...
domingo, 27 de abril de 2025
CAFÉ COM LETRAS - DUAS FOMES (I)
domingo, 20 de abril de 2025
CAFÉ COM LETRAS - Ooooo (III)
domingo, 13 de abril de 2025
CAFÉ COM LETRAS - Ooooo (II)
domingo, 6 de abril de 2025
CAFÉ COM LETRAS - Ooooo (I)
domingo, 30 de março de 2025
CAFÉ COM LETRAS - DOR DE CABEÇA
DOR DE CABEÇA
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Sinto uma força a puxar-me
É a força da inocência
Dói, dentro da cabeça
É a eletricidade que tem o corpo
É bonito a complexidade do homem
domingo, 16 de março de 2025
domingo, 9 de março de 2025
CAFÉ COM LETRAS - TROCAR O PÉ POR UM PÉ DE BOI (III)
Publicado, originalmente, em Psicologia.pt a: 2019-04-21
http://www.psicologia.pt/artigosher cronica.php?trocar-o-pe-por-um-pe-deboi&codigo=CR0031
Paulo Passos
Psicólogo clínico, Braga/Portugal
"A mesa já estava atulhada de canecas vazias e de pratos com cascas de marisco que Aristides Galante tinha comido.
Eleutéria chamou o
empregado, pediu uma garrafa de vinho branco fresca, camarões e um gelado para a neta.
Aristides Galante pediu mais uma caneca de cerveja.
|
Aristides
Galante era um poço desmedido de subalternidade para com a mulher.
Nunca foi considerado em nada, exceptuando-se a
consideração elevadíssima com que era
contemplado, pela garantia do dinheiro que injectava na família e sustentava os
cartões dourados de Eleutéria.
Dentro de casa,
Aristides Galante, não era tido nem achado.
Vendo-os na
rua, ele era um penedo que seguia, sempre dois ou três passos atrás, a gaiteira e determinada mulher.
Homem rude, estatura média, abdómen bem saliente, tinha conseguido fortuna
à custa do seu trabalho, digno
de se dizer! Mas também às custas de algumas estratégias menos transparentes e de malabarismos que escondiam meandros que Aristides Galante tão bem conhecia.
Trabalhava na
construção civil desde os seus onze anos de idade, altura em que saiu da escola
com a terceira classe.
Burgesso era
a sua natural evidência e lucro era o seu maior objectivo - pilares da sua existência.
Fora de casa e, sobretudo no trabalho, não tinha pejo à exploração de
outros e dos próprios funcionários
da empresa. Nestes, no que dizia respeito ao pagamento que lhes eram devidos, arranjava sempre forma de cortar no número de horas
trabalhadas.
Já dava para
mais uma mariscada bem regada, que tanto apreciava.
Nunca passava muito tempo sem que a maior travessa, na marisqueira que mais
apreciasse, não estivesse transbordando à sua
frente, juntamente com fartas canecas de cerveja, onde as comezainas entravam
bem pelo tempo adentro.
Já recostado,
arrotava Aristides Galante, enquanto tirava bocados de marisco dos dentes, com
uma unha de lagosta.
O suor que
lhe escorria pelo rosto era afastado com as costas da mão, ainda com a pinça de um lavagante presa pelos dedos.
No rebordo da mais recente caneca de cerveja
iam-se já acumulando lascas de marisco. Glórinha adormecera na cadeira sem ter acabado de lamber o segundo gelado.
Sem assunto,
Aristides Galante e Eleutéria terminavam a manja, para sustento do peso dos feitios, feitos corpos.
Aristides Galante tentava levantar-se, mas a manobra foi dificultada pelo
excessivo carregamento de peso
sobre as, já meio falidas, articulações das pernas e pelos desequilíbrios adjacentes.
Eleutéria, com as mesmas privações de habilidades, proclamava que ainda
havia de chegar o dia em que mandaria trocar o pé, de Aristides Galante, por um
pujante pé de boi."
domingo, 2 de março de 2025
CAFÉ COM LETRAS - TROCAR O PÉ POR UM PÉ DE BOI (II)
Publicado, originalmente, em Psicologia.pt a: 2019-04-21
http://www.psicologia.pt/artigosher cronica.php?trocar-o-pe-por-um-pe-deboi&codigo=CR0031
Paulo Passos
Psicólogo clínico, Braga/Portugal
"A pequena Glórinha estava forrada com um creme branco, colocado em pasta, para a proteger das radiações solares. Na cara só se viam os olhos.
Usava, tal como a avó, uma touca de borracha na cabeça para não molhar o
cabelo. A touca de Glórinha era
toda cor-de-laranja, mas com relevos que desenhavam formas de peixes. Condizia com o fato de banho onde a pequena estava enfiada, que
também era cor-de-laranja, com uns
favos salientes em branco, que a faziam parecer insuflada, em sobreposição à sua frágil estrutura.
Não saía da
zona de sombra do guarda-sol de praia, por imposição da avó. Podia sair dali quando a avó ia à água e a levava para nela se apoiar.
Quando
regressavam ao guarda-sol, invariavelmente era feita uma visita à imponente caixa térmica.
Eleutéria nunca a
voltava a fechar sem estar já a mastigar alguma coisa.
Glória Micaela, alternativa única de nome e estipulado pela junção do nome
(Glória) da tia-madrinha materna, e
da filha desta (Micaela), prima quatro anos mais velha, era uma criança diminuta, em questões de apetite.
Nunca um vendedor de bolos, bebidas ou gelados, que circulavam pela praia,
por ali passava sem que Eleutéria o mandasse parar.
Escolhia sempre alguma coisa.
Aos refrigerantes, não dava tempo de o vendedor fazer o troco do dinheiro,
na bolsa que trazia na cintura, para onde tinha que olhar.
Quando olhava para ela já a garrafa estava vazia e ela com o braço esticado
a pedir outro, enquanto enterrava o fundo da garrafa vazia na areia.
Avistou um vendedor de gelados.
O rapaz ouve o chamamento de Eleutéria e freou-se, qualificando o seu
produto.
Não era preciso tanto trabalho pois era certo que Eleutéria ia comprar um
gelado para Glórinha e outro para si.
Escolheram e, enquanto Eleutéria devorava o dela, a neta lambia, pasmada e lentamente, o seu.
Um calor sem tréguas e, pouco tempo depois, já Glórinha era um vale de
gelado derretido.
No pouco chocolate que ainda se prendia ao pau, pousou e colou-se uma
descomunal mosca vareja esverdeada.
A pequena, sem se aperceber, continuava a lamber de um lado, e a mosca
satisfazia-se do outro.
Eleutéria vê aquele
preparo, sai disparada para junto da neta, dá uma sacudidela para afastar a mosca, mas vai
tudo. Vai mosca, vai gelado e vai Glórinha, que pega num berreiro, aumentando a
javardice em que toda ela já estava.
Estava melada até à
alma.
Era gelado derretido, era ranho, era creme solar, era areia, eram lágrimas,
era baba, era a avó a reclamar, enquanto agarrava em toda aquela tralha para se irem
embora.
Tinha-se acabado a tarde de praia.
Em direcção à estrada, ia e resmungava Eleutéria, atulhada de sacos,
guarda-sol, caixa térmica, e um grande saco com tudo o que era brinquedo de praia da neta.
Eleutéria ainda não tinha tirado a touca da cabeça e era seguida por
Glórinha, que ainda não tinha parado de chorar.
Atravessaram a estrada e Eleutéria estatelou toda a tralha no chão,
despejando-se numa cadeira da mesa onde o marido estava sentado de esplanada."
domingo, 16 de fevereiro de 2025
CAFÉ COM LETRAS - TROCAR O PÉ POR UM PÉ DE BOI (I)
Publicado, originalmente, em Psicologia.pt a: 2019-04-21
http://www.psicologia.pt/artigosher
cronica.php?trocar-o-pe-por-um-pe-deboi&codigo=CR0031
Paulo Passos
Psicólogo clínico, Braga/Portugal
"Eleutéria era, também de corpo, um mau feitio.
Tinha uma linha que a seguia de cima a baixo, sem necessidade de cumprir
quaisquer curvas, mas quando a
medida era tirada de perfil, a linha contornante do seu corpo já exibia grandes lombas para a diante.
Tudo isto, adicionado ao seu tamanho, que não ia além de um metro e pouco,
construía um panorama que
implicava comentários com ou sem graça, consoante os gostos e as intencionais aventuras.
Agravava tudo com o
carnaval que punha em cima de si.
Estava com um fato de
banho de perna, amarelo e azul-claro às riscas horizontais.
Vários colares garridos saíam-lhe pelo pescoço, a contornarem o seu grande
e sustentado par de mamas, terminando suspensos e a
abanar por toda ela, que rivalizava com uma
montra de bugiganga barata, com o produto todo amontoado.
Usava uma
touca na cabeça, de borracha amarela com flores cor-de-rosa, que abanavam com os movimentos, por serem fixas apenas ao meio.
Na areia ou na água,
nunca aquela touca saía.
Quando ia ao mar, a água não lhe subia mais que
meia perna. Tinha medo e
as ondas faziam-lhe cócegas provocantes.
Molhava-se, apenas no rescaldo da onda, baixando-se e salpicando o corpo
com uma mão, enquanto se
apoiava na neta Glória Micaela (indiscutivelmente chamada de Glórinha, tanto pela fragilidade do corpo, como pelo cariz nervoso e
trémulo com que a criatura se
apresentava), para se manter equilibrada.
As alças do fato de banho, muito vincadas nos ombros, pela cedência da
camada gorda que lhe forrava o
corpo, contrastavam com o vermelho vivo, já em ferida, da pele queimada do sol.
Independentemente
da temperatura da água e das condições do mar, os gritos e gargalhadas eram intermináveis, durante todo o tempo que lá estivesse."