VOU APAGAR A LUZ
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Devia-se, ao menos, ter-me levado algumas vezes até a porta da creche e falando: é aqui que a mãe vai te deixar, enquanto trabalho!
Não tinha pensamento. Era só um corpo. Frágil e amedrontado, este era eu, aprendi, depois de grande, que tínhamos dois medos: quando bebé, o do escuro e de cair (para os que nasceram de parto natural); os outros implantaram-nos.
Depois de chorar por horas, calei-me e num cantinho de parede fiquei. Lembro do frio que a mesma me deu, até que minha mãe chegou. Corri de felicidade, mesmo não sabendo o significado dessa palavra. Era proteção.
Minha mãe, tu não traz mais eu para cá?
Porquê?
Fiquei com medo de não te ver mais e eu queria estar contigo.
Não te preocupas, a mãe vai-te proteger até tu voares só.
Eu vou ficar em casa?
Deixa eu te falar uma coisa.
Eu posso te trazer amanhã?
Não.
Então vamos fazer o seguinte: tu vens e se não gostares não vens mais.
Não quero.
Vais ter que vir.
Estou com medo.
Lá não tem bicho, para teres medo.
Mas tenho medo, sinto-me desprotegido.
Sertão.
Um dia, dezoito horas e vinte minutos.
Todo mundo está com suas cobertas?
Sim, minha mãe.
Vou apagar a luz.
O último sopro era o som que se ouvia. O sopro da desproteção misturado com as histórias de medo que os adultos nos implementavam, fermentando a imaginação de um forma ruim, o medo.
Enquanto tentava adormecer, tudo era perigoso. O cão ladrando era um sinal que algo poderia estar querendo fazer o mal. Atacar o ninho. Quem iria nos proteger no escuro, se todos estavam com medo? Os ponteiros do relógio, pareciam ser pessoas rodeando a casa.
Até que fim o sol nasceu.
Corria-se para todos os lados, parecendo uns tontinhos, doidinhos.
Até que se ouvia, um voz autoritária, aquieta que vocês vão para escola.
Hoje eu não vou?
É o quê?
Não quero ir.
Tens que ir.
Cuida.
Quando uma criança tem razão?
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