segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - CAFÉ DA MANHÃ EM SÃO MIGUEL


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O sentimento era o de segura e fiel pertença.
Senti-me, de imediato, integrante membro familiar.
As agressões dos estímulos eram, melodiosamente inexistentes.
Tudo era suave, calmo, terno e genuíno. 
A força maior era a de cada palavra desconhecente da impaciência e da censura.
Nada era atropelo! 
Tudo era harmonia!
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O Café da Manhã é a primeira refeição do dia e, em Portugal, tem a designação de Pequeno-Almoço.
Durante a minha, infelizmente curta, estadia em São Miguel, fiquei hospedado no interior do conforto que, em toda a sua plenitude, era, esse ambiente, transbordante de satisfação, melodia tranquilidade e cooperação. 


Não podia deixar de partilhar o que foi o meu despertar, na minha primeira manhã, em São Miguel.
Após um profundo sono restaurador, num aconchegante e idílico quarto, depois de desamparar as portadas das janelas, depois de deixar entrar o canto do dia solarengo, depois de me espreguiçar com o sorriso da segura certeza, depois de me despedir da noite, foi o duche morno e sedoso que me levou o bom dia, por mim já esperado, neste cenário de transcendência, onde apenas os benefícios da gula me atraía para os valores terrenos.
Desci as escadas, sorriu-me um bom dia, aromatizado com café fresco e dirigi-me para um outro sorriso que me chamava docemente.
Só teria que celebrar todos os momentos dessa manhã!

Sentei-me e olhei para tudo o que tinha para escolher.
Indeciso, optei por uma reconfortante malga que seria por mim apetrechada.
A malga, de loiça regional da Lagoa, como fiquei a saber durante a refeição, foi o estímulo para dar continuidade à conversa, já encaixada nos ânimos dos presentes comensais.
Percebi a dedicação pelos ofícios da Ilha, com a olaria a tomar as rédeas do assunto, obediente ao contexto.
É a loiça da Lagoa e a loiça da Vila (Vila Franca do Campo). Dois concelhos da costa sul da Ilha.
A loiça da Lagoa, pintada, vidrada, tem o seu cariz decorativo e utilitário.
A loiça da Vila Franca do Campo, ensaia-se, sobretudo, pelo registo de servir os usos domésticos, sendo de maior rudeza, não tendo o tratamento final de pintura e de vidrado, mas não menos considerada.
"Cada uma com o seu jeito", ouvi, num sotaque de delícia maior (sotaque micaelense).


Lancei mãos a uma dessas malgas de loiça da Lagoa, peguei numa maçã, imaculadamente lavada e brilhante.
Cortei-a, grosseiramente, sem a descascar, para dentro da malga.
Juntei uma generosa colher de divinal mel açoriano (mel de incenso).
Espremi um limão, aproveitando tanto o suco como a polpa.
Parti 3 nozes, tendo-as adicionado ao meu preparado.
Deitei 1 colher de sopa (bem cheia) de sementes de linhaça moída e inteira.
Não resisti ao coco ralado que clamava atenção. Foi uma colher dele!
Forrei com um notável e cremoso iogurte açoriano.
Mexi, calmamente! Mexi e perdi-me rodando a colher dentro da malga, tão suavemente que o movimento se tornou em mais um natural indutor de paz.

Numa varanda, protegida por um imponente e belíssimo muro de basalto, abrilhantado por grandes hibiscos amarelos, fez-se a refeição acompanhada por uma conversa digna de um Nobel da elegante serenidade.

Olhava, tanto para o momento como para o basalto. Negro basalto! Rocha de beleza infinita, naquela sua natural reserva, absorvendo e entranhando, no seu negro, as histórias e as conversas que vai vivendo, atentamente e silenciada.



O aroma do café fresco que incorporava o ambiente, passou a ser sabor ...



Um café da manhã na Ilha de São Miguel !

Um pequeno almoço na Ilha de São Miguel !

A Ilha do Arcanjo ! 



Fonte das imagens: Janielson Martins


Um comentário:

  1. Poética forma de escrever uma receita.
    Poesia, literalmente.
    Entranha-se o que está escrito.
    Congratulações.

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