sexta-feira, 1 de setembro de 2023

CAFÉ COM LETRAS - O AMIGO E A RUTH PIANISTA IV

O AMIGO E A RUTH PIANISTA - IV

(Janiel Martins, RN/Brasil)

.........

Amigo, vamos ao Gerês?
(Não vou nem falar que vou tomar banho no rio).
O céu amanhã vai estar nublado. Eu ia observar o céu.

Dá certo, já que tu não vais observar o céu!
Vai estar muito frio.
Amigo eu vou tomar banho nas termas.
Tu vai tomar banho, Ruth?
Vou sim a água é bem quentinha. Dizem que até ajuda na saúde.
Pronto Ruth, tu vai e tu me diz o que melhorou na tua saúde, para mim fazer um estudo.
Não seria melhor tu observar a reacção do teu próprio corpo, amigo?
Eu acho que não Ruth. Ruth vamos mudar de assunto!

Você é que sabe, amigo, eu amo o Gerês.
Eu também mas prefiro no verão, pois observo o céu melhor.
Eu gosto do Gerês de Inverno, fica mais misterioso.
E tu gosta de ter medo?
Gosto um pouco amigo, só não gosto quando eles vêm recolher o lixo que tenho medo deles descobrir a nossa casa.
Eles não vão descobrir não, Ruth.
Espero que não.

Ruth tu cavou a nossa casa sozinha?
No início foi, mas depois apareceu um casal de tatu que me ajudaram.
O que é tatu, Ruth?
É um animal que morra debaixo da terra
Igual a nós. E cadê eles?
Morreram bem velhinhos, eles vieram do Brasil até aqui, mas me ajudaram muito, eles aprenderam a falar e tudo.
Foi, Ruth?
Sim, eles adoravam comer batata, ficavam esperando o povo jogar batata para eles comerem.
Ah por isso que tu gosta de batata com bacalhau.
Verdade, amigo.


domingo, 27 de agosto de 2023

CAFÉ COM LETRAS - O AMIGO E A RUTH PIANISTA III

  

O AMIGO E A RUTH PIANISTA - III

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Ruth eu queria ser um boi.
Porquê, amigo?
Os bois quanto mais gordos, mais bonitos. É igual a tu.
Eu não sou uma vaca, amigo. Sou gente.
Os humanos são ruins. Uma pequena minoria controla tudo, e os mansos vivem na sua mansidão, acreditando (por vezes) que o amanhã será mais belo. O belo é hoje, é este momento, é este prazer de estar aqui, aqui mesmo. Mas não, as pessoas acreditam que amanhã será melhor, mas como será melhor, se hoje está ruim? Amanhã será pior ainda. Amanhã tu poderás estar doente, da fome que sentiste hoje, da raiva que gastou tanta energia do teu corpo, que nunca mais será recompensada. Amanhã estaremos mortos, pois o tempo, a vida não é amanhã, a vida é o agora.
O nosso corpo Ruth, é a lapidação do tempo.

É como o universo. Era vazio e de tão frio que ficou, causou um explosão. Aí, nessa explosão nasceu o fogo e do fogo vieram as cinzas. Dai por diante deu inicio a vida material.

Amigo tu pensa muito.
O meu pensar, Ruth, é viver, o nosso corpo morre muito cedo, e o nosso pensamento quer viver.
Viver é o quê, amigo?
Viver é viver a cor do céu, a distância das estrelas, para quê lançar um foguete que irá percorrer o universo, se não temos tempo de viver as belezas da terra? 
E ainda nos escravizamos uns aos outros, com a nossa ignorância. O esclavagismo só diminui a evolução do homem. As pessoas nascem com vontade de viver. Quando descobrimos a sociedade chamamos a morte. São os mal amamentados que estão destruindo a vida, para construir uma imagem singular. 
Os animais são brutos e eu acredito que têm medo da morte. Fazem de tudo para sobreviverem. Os humanos são brutos porque têm medo da vida. 
A vida é o singular.
Amigo o meu corpo está tão cansado.
Ruth, se eu conseguisse fazer um corpo para tu, tu queria?
Amigo, queria sim, já que uma hora ou outra o corpo já não vai ter energia o suficiente para aguentar eu.
Pois eu vou estudar esta composição, está bem?

domingo, 20 de agosto de 2023

CAFÉ COM LETRAS - O AMIGO E A RUTH PIANISTA II

 

O AMIGO E A RUTH PIANISTA - II

(Janiel Martins, RN/Brasil)

E porque nós não moramos numa casa igual à do homem do Caminha?
Eu morava numa casa, ganhei de minha madrinha.

Os vizinhos não gostavam que eu tocasse no piano que ganhei. Aí, os meus pais decidiram jogar o piano no lixo ou, então, seria expulso do prédio. Aí jogou o meu piano no meio da rua.
E tu deixou?
Eu estava na escola e quando estava voltando vi que era o meu piano. Antes que levasse para bem longe, coloquei dentro do contentor e entrei.

E teus pais não procuram tu, não?
Não sei, só saí depois de 20 anos.
E porque eu estou com tu?
Tu não quer estar com eu não, amigo?
Quero sim, só quero saber como eu vim morar com tu!

Um dia na boquinha da noite, eu escutei tu chorando com fome e frio, aí saí e peguei tu. Dei-te de comer e tu danado, nada de querer dormir, aí foi quando eu comecei, novamente, a tocar piano.
E porque tu não tocava?
Eu queria cavar a minha casa o mais distante possível dos humanos, mais tu apareceu e como és danado, não paravas um minuto quieto, tive que tocar.
E eu o que fiz?
Ficaste parado, tentado descobrir o que era, cansaste o teu pensamento e adormeceste.

Ruth vamos dar uma volta?
Vamos sim, amigo.
Ruth o que é o sol?
O sol é o que nos dá a vida, nós nascemos por causa da luz do sol, só que o sol um dia vai morrer e vai acabar com a vida na Terra.
É!? eu não quero morrer não, Ruth.
Pois é , amigo, ninguém quer morrer, por isso que os animais são brutos, eles fazem de tudo para sobreviverem. E os humanos querem a distância, mas a distância não é tudo, pois na distância nós nos perdemos. Os homens querem ir atrás da vida eterna, e esquecem que vivemos muito menos de um século. Temos que voltar para trás, começar tudo de novo, e tentarmos viver mais.

Ruth, eu vou matar o sol.
Porquê amigo?
Ele vai acabar com a vida na terra. Mas antes disso eu vou construir um sol, que vai matar o sol, assim como os tubarões fazem para a sua sobrevivência.
E como tu vais construir um sol?
Eu vou construir na lua e vou proteger a lua e a terra de qualquer coisa que venha na direção delas.

Eu também não quero morrer, amigo.
Nem eu, Ruth, mas como tu já tem muitos anos, Ruth, se tu morrer, tu fica-me esperando na lua.
E se tu não morrer, amigo? Eu vou ficar a eternidade, esperando tu na lua?
É mesmo, Ruth, pode ir para onde tu quiseres, que depois nós podemos nos encontrar noutro canto. Só não vá para perto das estrelas, enquanto tu não me ver de novo.
Porquê, amigo?

Eu já falei. Quando nos cansarmos de viver no universo, é só direcionar o pensamento para uma estrela que seremos transformado noutra coisa.
Em cinzas, amigo?
Eu acho que não, porque não dá tempo de transformar em cinzas, as estrelas são muito quente, deve ser em vapor.

Vou tomar um banho, para dormir mais maneira. Tu quer tomar uma banho também?
Eu acho que não, depois eu vejo.

domingo, 13 de agosto de 2023

CAFÉ COM LETRAS - O AMIGO E A RUTH PIANISTA I


O AMIGO E A RUTH PIANISTA - I

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Ruth Pianista, sai de perto desse largo.
Porquê amigo?
Ruth Pianista, eu vi na televisão que os tubarões comem-se uns aos outros.

E fiquei com medo de chegar perto da água.
Possa ser que alguém tenha colocado algum tubarão e ele querer comer nós.
É verdade amigo, mas não tenha medo os tubarões não são maus, eles são brutos.
Maus são os seres humanos
Eu fiquei triste, pensava que só as formigas é que eram meio ruins.
Os tubarões também são.
Eu antes tinha visto que as formigas quando estão ficando muito velhas, vão procurar outro formigueiro e matam as adultas, para roubarem os ovos e, depois, para escravizaram as que vão nascer.
Os animais são são ruins. 
É instinto de sobrevivência , amigo.
Nós, seres humanos, é que somos mais capazes de manipular as coisas do que os animais.
É Ruth Pianista!?
É sim. 
Por exemplo amigo, imagina quanto medo de morrer tem um animal!

Amigo, vamos para a Serra da Cabreira acampar? 
Parece que vai nevar neste fim de semana!
Vou não, Ruth.
Porquê, amigo?
Antes de nevar vai chover.
Vamos deixar para depois de nevar, Ruth?
É amigo.

Deixa eu fazer uma perguntar a tu?
Claro amigo!
Como tu nasceu, e eu?
Tu sois o quê, amigo?
Uma pessoa, certo?
Isto meu são duas pernas, e tu também tem.
Só que tu tem um negocio diferente de mim.
É Ruth.
É sim, tu tem um pedaço de carne que cresceu a mais, e eu tenho um corte.
Está bom.


domingo, 6 de agosto de 2023

CAFÉ COM LETRAS - TEMPO: UMA PERGUNTA

TEMPO: UMA PERGUNTA

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Meu pai: o que é o mundo?

Eu lá sei! Pergunta para a sua mãe?

Oh mãe o que é o mundo?

É isto meu filho.

Isto o quê?

O chão que pisamos.

E aquilo que tem no céu?

São estrelinhas.

Elas são pequenas.

Pequenos somos nós, meu filho!

A danada da morte nos espera e é uma questão de tempo?

O que é o tempo?

Somos nós.

Eu queria ir à lua e voltar.

Isto é o medo do homem.

Carrega tanto mofo.

domingo, 23 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - ESPERMATOZÓIDES


ESPERMATOZÓIDES

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Tudo é muito pobre

Os ossos doem


Não brinca comigo

Eu não sou alheio


Finjo não ver o tempo passar


Não brinca comigo

Eu não sou alheio


Tenho fome de comer

De comer com vida

 

domingo, 16 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - MEIO


MEIO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Somos tontos

Procurando 

Um lado

Esse lado existe?


O importante

É que este lado

Não 

Esteja vazio


Mas há a cegueira

domingo, 9 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - PORTO SANTO II


PORTO SANTO II

(Janiel Martins, RN/Brasil)


O Porto Santo...

... é belo e tão delicado

Tão delicado...

... como a fumaça...

... do pensamento 

Aqui...

... não tem demónios

Só tem leveza 


De irmãos... 

... trouxe...

... uma fragância

E o Porto Santo expulsou...

... os demónios


O Porto Santo...

... é um belo útero

 

domingo, 2 de julho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - DUAS FACES E DOIS MEDOS


DUAS FACES E DOIS MEDO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Deste que me entendo por ser vivo que tenho medo.

O medo é o nosso cérebro suicidando os bichos pequeninhos, que estão dentro da nossa matéria.

É uma reacção.

Eu acho que queima e o pensamento deve ser a fumaça.

Deve ser porque o pensamento é tão leve e friozinho, chega a dar coceguinha no coração.

O estômago queima a comida que comemos e o cérebro deve ser uma peça que esfria o sangue, se não o sangue iria ferver muito.

O sangue é constituído por nutrientes da comida.

É meio podre, sei lá...

domingo, 25 de junho de 2023

CAFÉ COM LETRAS - PORTO SANTO


PORTO SANTO

(Janiel Martins, RN/Brasil)

 

O Porto é Santo

Não deixa os demónios te dominarem 

 

O Porto é Santo

É o filho que os pais fazem questão

De falar para os amigos

O meu filho é diferente

 

O Porto é Santo

Tem delicadeza peculiar do restante Portugal

Como se poesia 

Florbela Espanca