domingo, 9 de outubro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - O TAPETE DO BREU (III)

O TAPETE DO BREU (III)
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O que faço quando lá chegar?
Fale que quer uma dormida, e que veio reparar a ambição dos humanos no planeta terra.
Porque irei reparar a ambição dos humanos no planeta terra?
Existia uma lenda na terra sobre três maletas de pedras.
Uma delas tinha uma rainha.
Outra tinha um revolver.
E a outra com uma serpente.
Para testar a ganância do homem, quem abrisse a maleta da rainha, ficava rico.
Quem abrisse a do revolver, morreria de um tiro. 
A da cobra, o que aconteceu, comeria todos os habitantes da terra.
A cobra se alimentou de todos e, não tendo mais o que comer, tornou num castelo.
A cobra recebeu a sina de dar dormida aos espíritos que voltassem à terra para reparar a terra.
Os que lá chegassem voltariam a ter o corpo de humano.
Como assim?
Voltar a ter o corpo de humano para limpar o planeta terra.
Os humanos deixaram muito lixo na terra.
Quando você chegar terá o corpo de outro ser vivo.
Porquê? 
Porque os humanos só terão o direito de serem humanos dentro do castelo.

Tenho o meu corpo de volta. 
Tenho o meu corpo de volta e não consigo ver na escuridão.
Sou o tempo bruto, vejo o tempo mais não me vejo.
O chão não é os meus pés, é o meu pensamento que tanto quero ver.
O que é o meu chão? 
O meu chão é a minha carne.
O pensamento não é meu, é alheio e sempre quer está na nossa frente.
Ó escuridão, qual é o meu caminho?

domingo, 2 de outubro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - O TAPETE DO BREU (II)

 

O TAPETE DO BREU (II)
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Que pedras bonitas são essas, de todas as cores?
Não toque.
São os olhos dos seres que cansaram de viver e se petrificaram no breu.
Eles estão aí porque escolheram este lugar para ver o mundo.
Quem mexer nos olhos petrificados será castigado.
Como assim: "castigado"?
Terão olhos solidificados em pedras escuras e nunca verão o mundo.
Não quero este castigo, quero conhecer o mundo e depois repousar no meu canto.
Pois tome cuidado, quem mexe nos olhos alheios terão os seus olhos pretos.
Tão pretos que não conseguirão enxergar o mundo.
Só terão o direito de pensar.
Será como viver num pesadelo feio.
As pedras pretas vivem aquela eterna tensão de um pesadelo.
Por isso que aqui não podemos mexer em nada.
A única coisa que nos pertence é o nosso pensamento.
Não toque em nada, só procure o seu equilíbrio.
Quando chegar o seu dia o seu pensamento será lançado para o seu mundo.
Para onde?
Para um mundo só seu, que é o seu equilíbrio, a sua paz.
Lá só terá as coisas que o seu pensamento desejou.

Estou cansado.
Aqui ninguém descansa, pois os que adormecem se perderão na escuridão do breu.
Depois vou levar você a conhecer a sapa que leva os seres vivos ao  castelo da serpente.
O que é isso?
É um castelo onde os humanos tem direito a descansar.
Fica onde?
Fica no planeta terra.
É um castelo muito grande com labirintos e muitas torres.
Quero muito ir descansar.
Calma.
Só há um caminho para lá chegar.
Como assim?
Uma sapa, que está petrificada, levará você e os humanos.
Só que a sapa acordará numa noite de lua cheia, a cada dez anos.
A cada dez anos anos?
Sim, mas você teve sorte pois só faltam dez dias para ela acordar.
Só existe uma forma de entrar na boca da sapa, na noite de lua cheia.
Ela vai despetrificar, para ir ao lago colocar as ovas.
Quando ela despetrificar, você tem que jogar uma brasa.
Em seguida deve-se jogar na frente, para ele te engolir.
Assim, ela o levará ao fundo do lago, que só ela sabe a passagem secreta para o planeta terra.
Quando lá chegar, fale que veio se proteger da ambição dos humanos.
E ela está acordada?
Não, porque ela tem o formato de tijolos com muitas torres, que são os quarto dos humanos.

domingo, 25 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - O TAPETE DO BREU (I)


O TAPETE DO BREU (I)
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O pensamento é mais antigo que os nossos antepassados.
Somos alheios.
Não somos um ser.
Somos os seres.
O pensamento não morre, viverá! 
O pensamento não precisa de olhos, só precisa do espaço. 
O pensamento pensa. 
Nós satisfazemos a vontade do pensamento.
A carne é a escultura do pensamento.

As rochas.
As rochas são filhas de uma explosão que aconteceu no tempo.
O tempo era sozinho.
O tempo era um breu só. 
Era tão frio que explodiu e pegou fogo. 
Assim, deu origem as cinzas.
Em seguida originaram-se as rochas e os planetas que estão pendurados.
O vento estabilizou. 
As demais rochas caíram e formaram o tapete do breu.
É para lá que vamos, quando fechamos os olhos aqui na terra.

Onde estou... onde estou?
Que lugar é este? 
Cadê a lua e as estrelas?
Aqui é o tapete do breu. 
Tem toda espécie de vida.
Este tapete não tem início nem fim.
Só o breu da escuridão é a sua companhia.
É onde o pensamento vem repousar.
Vamos dar uma volta, para eu apresentar o tapete do breu.

domingo, 18 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - NO DEDO PODE NASCER UM OLHO


NO DEDO PODE NASCER UM OLHO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


O que estás a fazer com estes dois dedo em pé, e com os olhos fechados? 

Estou tentando ver se nasce dois olhos nos dedo, mas tu cortaste a energia que estava sendo usada para isso. 

Levanta-te, tens que ir trabalhar! 

Obedecer a um patrão de um sistemas injusto. 

É o teu ganha pão. 

Sim, mas não a minha guerra. 

Obedeces e nada mais. 

Como isto mudou o ramo do homem, deveríamos caçar e não rasgar o sentimento. 

Ferimos a natureza do ser vivo, começamos a minguar e a tristeza vem com mais facilidade.

Não temos mais voz a não ser a de obedecer. 

Temos que ser flexíveis. 

Como assim, flexíveis?

A terra foi dividida em curral.

Não somos humanos.

Mais um número... ou uma vontade de alguém...!


Já sei que o dia e a noite não me pertencem, mas gosto de sentir a emoção das nuvens, da distância do sol e, às vezes... são vezes que pensam por mim. 

Isto me pertence.

O sol troca de roupa? 

Claro que sim. 

Deve ser para ir dormir.

É bonito quando ele está com a roupa vermelha, ele fica bem grandão e quando acorda também.


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - VEREDAS DA VIDA


VEREDAS DA VIDA

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Até onde o pensamento vai?

Sem me arder.

O meu corpo é frágil.

Finjo ser forte.

A ferida da alma dói.

domingo, 4 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - FIOZINHO

 

FIOZINHO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O mundo era todo escuro, da cor de tirna de fogão a lenha.
Bem mais escuro ainda.
Nessa escuridão, começou a criar um fiozinho, bem fininho mesmo.
Esses fios começaram a bater no outro.
Oi, oi, aí... nessas batidas começaram a pensar, só que nem eles sabiam o que estavam fazendo. 
Só que eles estavam pensando: por que um batia no outro? 

Um dia, esses fios, de tanto pensarem, explodiram e pegou-se fogo no mundo.
Daí as cinzas formaram pedras e as pedras foram-se desgastando e formaram a terra e os outros cantos do mundo.

Surgido do pensamento, o mundo não tem nem início e nem tem fim.

domingo, 28 de agosto de 2022

domingo, 21 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - SALTAMOS?


SALTAMOS?

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Dentro de mim há barulho e um silêncio cheio de almas. 

Carrego a vida e admiro cada ser.

Eu vou cuidar de todos, não vou ser mais um dos animais deste zoológico.

As cores radiantes dos pássaros me dão leveza, porque sou este porco?

Tu sois um porco, meu avô?

Não meu filho, sou só um velho cheio de mofo. 

Gosto deste mofo. 

Faz-me lembrar que eu vivi.

E tu não vives mais?

Vivo a intensidão do ir. 

Já me perco lá longe. 

Tentar voltar já é uma dorzinha.

Lá longe é como, meu avó?

É um buraco onde as almas vivem, onde o silêncio e o barulho não brigam, a noite e o dia estão juntos, assim como o ver e o escuro.

É lá que a minha mãe está?

É sim meu filho, onde a nossa alma estará.

Saltamos?


domingo, 14 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - IN-SENTIDOS



IN-SENTIDOS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Cair no abismo
e na beleza de ver o sol nascer

Deixei-me ir


Sem outro caminho
a não ser o rasto do belo

Que nos faz perder

domingo, 7 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - INDO PEGAR UMA ESTRELA


INDO PEGAR UMA ESTRELA
(Janiel Martins, RN/Brasil)


Vô, cadê a minha mãe? 

Vai demorar?

Vai sim, meu filho.

Ela falou que ia pegar uma estrela pra tu.

Tu quer ir lá com eu?

O vô não sabe o caminho. Descobrirás depois de tu crescer.

Tu acha que ela foi como?

Será que um pássaro levou ela?

Acho que não, meu filho. 

Será que ela criou asas e foi? 

Vou tentar voar.


 Edição: Paulo Passos