domingo, 30 de setembro de 2018

FRITURA DE RINS



Ingredientes:

- 4 rins de porco
- 3 dentes de alho
- 1 limão
- Azeite q.b.
- Sal q.b.
- Malagueta q.b.
- Batatas

Modo de preparação:

Abra os rins e retire toda a estrutura interna branca.
Numa grelha bem quente, coloque-os 
com a parte interna, para baixo.
Sem deixar que grelhem, deixe-os ficar até que os fluidos saiam.
Retire do lume, deixe arrefecer e corte-os aos pedaços.
Lave-os com sumo de limão.
Esfregue-os com alho picado.
Tempere-os com sal e a malagueta.


Frite-os num tacho com azeite quente.
Acompanhe com batatas cozidas e
com a fruta que lhe convier.

Satisfaça-se como entender...! 


Edição: Janiel Martins


domingo, 23 de setembro de 2018

CAFÉ COM LETRAS - O POVO E A POVA


O POVO E A POVA
(Janiel Martins, RN/Brasil)

meu povo e minha pova.
e tu sois quem mêmo?
a pova.
e tu existe?
claro que sim.
o povo e a pova,
mulhé e macho.
o ovo e a ova.
o ovo é do povo
a ova é caviar
e o caviar é dos político.
dos político e dos porco.
sermão.
sermão de retórica.
sermão de saber.
que saber?
e tu, que sabe?
sabe o que convém pra tu.
sabe o que enche o teu bolso.
porco é tudo igual.
porco e porca.
nome que até
parece com o da gente.
povo e pova.
deixa de dizê lero-lero, mulhé.
dizemos
tudo pelo povo e pela pova.
deixa esse assunto, tróce.
deixa de dizer doidiça! 
deixa o povo
deixa a pova
fazer do seu jeito mêmo.
do jeito sabido.
do jeito do justo.
do jeito de igual.

Edição: Paulo Passos



domingo, 16 de setembro de 2018

CAFÉ COM LETRAS - O DEFUNTO FALANTE



O DEFUNTO FALANTE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

o que esse tróce veio fazê aqui!
ele tava tão bem.
mas pia só o que ele tá falando.
tá falando di eu?
seu Geraldo ficou foi me devendo duzentos real!
e o pior de tudo é que ninguém sabia.
ele morreu de que horas mêmo?
meio dia e meio.
e foi de quê mêmo?
uma dô no meio do peito.
bem que eu escutei o galo cantá.
bem por essa hora.
quero ver o caningado falar do meu dinheiro.
ele era um cabra bom.
ele ficou devendo a alguém?
que eu saiba não.
dizem que a alma fica penando na terra se o cabra tiver dívida.
e ainda o defunto vem puxá o pé do cabra.
mas pia só como é atrevido...!
vamos enterrá de que horas?
e ainda qué jogá areia di eu.
na boquinha da noite.
deixa eu jogá as primeiras três pás de terra.
Geraldo, não é para você enterrá o defunto sozinho não!
Se não ele vai puxá o meu pé.

Edição: Paulo Passos

domingo, 9 de setembro de 2018

CODORNIZES NA TAJINE


Ingredientes:

- 4 codornizes
- Cenouras
- Pimento
- Couve flôr
- Bróculos
- Coentros q.b.
- Malagueta
-  Colorau
- Alho
- Azeite
- Sal

Modo de preparação:

Abra, longitudinalmente as codornizes.
Tempere-as com o colorau, sal, alho picado e malagueta.
Na tajine coloque os pedaços de couve-flôr e de bróculos.
Vá montando a pirâmide, acrescentando as cenouras,
o pimento, as codornizes e os coentros.
Verta um fio de azeite sobre a montagem.


Tampe a tajine e leve ao lume brando.
Deixe cozinhar até que as codornizes fiquem prontas.
Apure-se nos sabores dos legumes aromatizados pela carne.


Acompanhe com uns figos da Índia, uma conversa
e companhia a seu agrado.

Edição: Janiel Martins


domingo, 2 de setembro de 2018

CAFÉ COM LETRAS - PENSÃO DE VENTRE


PENSÃO DE VENTRE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

A vida é uma ejaculação alheia.
O que a cabeça produz,
o cu alivia.

Seguramos os colhões alheios.
Gente sem o que comer,
fome governando espaços,
governos tais putas baratas.

O meu pai não é viado,
mas fica encantado
com o paletó de um doutor.

A minha mãe serve café
para os sovacos rapados 
que vão desviar
divisas e direitos.

Umas serão filhas da rua.
Outros serão analfabetos.
Uma máquina de dinheiro para engravatados.

A riqueza é o povo.
Fazem cota para tudo
menos para todos 
e mais para um.

Diz a lei que avião e foguete
são coisas de todos.
Sovaco rapado é igual a cu.


Edição: Paulo Passos






domingo, 26 de agosto de 2018

PERNIL COM COGUMELOS E LEGUMADA


Ingredientes:

- 1 pernil de porco
- 2 tomates
- 1 couve roxa
- 1 pimento
- 1 beringela
- 2 batatas
- Cogumelos
- 2 cebolas
- 3 dentes de alho
- Sal q.b
. Malagueta q.b
- Azeite q.b

Modo de preparação:

Coza o pernil na panela de pressão, em água, sal e malagueta.
Depois de bem cozinhado (deve ficar bem macio), deixe arrefecer.
Retire os ossos e a pele, aproveitando os nacos de carne.


Num tacho refogue a cebola picada em azeite.
Junte os dentes de alho.
Cortados aos pedaços, adicione todos os legumes e os cogumelos.
Deixe cozinhar.
Retire o caldo e aproveite-o para uma outra refeição.
Tempere com sal e envolva delicadamente.
Deixe repousar.
Sirva em conjunto com a carne.


Acompanhe com um vinho tinto da sua escolha...

Edição: Janiel Martins


domingo, 19 de agosto de 2018

CREME DE COURGETTE COM CEBOLA


Ingredientes:

- 1 courgette 
- 3 cebolas 
- 1 tomate 
- 1 folha de louro
- Sal q.b
- Azeite q.b


Modo de preparação:

Corte as cebolas em rodelas e refogue-as, ligeiramente, em azeite.
Verta para uma panela.
Retire toda a casca da courgette e corte-a em pedaços.
Adicione ao refogado.
Junte o tomate, previamente cortado aos cubos.
Tempere com sal e a folha de louro.
Deixe cozinhar.


Depois de arrefecer, triture bem e acompanhe 
com uma fatia de pão e um copo de vinho tinto.

Edição: Janiel Martins

domingo, 12 de agosto de 2018

CAFÉ COM LETRAS - DOR DE DENTE

Janiel Martins
DOR DE DENTE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Peguei um desgosto medonho de dormir

Toda madrugada o peste do caquizinho do dente começa a doer

Coloquei toda a moléstia de remédio e nada serve

Quando o dia vier amanhecendo é que eu consigo tirar um cochilinho

Durante o dia até parece um dente normal

Mas quando cai a noite começa esse tróce a dar sinal

Fui bater naquele cafundor do posto de saúde

Não tinha dentista

Mas tinha um bocado de gente querendo ser doutor

Mandaram colocar tudo que é quanto de remédio

Mas o único remédio que servia era arrancar de uma só vez

Pense numa coisa pequena e medonha

É o peste do caco de dente

E quando esse peste de dentista vier

Vou mandar arrancar é tudo.



Edição: Paulo Passos



domingo, 5 de agosto de 2018

PURÉ DE COURGETTE COM COUVE ROXA


Ingredientes:

- Courgettes
- Alho 
- Couve roxa 
- Malagueta (opcional)
- Avelãs
- Azeite
- Sal 

Modo de preparação:

Prepare as courgettes (retirando a casca e as sementes) e corte-as aos pedaços.
Descasque 3 dentes de alho e junte a malagueta.
Leve a cozer numa panela com água e sal.
Triture até obter um puré.



Lave a couve e corte-a finamente.
Adicione-a ao puré, com um fio de azeite.
Deixe cozinhar.
Desligue o fogo e confira temperos.


Se confeccionado na véspera de ser servido, 

adquire uma mais intensa tonalidade de roxo.

Acompanha com avelãs, amigos, um copo de vinho a seu jeito
e uma boa conversa.

Edição: Janiel Martins



domingo, 29 de julho de 2018

CAFÉ COM LETRAS - ÁLAMO OLIVEIRA (UM CHEIRINHO)


ÁLAMO OLIVEIRA, escritor (romance, conto, guião, ensaio, poesia) 
nascido na Ilha Terceira/Portugal, em 2 de Maio de 1945.

Álamo Oliveira - uma nesguinha para aguçar e...suspira-se por mais...!

 Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões.

"(...) a pequena cidade da ilha que o Poeta doma para fazer evoluir 
a trama do romance - não é um espaço localizado na avença do imaginário. 
Ela pertence a um país que desde sempre se embriagou com a mania dos espaços,
 que fez do mar as estradas dos seus sonhos grandiloquentes e delinquentes, onde cada acostagem e pé em terra eram ferrete de posse e de domínio. Jericó de ilha e de cidade de ilhas, nela recaem as leis do seu país distante, com seus pontas de lança sediados muito obedientes e rabugentos numa autonomia mas vestida e subalimentada. Sabendo o 
Patachão tanto como isso, mandou à outra banda os ditames da literatura com a sua universalidade cingida à comichão sadia duma luxuriante camada de chatos: "Não dá outro trabalho que não seja o de coçar...E este, sim, é um gesto universal." (...)"
Excerto do livro:
"Pátio d´alfândega - meia noite" - Álamo Oliveira

Guilherme Simões e Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões.


QUE O SAL À MORTE
(Álamo Oliveira, Portugal)

foi tão breve o encontro que

não pudemos falar de poesia.

a vertigem dos olhos mais leves

do que deus ou pluma
nenhum outro peso sobre os ombros
da árvore       ainda a prisão dos dedos
num resto de água e de silêncio.

não dirão do amor mais do que o sal

à morte
mas da ilha dir-se-á o porto
breve marinheiro tatuado de solidão.

deixa crescer as malvas.



Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões.

"(...) Ainda eram eles que faziam por aguentar mais tempo a sua visita e que
mais vezes se faziam acompanhar pelos filhos. De qualquer forma, Joe Sylvia 
já compreendera que cada vez tinham menos tempo para lhe dar. Tony chegou 
mesmo a deixar a caixa de chocolates sobre a cómoda uma vez que encontrou 
o pai a dormitar na cadeira de rodas. À saída disse a Rosemary que informasse 
o pai dos seus cuidados, das suas saudades. "Bardamerda!" dissera Joe Sylvia no 
seu melhor português. Atirou com a caixa de chocolates para debaixo da cama, 
lamentando a vez que dissera ser daqueles que mais gostava. Foi uma confissão 
imperdoável. Prenda que lhe dessem, por mais que o embrulho disfarçasse, 
já sabia que era uma caixa...de chocolates. Acomodou-se. Aceitou a fatalidade 
como qualquer prisioneiro da fome. Nunca mais teve coragem para confessar 
o quanto detestava aqueles chocolates, os quais responsabilizava por todos 
os males que corriam. Até representavam o seu estar ali à espera da morte, 
com a implacável lentidão de um acto litúrgico, que o deixaria a criar bolor 
e coberto de formigas.(...)"
Excerto do livro: 
"Já não gosto de chocolates" - Álamo Oliveira


Edição:

Guilherme Simões

 Paulo Passos