domingo, 18 de agosto de 2019

CAFÉ COM LETRAS - SEM VERGONHA


SEM VERGONHA
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Pisa na terra
mas não diz
que a vida veio
do pensamento
da safadeza
amparado por uma mulher

Caso contrário
tínhamos caído no chão e falecido

Tantos já morreram
das chocalhadas
e tantas fêmeas
deixaram de ser enchidas
bem na força da lua

Desculpa da mão
a vida é uma safadeza
que pendemos para o lado bom



Edição de: Paulo Passos








domingo, 11 de agosto de 2019

CAFÉ COM LETRAS - DOCE NORDESTE


    A rapadura (cuja proveniência linguística se encontra no verbo “raspar”, com o derivado “raspadura”) é um popular doce que, incluído no património gastronómico do Nordeste Brasileiro, teve, contudo a sua origem em Portugal (Arquipélago dos Açores) e em Espanha (Arquipélago das Canárias).


Com sabor original semelhante ao açúcar mascavado, tem a cana-de-açúcar como matéria-prima. É hoje encontrado no Brasil em variados formatos, pelo enriquecimento proveniente da criatividade do povo brasileiro, sobretudo no Nordeste, através das misturas com leite, com goiaba, com caju, com coco, com maracujá, entre outras riquezas nutricionais, tão bem adaptadas e encontradas por estas terras Brasilis, à originalidade da rapadura, esta, bastante resistente a oscilações do clima. 


A rapadura é ainda usada para adoçar algumas bebidas, sobretudo café e chá, sendo igualmente utilizado na confecção de doçaria, em substituição do açúcar refinado, tendo a rapadura maior valor nutricional, por comportar nutrientes para além da sacarose (elemento este, quase exclusivo na composição do açúcar refinado).
É igualmente um requinte de delícia cultural, encontrar a rapadura nos usos quotidianos populacionais, na sua função de adocicar e adornar os prazeres com que o colorido da doçura incute aos aromas e sabores.


A rapadura encontrava-se nas prioridades de gustação de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sendo por ele consumida como doce e como acompanhamento de carne seca, dando-lhe, certamente, muita sustância, que lhe serviu de magna utilidade nas pelejas e nas guerrilhas, tão apreciadas e valorizadas pelo cangaço, nas suas justiceiras funções e intenções.
Fonte: internet
Fonte: internet
Nas múltiplas e notáveis curiosidades que preenchem a vida do Lampião, salienta-se uma que traduz a importância que o cangaceiro dava aos valores vigentes e ditados por poderes pouco transparentes e nunca sufragados. Desprezando os desígnios regentes, ele passou a usar o título de capitão, atribuído pelo Padre Cícero ("Meu Padim Ciço", como designado pelo Lampião). Para além da designação de “capitão”, isenta de valor jurídico mas repleta de valor psicológico, passou a usar os respectivos dourados galões, relativos a essa patente.
Terá sido o sentimento de justiça que esteve no determinismo da adesão e coesão de intentos e de categóricos princípios, entre Lampião e Padre Cícero? Questiona-se!
Doce Nordeste Doce ... RAPADURA...


Edição: Janiel Martins
           Referência do texto: internet


domingo, 4 de agosto de 2019

CAFÉ COM LETRAS - MENINA DO PÉ CURTO


MENINA DO PÉ CURTO 
                                                                                                                             Janiel Martins
(RN/Brasil)

Três vezes três é nove.
E se botar de cabeça para baixo fica seis.
Tu aprendeu com quem minhoquinha?
Com minha professora.
E tu porque não estuda, minhoquinha?
Estudar? só a longitude da vida e a igualdade para todos.
É minhoquinha?
Claro que sim.
Às vezes dá raiva, minhoquinha, saber que o mundo é grande e ainda não temos pernas.
Um dia eu vou ter perna.
Eu vou ter asa, minhoquinha.
E tu acredita, minhoquinha?
Mais do que acredito.
Já sonhei até que tava voando.
Foi verdade, minhoquinha?
Foi sim, eu tava bem no fundo na terra.
Tinha fogo e tudo.
E tu se queimou não, minhoquinha?
Não, porque foi o meu pensamento que foi bem longe.
Não precisamos de olhos para ver o mundo, minhoquinha?
O pensamento é a ligação com o universo.
Que palavra bonita é "universo".
Foi a minha professora que falou.
Trocou o mundo pelo universo.
Mas o mundo é o mesmo.
Minhoquinha, o pensamento é tão forte que vira pedra. Tu acredita, minhoquinha?
É verdade minhoquinha?
É sim, o pensamento não morre.
É igual ao universo.
Só se expande.
É igual quando pensamos, nasce um monte de estrela.
Dentro de nós o universo é big.
O que é isso "big"? tu tais falando estranho!
É a minha professora que fala inglês.
Ela foi para a cidade grande.



Edição: Paulo Passos 





domingo, 28 de julho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - SINGULAR


SINGULAR
(Janiel Martins, RN/Brasil)

eu continuo
preso ao passado
o que faço...
para ser plural?

destruímos florestas
para sermos (singular)
fazemos filhos
para matar o tesão

não temos
tesão pela vida
imagine
pelos filhos

a falta de verde
é a prova concreta
não são edifícios
são os nossos pensamentos

prata, ouro, pedras
é a carne do tempo
somos fungos
do tempo

quando seremos nós?
o diamante é velho
o ouro é o resto mortal
de quem?

o sangue
é a ferrugem do tempo
a carne é um sim
que somos novos.



Edição: Paulo Passos








domingo, 21 de julho de 2019

QUIABADA DE CALABRESA


Ingredientes:

- Linguiça calabresa
- Pimenta calabresa
- Alho francês
- Alho


- Cebola
- Pimento
- Tomate
- Funcho
- Sal
- Azeite

Linguiça calabresa
Modo de preparação:

Pique a cebola, o alho e o alho francês.
Refogue, ligeiramente, em azeite.

Pimenta calabresa 
Corte aos pedaços a linguiça calabresa.
Adicione-a ao refogado e envolva.
Corte o pimento, os quiabos e o tomate.
Junte ao preparado.
Tempere de sal.


Acompanhe com pão de sua eleição.

Edição: Janiel Martins

domingo, 14 de julho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - SUSTENTABILIDADE


SUSTENTABILIDADE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

É o pão
Do corpo
É a imaginação
Da alma

O respeito
Do socialismo
O peito
Não farsa... marmanjo

Um pai (de bom)
Ensina o filho
A caçar

A sobrevivência
É uma obra do tempo

O tempo é o passado
Querendo viver

E eu aqui
Lutando contra ele

Faço coisas
As coisas colam
Em mim

Como desapego
O tempo
Sem o luto

O luto
Foi filho
Da felicidade

E eu aqui
Tentando
Curar o luto

Eu luto
Contra eu
E eu

Não vou dividir
O luto
E eu

Vou viver
No tempo
E não o tempo

.......

O tempo é o passado

Querendo viver


Edição: Paulo Passos








domingo, 7 de julho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - LEVA-ME


LEVA-ME
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Para onde 
Quero ir!
Qual o barulho
Da minha partida?
Onde é o meu canto?

A dor... É o meu medo
A minha coragem 
É a minha felicidade

A guerra
Não é santa
É dos oprimidos
O que escondemos?
Somos cancerosos
Temos a cura
Mas vinga a moléstia
Perdemos o prazer
Pela vida

Ganhamos dinheiro
Perdemos o trabalho
Arrumamos problemas
Diz-se que o problema
É a falta de dinheiro
O problema é a falta
Do trabalho

Somos solitários
Distanciamo-nos como as estrelas
Não queremos a distância
Somos estrelas penitentes

Voltaremos para o nosso canto?


Edição: Paulo Passos



domingo, 30 de junho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - PORTUGA

        PORTUGA

(Cazuza, RJ/Brasil)

Eu sou um portuga burro
E tenho mil caravelas na cabeça
Juntou com preto e com índio
Mas no fundo é portuga
Com seus sonhos de mar
Seu destino de fado
A eterna espera na praia
E a coragem de enfrentar tormentas
Eu sou portuga com meu dinheirinho contado
E meu gosto pela desgraça
Pelo meu corpo peludo
Pelo meu amor pelo acaso
Vou ter um dia uma mulher valente
Que vai ser a leoa da casa
E Portugal, África e Brasil
Vão ser uma grande comunidade
Se fala mais português que japonês, sabiam?
Se fala mais português que japonês, sabia?
E a gente vai se impor no mundo
O vinho, o fado, o porto
Sou triste, quase um "portuga" triste
Mas as vezes bebo e danço
E sou doce como um toucinho do céu

Portugal, meu útero
Acorda com os teus filhos
E vamos embarcar de novo
Nas novas caravelas
Vamos dominar o mundo
Só que de um modo mais belo
Só que de um modo mais belo

A liberdade já chegou em Angola
E vai chegar no Brasil
Mistura a culpa do teu fado
Com a alegria que veio da África

Mas, portugas, esqueçam
Esse destino de fado
Mas, portugas, esqueçam
Esse destino de fado
É preciso mudar e lutar
Eu acredito na força do português no mundo
Do português burro do mundo
Porque a grande piada é o Brasil
Edição: Paulo Passos

domingo, 23 de junho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - ODE AO CORVO


ODE AO CORVO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Riquezas antropológicas 
E de caracterização 
Riquezas naturais e de identificação

Entrando pelos profundos meandros 
Meandros das essências da honra 
Nos hábitos que se fizeram História

História que se conjuga 
Pelos caminhos das recordações 
Pelos caminhos das modernidade 

Corvo ilha 
Filha de Terra e de Mar
Ilha dos aconchegos 

Com doces chamamentos
Desígnios em si 
Da aspirada ternura 

De liberdades ansiadas 
Repleta de determinação 
Repleta de protecção 

Aconchego partilhado
Que nas intempéries se impõe
Em vizinhança de amparo

Categórica nos gregarismos
Nas ilustres ruralidades 
Nos urbanismos da naturalidade

Ilha do Corvo
A menor das 9  
De um arquipélago... que é Açores

Convicta região de Portugal
 Encarna a demonstração 
Esta que é viva

De que gente... por igual
Gente... tal como valor
Não se mede em palmos

Janiel Martins
Não se mede em palmos
Gente... tal como valor
De que gente... por igual


Edição: Paulo Mariano







terça-feira, 18 de junho de 2019

CAFÉ COM LETRAS - PRAIA DA VITÓRIA


PRAIA DA VITÓRIA

ILHA TERCEIRA

AÇORES

PORTUGAL


Vitorino Nemésio
1901-1978
Praia da Vitória/Portugal


NUVEM A LESTE
(Vitorino Nemésio)

Aquela nuvem negra que algodoa
Os açudes do céu, e o sol trespassa,



Não sei se traz no flanco uma desgraças,



Tanto o sei véu dorido me enodoa.



Vista daqui, parece uma pessoa



E põe rosas de sangue à carne baça.



Se fosses tu... Mas não; é uma negaça,



E, outra vez negra como é, lá voa...



Não te verei no fumo azul, - disfarce



De quem ama no fogo e jurou dar-se



Nua e veraz, em guerra contra todos!



Reparo agora: a nuvem tem fiapos...



É talvez uma estrela para os sapos



Que, surda, a vêm beijar cá-baixo aos lodos.



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Bem haja... Praia da Vitória...!
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Edição de:
Guilherme Simões 
Paulo Passos