A rapadura (cuja proveniência linguística se encontra no verbo “raspar”, com o derivado “raspadura”) é um popular doce que, incluído no património gastronómico do Nordeste Brasileiro, teve, contudo a sua origem em Portugal (Arquipélago dos Açores) e em Espanha (Arquipélago das Canárias).
Com sabor original semelhante ao açúcar mascavado, tem a cana-de-açúcar como matéria-prima. É hoje encontrado no Brasil em variados formatos, pelo enriquecimento proveniente da criatividade do povo brasileiro, sobretudo no Nordeste, através das misturas com leite, com goiaba, com caju, com coco, com maracujá, entre outras riquezas nutricionais, tão bem adaptadas e encontradas por estas terras Brasilis, à originalidade da rapadura, esta, bastante resistente a oscilações do clima.
A rapadura é ainda usada para adoçar algumas bebidas, sobretudo café e chá, sendo igualmente utilizado na confecção de doçaria, em substituição do açúcar refinado, tendo a rapadura maior valor nutricional, por comportar nutrientes para além da sacarose (elemento este, quase exclusivo na composição do açúcar refinado).
É igualmente um requinte de delícia cultural, encontrar a rapadura nos usos quotidianos populacionais, na sua função de adocicar e adornar os prazeres com que o colorido da doçura incute aos aromas e sabores.
A rapadura encontrava-se nas prioridades de gustação de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sendo por ele consumida como doce e como acompanhamento de carne seca, dando-lhe, certamente, muita sustância, que lhe serviu de magna utilidade nas pelejas e nas guerrilhas, tão apreciadas e valorizadas pelo cangaço, nas suas justiceiras funções e intenções.
Fonte: internet |
Fonte: internet |
Nas múltiplas e notáveis curiosidades que preenchem a vida do Lampião, salienta-se uma que traduz a importância que o cangaceiro dava aos valores vigentes e ditados por poderes pouco transparentes e nunca sufragados. Desprezando os desígnios regentes, ele passou a usar o título de capitão, atribuído pelo Padre Cícero ("Meu Padim Ciço", como designado pelo Lampião). Para além da designação de “capitão”, isenta de valor jurídico mas repleta de valor psicológico, passou a usar os respectivos dourados galões, relativos a essa patente.
Terá sido o sentimento de justiça que esteve no determinismo da adesão e coesão de intentos e de categóricos princípios, entre Lampião e Padre Cícero? Questiona-se!
Nenhum comentário:
Postar um comentário