domingo, 8 de dezembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - ENSAIO DE LÍNGUA


ENSAIO DE LÍNGUA
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Não acredito nas palavras
Acredito no sentimento
Às vezes eu não sei identificar
Mas eu fico envergonhado
É bom sentir essa vergonha (boa)
Às vezes fazemos asneira
Não confunda linguagem com som
A língua é ensaiada
O sentimento veio antes de nós
Nem sequer se pensou em pensar
O nosso pensamento viveu
Para dar o pensamento linguado



Edição: Paulo Passos




domingo, 1 de dezembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - PÃO E`JACULAÇÃO


PÃO E`JACULAÇÃO
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Pão é o alimento do corpo
ejacular é o empurrão da vida
fertilizai a terra com sabedoria
ejacular é a desintoxicação.

Com a mente no chão
e com a sabedoria
que ela mesma nos transforma
fertilize os pés.

O leite é sagrado
a língua contém veneno.

Um bom homem
não faz nada
vive o seu ciclo
a consciência é sua.

Não se coloca para dentro
retire a ignorância.

Goze na terra
goze o ar
goze o céu
goze infinitamente a vida.

A vida não volta
mas traga-a para os seus pés.

Este é o mais longo caminho
que só tem um sentido
o prazer
goze agora.

O palácio é povo
escravo somos todos.

Não construímos um rei
todos somos escravo do universo
o fruto tem que vir limpo
e viver livre.

 Rei é rei
por todos nós silenciadores
por todo o manso silêncio.

O conflito é criado
o choro é uma ação
que vem da tristeza
silenciada e afogada.



Edição: Paulo Passos

domingo, 24 de novembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - TRABALHO E SUAS DISTÂNCIAS



TRABALHO E SUAS DISTÂNCIAS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Minhoquinha, teu trabalho é longe de casa?
Depende.
Quando vou com o quarto e o resto da casa nas costas... É uma hora.
Quando vou com o quarto... São quarenta e cinco minutos.
Com a cama... São trinta minutos.
Com as cobertas... Vinte e cinco minutos.
Comigo sem sono... São quinze minutos, certinhos.


Edição: Paulo Passos 

domingo, 10 de novembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - AO TEMPO


AO TEMPO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Quando chegar
O meu tempo
Estarei vivendo
Não o de hoje.

Tu vais foder-me... tempo!
Eu estarei no tempo... sempre!

Já imaginaste
Se as folhas
Do Outono
Começassem a chorar
Pelo inverno
Que está vindo?

Porque corremos
Atrás de diamante
E pedras brilhantes?
Temos as mais lindas
e, se as arrancarmos
deixaremos de ver as cores do tempo.

Olha para o chão
E vê que tens
As mais lindas pedras
Nos teus olhos.

Acredito que os olhos
Se tornarão um dia pedras,
E verão o tempo por mim.

Eu ficarei no tempo.
Na forma do tempo.
O tempo é perfeito
E lapidador das cores.

 Terá a minha cor... a cor do tempo.



Edição: Paulo Passos

domingo, 3 de novembro de 2019

BOLO QUEBRA-QUEIXO


Ingredientes (bolo):

- 2 xícaras de farinha de trigo (com fermento)
- 2 xícaras de açúcar
- 2 colheres de sopa de manteiga
- 3 ovos inteiros.
- 1 xícara de leite de coco.
- 1 colher de chá de suco de limão ou raspa.

Modo de preparação (bolo):

Num recipiente adicione o açúcar, os ovos e a manteiga derretida e misture.
Em seguida junte o leite de coco e a farinha, aos poucos, juntamente com
 o suco de limão, até ficar uma massa lisa e uniforme.


Ingredientes (calda):

- 1 xícara e meia de açúcar
- 2 xícaras de leite de coco.

Modo de preparação (calda):

Numa panela leve ao lume o açúcar e espere que derreta, 
adquirindo a tonalidade de caramelo.
Adicione o leite de coco e vá mechendo até ficar em ponto de mel.

Verta a calda numa forma e espalhe-a por toda a superfície.
Adicione a massa.
Leve ao forno, pré aquecido a 180º, por cerca de 40 minutos.


Desenforme e delicie-se... só ou em companhias de eleição...!

Edição: Janiel Martins

CAFÉ COM LETRAS - AÇUCAR E SAL


AÇÚCAR E SAL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aos deuses entregamos a vida
Com os nossos demónios matamos uns
Matamos outros
Matamo-nos uns aos outros

Como guerrear
Nessa guerra?

Ir... é um caminho
Que todos têm a coragem de seguir
Voltar... é o caminho
Que poucos conseguirão

Deuses e demónios
Incorporam-me
Incorporam-nos

Estamos na constante guerra
De se entregar aos deuses
De entregar aos deuses

O que irão fazer os deuses
Com a nossa miséria?
Tornam-se demónios.

Edição: Paulo Passos



domingo, 27 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - DOIS... EM POESIA


SONETO PARA FLORBELA
A Florbela Espanca (In Memoriam)
(Edilon Moreira, BA/BRASIL)

Quisera fosse este presente a uma Flor...
Das criaturas é a mais delicada e bela!
Na vida, na alegria, na tristeza e na dor
A sua presença é marcante e singela!

Nascida como Florbela, de uma outra Flor...
Vertente em Sonetos, duma curta Primavera
Que não se espanca, nem com pena de cor
E louva-se nos versos, por onde se reverbera...

Quisera merecer um soneto e não compor...
E gritá-lo ao ardor por fora da estratosfera
Para ser percebido e causar-te, um fervor!

E repousar, se achegar aonde o amor espera...
E achar teu doce odor, onde jaz a miúda Flor
Aterrada em luso solo, tranquila... Mais etérea!



INSOLÚVEL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aceita uma água
Não
Um azeite
Sim

O incerto
Não aceita
O certo

É tão
Duvidoso
Que aceita
O inseticida



 
Edição: Paulo Passos


domingo, 20 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - O VENTO LEVOU


O VENTO LEVOU
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Parece que vai chover.
Espero que não, homem! Hoje é o aniversário da menina da Dalva.
Que dia é mesmo, Tornica?
É dia 32.
Dia 32, dona Tornica?
Sim homem, é hoje.
O tempo está é bonito!
Tu vais é gostar de sair de casa com guarda-chuva que Marluce te deu! 
Tu gostas é de coisa para acumular, mulher! 
Nada José, vem até uma chuvinha do lado de baixo. Espia só!
É verdade, que milagre é esse chovendo nesta altura do ano? 
Vai lá coisa ruim, mostrar o teu guarda-chuva, que chuva aqui no Sertão é difícil!
Que ventania é essa, meu Deus? 
Ai meu Deus o vento está levando Tornica. Se segura mulher!
Socorro, me espendurei no gancho do guarda-chuva. 
Eu estou indo pelos ares. 
Estou com medo. 
Socorro... estou cada vez mais alto.
E agora meu Deus, o que que faço para ajudar a minha mulher, a minha Tornica?

Foi um alvoroço mendonho no Vale da Pipa. Não tinha como controlar o vento e a danada da dona Tornica é tão magra, que a ventania passou, e a danada não descia de jeito nenhum, e o povo sem saber o que fazer, para acudir.

A pobre nunca comeu uma fruta; não tem um dente na boca; o osso dela é igual a papel...
Credo, essa criatura não tem carne naquele corpo, tem só pele e vento dentro dela.
O prefeito parece um boi, de tanto comer. 
A vaca dele gastando dinheiro para fechar o estômago.
Onde estão os bombeiros, que não chegam!
Bombeiros só na capital, meu filho. Daqui para amanhã eles chegam.
Ela não pode passar a noite ao relento, no escuro!
Chegaram os bombeiros. Chegaram os bombeiros. 
Até que enfim.
Vocês vão fazer o quê, para descer a minha mulher?
Infelizmente não podemos fazer nada que a escada que temos é de 70 metros, e a mulher está mais ou menos ha uns 300 metros do chão.
E qual vai ser a solução, meu Deus?
Infelizmente não temos, Sr José.
A culpa é dos políticos que privatizam tudo e nós pagamos para viver e dar luxo à esses mangotes de chico-espertos.
É verdade! 
Nós somos escravos dos ricos e ainda ensinam aos nossos filhos que ser rico é para poucos, vocês roubam dos mansos e vivem nos escravizando.
É verdade!
A escravidão não acabou, os espertos mudaram a forma de nos escravizar.
O político tem auxílio de tudo, até de roupa.
O manso, que é o pobre, sai do Sertão se tiver o dinheiro da passagem. 
Vai para a cidade grande passar fome, sede, dorme no canto de parede e, quando trabalha, é para pagar o aluguer e comer. Não sobra nada. Nem para roupa e muito menos para ir ao dentista. 
Pior, tem ainda tem ser gente que ri da desgraça do desdentado. 
E político tem de tudo e mais um pouco.
A pele chega a brilhar de bem tratada. 
Até parece um boi bem tratado, gordo e pronto para o abate.
E a coitada dessa mulher aí, o vento levou.
Não existe rico. 
Existem corruptos e doentes do caráter, assim como existem pessoas mansas, que o permitem.
Se o político tira férias é porque o trabalhador não tira e deixa.
Porque o rico explora e rouba o manso, e este aceita tudo de boca costurada.

Já é boquinha da noite, no Vale da Pipa, e a mulher não desce...!

Vamos fazer assim: já que a polícia está aqui, vamos pedir que eles atirem no guarda chuva e aí nós pegamos numas cobertas e seguramos a danada. 
O que você acha, José?
Eu não tenho o que achar! Já que não tem outra solução, temos que arriscar.
Sr. polícia tem como algum de vocês atirar no guarda-chuva, para ver ser a mulher desce?
Tem sim. Deixa-me chamar o cabra que atira numa laranja no ar.
Depois de cinco tiros a pobre da dona Tornica começou a descer, a pairar e... olhem só, nem precisou dos homens a amparar. 
A infeliz era magra de verdade... igual a fome.


Edição: Paulo Passos






PIMPÃO VERMELHO ASSADO COM ALECRIM


Ingredientes

- 1 pimpão vermelho
- Chu-chu
- Bróculis 
- Alecrim
- Louro
- Sal
- Malagueta
- Azeite


Modo de preparação

Coloque o alecrim dentro da assadeira.
Regue com um fio de azeite e sal.
Coloque o peixe inteiro sobre o preparado.
Retoque com sal, azeite e malagueta.
Esfregue suavemente e deixe absorver.
Cubra com papel de alumínio e leve ao forno a 180º.



Num tacho com água, sal e uma folha de louro,
coza os chu-chus e os bróculis, 
que servirão de acompanhamento,
bem regados com o molho criado pelo assado.


Enjoy... 
Enjoy your sunday...!

Edição: Janiel Martins

domingo, 13 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - CURRAL


CURRAL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Símbolos
As cancelas são

Representam
Dizem
De animais encurralados

Em cada curral um rei
Para cada rei
Um calhamaço de escravos

 Ser em anseio
Em anseio ser...
Habitantes da terra
Não de um curral

Levantar a cabeça
E baixar o orgulho
Não aos reis nos currais
Não aos reis dos currais

Mansos
Idolatrando a falsa grandeza
Tanto orgulho menor
E em vão

A vida é e ocupa...
Ocupa uma pequena temporada

Aos reis a dor é alheia
É alheia e a felicidade em arena

Aos mansos
A riqueza é mísera e alheia 
É um sonho continuado

Sonham 
O sonho é...
É o abismo e a crença
O pensar é o freio sapiens
É o freio do homem (o sapiens)

Sustentar quem e...
Sustentar até quando?

Maria não luta para viver
Resignou no coletivo

Adoeceu de tanto bucho vazio
De tanto parir
De tanto pagar aluguer


Edição de: Paulo Passos