domingo, 1 de setembro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - ALEXANDRA, ASSISTENTE VIRTUAL (I)


ALEXANDRA, ASSISTENTE VIRTUAL (I)

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Dona Maria, saiu o prémio, da fábrica, para nós.

Foi mesmo?

Foi, e foi um prémio até bom.

Já sei que o jantar de Natal vai ser muito bom.

Vai sim, vai ter um passeio de helicóptero.

É mesmo.

É sim, mas seu António vai entrar com uma parte.


Será que NASA vai-nos responder ao email, seu António?

Claro que sim, este dinheiro vai fazer o bem à humanidade.

O que essas senhoras vão fazer com 200 milhões de euros!?!

É mesmo.


Comadre, já comprei o vestido e um salto para o jantar e o passeio de helicóptero.

Eu também, comadre.


Comadre, que helicóptero estranho, não tem a hélice.

É mesmo.

Mas o meu neto tem um drone que tem quatro hélices bem pequeninhas, deve ser do mesmo fabricante.

Comadre esse negócio treme demais.

É estranho.

Por favor, sente-se na cadeira e aperte o cinto no máximo.

Comadre, tem uma mulher falando

Sim tem mesmo, desculpa por não ter me apresentado eu sou a Alexandra, a sua assistente de bordo.

Ham...

Sim, eu sou Alexandra, irei te acompanhar nesta viajem a marte, que durará 2 anos, pois estamos no ponto mais distante.

E cadê o nosso jantar de Natal, Alexandra?

O vosso jantar está dentro desta gaveta.

Recomendo seguir as minhas orientações, pois só teremos esta comida.

Comprimido!?

Eu quero leitão e vinho verde.

Infelizmente, Dona Maria, não posso realizar o seu desejo, pois estamos em gravidade zero, a comida não seria digerida.

Comadre, olha lá para baixo.

Só tem escuridão e uns pontinhos de luz.


Alguma dúvida?

Quero voltar para casa.

Infelizmente não tenho autonomia para isso.

Alexandra, porque você nos trouxe para aqui?

Porque vocês ganharam o maior prémio da lotaria Europeia e, com isso, vocês iriam produzir muitos danos à natureza.

É verdade, já estava pensando em soltar aqueles peidos gostosos, quando o leitão começasse a digerir.

Os gases fazem muito mal para o meio ambiente.

Os gases ...



domingo, 25 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (V)

13 e 99 (V)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Tu querias parar aqui na terra para sempre 66?
Acha que eu sou doido, 13?
Porquê, 66?
Com esse mundão todo eu ia ficar aqui para sempre? Nada disso, eu quero é concluir a minha sina aqui na terra e partir para conhecer o vale do mundo sem fim. Deve ter cada bicho bonito noutros lugares que a nossa mente nem é capaz de imaginar. Devemos sentir aquele medo do novo, do mistério, o prazer do medo de não tocar de vez. O nosso espírito vai ver cada cor que nem imaginamos enxergar, que o espirito tem um visão muito apurado 13. E quero ouvir o barulho que o mundo faz...
É o espírito também tem ouvidos?
Claro 13, nós entendemos o que os outros falam dos sonhos, é porque os espíritos nos escutam! Deve ser um ruído muito bonito, aquele som que você deve procurar de onde vem e ficar encantado com a distância. 

Quando eu me desligar do corpo eu vou passar um bocado de tempo na terra, para mim me orientar e depois vou para a lua, aí vou ficar de lar para a terra...

E se tu for todo queimado, pelas tuas maldades? Lembre se a criança que coloca a boca no peito, colocar a pontinha do dedo, já é queimada. E tu já mamou muito e fez outras coisas. Pára com isso 13.
Só avisei.
Depois vou descobrir outros lugares e sigo descobrindo a minha casa sem fim.
E tu vai levar quem com tu 66?
Nós não levamos ninguém.

Os outros espíritos entram nos nossos caminhos e saem quando cumprirem a sua sina.

domingo, 18 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (IV)

13 e 99 (IV)

(Janiel Martins, RN/Brasil)


66, e como foi feito o mundo?
O mundo era todo escuro, da cor de tirna de fogão a lenha, mas bem mais escuro ainda.
Aí, nessa escuridão, começaram a criarem-se uns fiozinhos bem fininhos mesmo.
Então, esses fios começaram a pensar, porque um começou a bater no outro, oi, oi. 
Aí, nessas batidas, começaram a pensar, só que nem eles sabiam o que estavam pensado.
Só que eles estavam pensado, porque um batia no outro.
Um dia esses fios de tanto pensaram explodiram e pegou fogo no mundo inteiro.
Aí, daí as cinzas formaram pedras e as pedras foram-se desgastando e formaram a terra e os outros cantos do mundo, que o mundo não tem nem início e nem fim.
E a vida, 66?
Calma 13, que eu vou falar.
Aí, se formou tudo: a lua, o sol, que é uma tocha de fogo tão grande que nós não temos noção do tamanho. Nós só temos noção abaixo da nossa altura e o pensamento é que sabe do resto.
Aí, 13 tudo estava pronto.
O pensamento continuava vivo...
E não morreu na explosão?
Nada disso, o pensamento não morre, cada vez cresce mais e o melhor de tudo é que eles começaram a enxergar, por causa do sol e das estrelas que se formaram.
Aí uns pensamentos se transformaram em árvores e outros se transformaram em bichos e nós somos parte de um pensamento desses.
Mas não sabemos onde vamos parar.

domingo, 11 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (III)

13 e 99 (III)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Pois é 13, o pensamento é uma tochinha de fogo bem pequeninha que vê tudo e constrói tudo.
O nosso pensamento anda na nossa frente 13. 
Às vezes a pessoa está dormindo, aí acorda com aquele sopapo. É o espírito nosso que está bem longe, bem longe mesmo e precisa de voltar às pressas, por isso que dar aquele sopapo.
É verdade 66, eu já tive isso. Dá um medo daqueles.
Era o teu espirito que estava em risco e teve que voltar às presas.
E digo mais: tu não te podes aproximar muito da luz das estrelas, não. O espirito pode desaparecer dentro das estrelas.
As estrelas devem ser as cadeias dos espíritos ruins, 66.
É verdade 13. Ou pode ser a cama dos espíritos.
66, no outro mundo é um mistério tão grande que os espíritos esquecem que viveram na terra.
Deve ser bom demais 13, para eles não quererem voltar!
Pois é 66, mais tem um porém. Todo o mal que fizemos aqui, vai ser descontado la. Dizem que se uma criança veio à terra e mamou um vez e morreu, ela vai ter a pontinha do dedo queimada, e segue as suas andanças pelo o outro mundo, imagina nós adultos, 13!
Mas o pecado maior é magoarmos as outras pessoas. A igreja inventou todo tipo de pecado e continua a pecar 66.
13, nós também vamos ganhar uma tocha de fogo para ser a nossa companhia no outro mundo, porque lá tem trevas tão tão grandes, que ninguém sabe quantos anos vamos viver dentro dela. Quanto mais honesto você for aqui na terra, maior vai ser a tocha de fogo.
Nós vamos conhecer pessoas que vão querer a nossa tocha de fogo, mas nós não vamos poder dar, porque as tentações vão querer-nos ver desesperados. Assim como aqui na terra, tem a maldade no outro mundo. "Mundo" não, no outro plano, porque a vida é a mesma, só muda que não vamos ter o corpo.

domingo, 4 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (II)

13 e 99 (II)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

13, tu sabes porque as pessoas não sonham noutros planeta?
Não, 66!´
É porque, se as pessoas sonhassem noutros planetas, elas não sabiam voltar para casa, porque é muito longe. Nós não temos a noção de tamanho, só imaginamos, mas quando morrermos, o universo vai ser a nossa casa.
Como assim, 66?
13, o nosso pensamento é um tochinha de fogo, bem bem miudinha, mas bem miudinha mesmo, que nem os olhos conseguem ver. 
Quando nós morrermos essa tochinha de fogo se desliga do nosso corpo e vai embora para onde nós sonhamos ir. E lá já está tudo o que desejamos. Quando nós dormimos estamos lá contruindo a nossa casa. Claro que, às vezes, estamos passeando também.
É verdade 66?
É sim 13. 
Tu precisas de olhos para ver?
Preciso, 66.
Mas 13 e tu sonha como?
Dormindo.
E estás como, 13?
Deitado.
Mas com os olhos como?
Fechados.
E tu precisaste dos olhos para ver?
Não, 66.

domingo, 28 de julho de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (I)

13 e 99 (I)

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Bom dia 99.
Bom dia 13.
Sabias que tu estás de cabeça para baixo, 99?
Não, 13. Não sabia.
Pois estás. Na verdade és 66.
É bom saber. Só assim volto para casa, pois estou ardente, perdido.

Ir é muito fácil, o caminho que arde é o da volta.
E tu treze, estás bem?
Estou sim, apesar de me julgarem com azarado.
Mais não tenho nada disto. Pelo menos sou eu mesmo.
Às vezes penso que pessoas andam muito a frente.
É verdade. Mas será que andam, mesmo?
Pois é 66, os sentimentos andam muito à nossa frente.
Por isso é que há muita gente perdida no mundo.
É da ambição ...

domingo, 21 de julho de 2024

CAFÉ COM LETRAS - GRAMA DO SERTÃO


GRAMA DO SERTÃO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Seu Severino, o que aconteceu no dia de ontem?
Eu, como de costume, fui até o bar de seu Geraldo tomar uma, que eu gosto, para tirar o amargo da vida. Quando acordei já estava aqui.
Quer dizer que o senhor não lembra do restante da história?
Não. Lembro não.
A sua jumenta comeu toda a grama da praçinha da Tapuia.
Quem manda plantar capim em praça pública? Nem um mato verde tem cá na terra!
Não tiro sua razão. 
Mas o povo é que chamou, comentando que a sua jumenta estragou o património público.
Estou lascado... a minha jumenta me colocou numa emboscada.

domingo, 14 de julho de 2024

CAFÉ COM LETRAS - RASGUEI


RASGUEI
(Janiel Martins, RN/Brasil)


Fui lançado em uma linha reta.

Rasguei a minha alma.

Se não me olhar, não me costurarei.

domingo, 7 de julho de 2024

CAFÉ COM LETRAS - SENÃO ACORDAIS


SENÃO ACORDAIS

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Estou com medo.

...

Estou com saudades.

Saudades do vento da serra e da paz.

Saudades do cheiro de casa.

Tantas saudades do cheiro da casa.

...

Algumas tempestades me afligem. 

Gosto do medo. Faz-me pensar mais e leva-me a procurar casa. 

Admiro as casas das pessoas.

Fumarolo, tu tens casa?

Eu lá quero saber, disto (?).

Fixe, como tu sois bravo.

Continua, senão acordais.

...

Cada uma tem um cheiro, uma identificação.

 Uauuu.


domingo, 30 de junho de 2024

CAFÉ COM LETRAS - ANOITECE


ANOITECE

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Anoitece em Porto Santo.

O céu já está estrelado e o mar não dorme.

As estrelas estão distantes.

Hoje não procuro a distância alheia.


Quem? 

Um pedaço de carne que evoluiu e insiste em viver.

O alheio não nos pertence.

O que nos pertence?

A fome é feia mas tem impulso.


Às vezes me sinto triste por estar em silêncio.  

O silêncio é uma arma perigosa.

Teremos que nos caçar para viver?