domingo, 3 de janeiro de 2021

CAFÉ COM LETRAS - AS ESTRELAS PENSAM


AS ESTRELAS PENSAM

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Estás com o pescoço torto assim, porquê?

Um raio me levou às estrelas.

Cuidado que as estrelas queimam.

As estrelas pensam?

Pobre do homem que não sabe que as estrelas pensam.

Pobre de uma criança que as mães lhes cortam as unhas.

O pensamento é bonito.

As estrelas são grandes.

O pensamento quer ir para perto das coisas.

Uma estrela explode quando o homem pensa.

Escurece e arrefece.

É bom o frio criador do pensamento. 


Edição: Paulo Passos

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - O BAILADO EM UM QUARTO


O BAILADO EM UM QUARTO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Vai devagar, caralho

Está doendo

Fode caralho, bata mais.


O que foi? O que está acontecendo?


Tereza olhou para Izaque, com um olhar de decepcão.

Izaque faz birra e vira-se para o outro lado, sem se vir.


Ai meu Deus eles estavam fodendo, quem os mandou fazerem barulho? Eu jurava que eles estavam brigando.


Izaque, está na hora de ir trabalhar!

Já sei.

Eu estou indo, que vou sacar o dinheiro para pagar a renda do quarto.

Um dia, Izaque, vamos ter a nossa casa.

Um dia eu ver morrer Tereza, sem ter a dignidade de ter vivido. 

Somos imigrantes mofando dentro de um quarto, sem poder peidar, cagar, foder, acreditando (no engano) que amanhã vai ser melhor.

Temos que ter paciência, que tudo vai dar certo, Izaque.

Paciência é um perigo. Fodemos em silêncio. O tesão é mais ódio e desamparo do que prazer. Prazer é comer e ficar satisfeito.


O meu juízo produz estrelinhas que já não são pensamentos.

O que é isso Izaque?

É o suicido do pré-pensamento, Tereza.

O meu sonho é ter a minha casa e um trabalho que digne a igualdade, Izaque!


Os animais são separados quando aprendem a comer. 

Os humanos não tem coragem de largar a cria. 

Tornamo-nos adultos cheios de mofo atrás de um sonho falso e fedendo a um suor alheio, que também é o nosso, onde a fome se habita corroendo a humanidade.

As palavras tornaram ordem mas o sentimento é o alheio.


Penso pelos meus ossos, pelos dentes que já perdi, pela fome que já senti, pelas desigualdades.

Quando falaste em morte, as estrelinhas explodiram com medo, dentro do meu juízo, Izaque.

As estrelinhas são sabidas. 

As pessoas trocaram sentimentos por palavras ausentes.

Fizeram-nos movimentar e ver.

Os homens desaprenderam de pensar. 

E foram todos copiados.








Edição: Paulo Passos

domingo, 27 de dezembro de 2020

ROBALO ASSADO NO FORNO

 

Ingredientes:

- 1 robalo 

- Batatas

- Couve

- Cebola

- Louro

- Vinho branco

- Azeite

- Sal

- Pimenta branca

Modo de preparação:

Depois de amanhado, deite o peixe numa camada de cebola e 

tempere com sal, louro, pimenta e verta um fio de azeite.

Escalde as batatas durante uns 3 minutos e coloque-as em volta do peixe. 

Leve ao forno até que o dourado se comece a instalar.

Acompanhe com couves cozidas em água e sal, regadas

com o molho da assadura do peixe.

Pois...!


Edição: Janiel Martins


domingo, 20 de dezembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - NOIVA DO SOL




NOIVA DO SOL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Presente, por ondes andas?
No passado.
O que procuras?
O futuro
O que achaste?
O passado.
O que é o passado?
É o presente, agorinha.
O que é o presente?
É uma concentração de pesamentos, de vidas passadas que procuram os caminhos para a cidade encantada.
 
Dizem que a lua é o terreiro da almas.
É para lá que que os pensamentos vão quando o corpo adormecer na terra.
Iremo-nos sentir perdidos!
Não iremos mais perguntar: "de onde viemos?" nem "para onde iremos?".
O corpo já não terá influências terrenas. 
Seremos corpos do universo.
Iremos aprender o caminho para a cidade encantada.

As almas sabem que existe altura, fundura e lados.
As almas estão procurando a cidade encantada que fica nas profundezas do universo.
Corpo humano algum chegará a cidade encantada.
Só o pensamento, depois que o corpo descansar sob a terra, irá iniciar o seu percurso, rumo até lá.

E quem somos nós?
Somos pensamentos que vieram de outros mundos.
E como o pensamento nasceu?
Do tempo.
O tempo era escuro e frio.
De tanto frio congelou.
De tão pesado explodiu dando origem ao fogo.
Do fogo nasceram as cinzas, depois as rochas e é claro a água.
Depois as coisas começaram a ganhar sentimentos.

Já se imaginou uma planta que não sinta e pense?
Ela não cresceria e as flores não nasceriam.
São tão delicadas.
Quem escolheu serem tão bonitas?
Elas se arrumaram para se mostrarem ao sol.
As flores, todos os dias, se perguntam: "porque o sol não me vem pegar?"
Pena que o sol não tem pernas.
Tem os raios.

Já o homem é amargo.
Deve ter vindo de muito longe, do sítio perdido.
Sem paciência para namorar o sol e as estrelas.
Sem saber sentir o tesão de se assustar com a noite ou de calcular a distância (do ôco) da cabeça ao sol.

Inveja da lua e uma raiva silenciada pela sua majestadade.
Será a vontade de para lá ir?
A lua foi amante dos que partiram da terra.
De lá desceremos rumo a cidade encantada: o Breu.















  Edição:  
Paulo Passos


domingo, 13 de dezembro de 2020

SOPA DE CHU-CHU, GRÃO E CHOURIÇO

Ingredientes:

- Chu-chu
- Cenoura
- Cebola
- Aipo
- Alho
- Louro
- Azeite
- Sal
- Pimenta
- Hortelã
- Cebolinho
- Couve
- Grão de bico
- Chouriço
- Pão
- Vinho tinto


Modo de preparação:

Numa panela refogue, em azeite, 2 cebolas médias, com o louro e uma pitada de sal.
Adicione água, o chouriço, o pé de hortelã, 2 chu-chus, 2 cenouras, 3 dentes de alho, 
um talo de aipo e os talos das folhas de couve.
Deixe cozer e misture um pouco de pimenta, moída na hora.
Retire o louro e o chouriço e faça um puré (use o liquidificador).


Corte as folhas de couve e verta no puré.
Deixe cozinhar mais um pouco, em lume brando.
Junte uma lata de grão cozido.
Desligue o fogo, misture o cebolinho picado e mexa suavemente.  


Deixe repousar e arrefecer o seu suficiente.
Acompanhe com o chouriço, pão caseiro e um copo de vinho tinto.

Edição: Janiel Martins










domingo, 6 de dezembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - O ÚLTIMO ABRAÇO



O ÚLTIMO ABRAÇO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

(Sertão da Tapuia, 1998)

Vai tu.
Vou não, mãe tá brabo com eu.
Eu vou.
Mãe, deixa nós ir brincar debaixo do pé de imbu? 
Nós não vamos brincar no sol, não é minha mãe?

Sei, seu cabra de peia.
Podem ir mas fiquem na sombra.
E não trangam mais esse bocado de ossos para dentro de casa, não.
É os nosso boim de brincar, minha mãe!
Sei, mas eu não quero isso aqui dentro não, que ta cheio de bicho.

Vou fazer um curral e deixar eles lá dentro minha mãe, que é para eles não fugir.
E desde quando que eles têm perna?
É mesmo minha mãe!
Só tem a cabeça bem grandona e o corpo dem magrinho e grandão.

(O chão branco do sertão, com as rochas distantes, assim como as únicas plantas que sobrevivem na seca, nos leva a uma distância, sem cores.)

Meu irmão, olha só como o céu é bem azuzinho.
É mesmo, mas é muito longe o céu. 
O sol mora sozinho no céu?
Não, o sol tem uma namorada. Meu pai falou.
E quem é?
É a lua.

(O silêncio faz parte do Sertão, mas de repente pareceu que o céu estava desabando sobre ele.)

Minha mãe, o que foi aquilo?
Aquilo é avião, meu filho.
E o que é isso?
São coisas dos homens que tem muito estudos e fizeram aquilo voar igual a passarinho, só que faz muito barulho e medo.
Eu pensava que eles tinha vindo para carregar nós, minha mãe!
Está com medo meu filho?
Estou com muito medo.
Fique com medo não meu filho, que a mãe está aqui para proteger vocês. 
Podem brincar dentro de casa e vão pegar os boi.
Vou não, minha mãe.
Eu também não; tou com medo.
Então eu vou, meus meninos. 
Será que correram com medo dos avião, minha mãe?
Eu acho que foi mesmo.
Mas eles não tem perna. 
São só osso de brincar de boim.

Mas na hora do susto, a pessoa não pensa não, só quer é se proteger.
Vamos lá ver minha mãe.
Vamos!
Deixa eu pegar na tua mão.
E eu também.

(O vento veio e o grilo cantou lá longe.)

Os boi fugiram mesmo.
Será que foi os avião que carregaram os nosso boim de brincar?
Acho que eles fugiram com medo, meu filho.

Minha mãe, como que é o avião?
É um passarinho de ferro com duas asas.
Como será que é feito?
São os homem que tem muita inteligência que fizeram o avião voar.

Faz muita zuada. 
Eu pensava que o sol estava caíndo em cima de nóis, minha mãe.
Eu vou fazer um avião que faça muita zuada, não.
É mesmo meu filho?
Vou sim minha mãe, que eu pensei que ia morrer.


                                                                                                                                                         Edição: Paulo Passos

domingo, 29 de novembro de 2020

COZIDO DE ENCHIDOS


(receita de aproveitamentos, extremamente rápida e económica)

Ingredientes:

- Enchidos de diversas regiões
- Couves
- Cenouras
- Limão

Modo de preparação:

Aproveite couves (e demais legumes) de outra refeição.
Coza os enchidos.
Aqueça os legumes no caldo de cozinhas os enchidos.
Emprate e regue com sumo de limão.
Acompanhe com um bom pão (mesmo de dias anteriores).

Um copo de vinho e satisfação... na poupança...!

Edição: Janiel Martins









domingo, 22 de novembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - O BARCO QUE ME PUXA


O BARCO QUE ME PUXA

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Era a inocência, o encanto.

Ser adulto é o magnético que suga para a terra.

E os ossos que já estão tão podres, quanto os poucos dentes.

O que resta é olhar para uma parede e pensar quantos olhos viram.

Nao tenho coragem de me despedir da parede, do castelo que tantos olhos viram.

Solidão... é o que dói.



Edição: Paulo Passos



domingo, 15 de novembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - VIDA


VIDA

(Janiel Martins, RN/Brasil)


É uma foda alheia

Do sentimento consolo

A inveja é um sentimento do alheio.

A tristeza é saber que o corpo é uma estrutura tão frágil como uma flor.

As flores se vestiram para olhar o mundo.

Com a sua melhor roupa.

Os olhos da flor estão onde, doido?

No pensamento.

A nossa visão não passa de um belo batido que o tempo fez.

Que tristeza saber que um dia a matemática do tempo se distanciará do corpo e da flor.

Sairei feito um raio.

Olha que quando cai um raio nasce um pedra.

Eu vou virar um pedra.

Sim uma pedra.

Tão pesada quando o sentimento.




Edição: Paulo Passos

domingo, 8 de novembro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - PENÚRIA



PENÚRIA
(Janiel Martins, RN/Brsail)

E como o pensamento nasceu?
Do tempo.

O tempo era escuro e frio.

De tanto frio congelou.
De tão pesado explodiu dando origem ao fogo.
Do fogo nasceram as cinzas, depois as rochas e é claro a água derreteu.

As coisas começaram a ganhar sentimentos.
 A seguir, a pensar sobre eles, para fazer gente e, depois, quem sabe até (?) modernizar.

Às vezes o pensamento adoece. 
Fica delírio.

E o homem delira.
Fica amarrado na sua gruta.
Só lhe obedece.
 E intoxica o que pisa.

Está a penúria.