Antero de Quental. Fonte da imagem: internet.
AMOR VIVO
(Antero de Quental, Portugal)
Amar! mas d'um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
D'uma douda cabeça escandecida...
Amor que vive e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser — e não só beijos
Dados no ar — delírios e desejos —
Mas amor... dos amores que têm vida...
Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipa-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
D'uma douda cabeça escandecida...
Amor que vive e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser — e não só beijos
Dados no ar — delírios e desejos —
Mas amor... dos amores que têm vida...
Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipa-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...
Nem murchará do sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra débeis amores... se têm vida?
Pois que podem os astros dos espaços
Contra débeis amores... se têm vida?
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Fonte da imagem: internet.
Embrião, 20 X 15, acrílico sobre tela: Janiel Martins, RN / Brasil.
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Canto da Maia. Fonte da imagem: internet.
(Ernesto Canto da Maia, Portugal)
Escultura de Canto da Maia. Fonte da imagem: internet.
Carlos Drummond de Andrade. Fonte da imagem: internet.
AMAR
(Carlos
Drummond de Andrade, MG / Brasil)
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados,
amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na
brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou
simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração
expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em
sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou
nulas,
doação ilimitada a uma completa
ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura
medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e
na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo
tácito, e a sede infinita.
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José Régio. Fonte da imagem: internet.
SONETO DO AMOR
(José Régio, Portugal)
Não me
peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
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Olavo Bilac. Fonte da imagem: internet.
DEIXA QUE O OLHAR
(Olavo Bilac, RJ / Brasil)
Deixa que o olhar do mundo enfim
devasse
Teu grande amor que é teu maior
segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes, se
mostrasse?
Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a
face:
Quero que os homens todos, quando eu
passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Desse amor, que minh`alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo.
Ouço em tudo teu nome, em tudo o
leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.
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