terça-feira, 27 de setembro de 2016

CAFÉ COM LETRAS - DETALHES QUE DIZEM AMOR

Antero de Quental. Fonte da imagem: internet.

AMOR VIVO
(Antero de Quental, Portugal)

Amar! mas d'um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
D'uma douda cabeça escandecida...

Amor que vive e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser — e não só beijos
Dados no ar — delírios e desejos —
Mas amor... dos amores que têm vida...

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipa-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia... 

Nem murchará do sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra débeis amores... se têm vida? 


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Fonte da imagem: internet.

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Embrião, 20 X 15, acrílico sobre tela: Janiel Martins, RN / Brasil.

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Canto da Maia. Fonte da imagem: internet.

(Ernesto Canto da Maia, Portugal)

Escultura de Canto da Maia. Fonte da imagem: internet.

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Carlos Drummond de Andrade. Fonte da imagem: internet.

AMAR
(Carlos Drummond de Andrade, MG / Brasil)

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

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José Régio. Fonte da imagem: internet.


SONETO DO AMOR
(José Régio, Portugal)

Não me peças palavras, nem baladas, 
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio, 
Deixa cair as pálpebras pesadas, 
E entre os seios me apertes sem receio. 

Na tua boca sob a minha, ao meio, 
Nossas línguas se busquem, desvairadas... 
E que os meus flancos nus vibrem no enleio 
Das tuas pernas ágeis e delgadas. 

E em duas bocas uma língua..., - unidos, 
Nós trocaremos beijos e gemidos, 
Sentindo o nosso sangue misturar-se. 

Depois... - abre os teus olhos, minha amada! 
Enterra-os bem nos meus; não digas nada... 
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce! 


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Fonte da imagem: internet.

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Olavo Bilac. Fonte da imagem: internet.


DEIXA QUE O OLHAR
(Olavo Bilac, RJ / Brasil)

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes, se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Desse amor, que minh`alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo.

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.

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Janiel Martins

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