DEBAIXO DO SONO
(Janiel Martins, RN/Brasil)
A flor dorme de noite.
Acorda com o sol.
Tem uma insónia modo da lua.
Acorda flor já é de manhãzinha!
Eu sei.
A minha pele virou uma casca.
As raízes irritadas queimam os meus neurónios.
Mas não tenho mãos para coçar a minha pele.
Tu tens umas pétalas tão bonitas. Elas servem para quê?
Neutraliza o frio o calor e deixa-me pensar que não existo.
São os pensamentos materializados, e o pedaço de pau que me segura no chão é verme da terra.
Eu tenho dois pés, consigo me movimentar, flor!
Um dia eu saio daqui.
Como tu conseguiste andar?
Flor, eu acho que eu um dia fui uma minhoquinha e a minhoquinha quis ver o mundo.
Aí falou para todas as minhoquinha e todas as minhoquinhas quiseram andar.
Depois de muito tempo conseguiram.
Primeiro quero ver o mundo.
Chega de tanto frio, minhoquinha.
Eu não sou mais minhoquinha não, flor.
Sou um menino e tenho dois olhos, que são para ver tudo.
Tenho dois pés e duas mãos.
Você quer dar um de cada para mim, menino?
Bem que eu queria dar, só que não posso.
Se eu arrancar um de cada, volto a ser uma minhoca.
Porquê?
A terra roda muito depressa e dá tontura.
Se ficar só com um pé, tombo.
Agora os olhos, não sei porque temos dois.
Edição: Paulo Passos
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