domingo, 17 de janeiro de 2021

DEBAIXO DO SONO


DEBAIXO DO SONO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


A flor dorme de noite.

Acorda com o sol.

Tem uma insónia modo da lua.


Acorda flor já é de manhãzinha!

Eu sei.

A minha pele virou uma casca.

As raízes irritadas queimam os meus neurónios.

Mas não tenho mãos para coçar a minha pele. 

Tu tens umas pétalas tão bonitas. Elas servem para quê? 

Neutraliza o frio o calor e deixa-me pensar que não existo. 

São os pensamentos materializados, e o pedaço de pau que me segura no chão é verme da terra. 

Eu tenho dois pés, consigo me movimentar, flor! 

Um dia eu saio daqui.

Como tu conseguiste andar? 

Flor, eu acho que eu um dia fui uma minhoquinha e a minhoquinha quis ver o mundo.

Aí falou para todas as minhoquinha e todas as minhoquinhas quiseram andar.

Depois de muito tempo conseguiram.

 

Primeiro quero ver o mundo. 

Chega de tanto frio, minhoquinha. 

Eu não sou mais minhoquinha não, flor.

Sou um menino e tenho dois olhos, que são para ver tudo.

Tenho dois pés e duas mãos. 

Você quer dar um de cada para mim, menino? 

Bem que eu queria dar, só que não posso.

Se eu arrancar um de cada, volto a ser uma minhoca.

Porquê? 

A terra roda muito depressa e dá tontura.

Se ficar só com um pé, tombo. 

Agora os olhos, não sei porque temos dois. 


Edição: Paulo Passos


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