BURACO DE PAREDE II
Tu vai vir amanhã, Josivaldo?
Vou sim que amanhã não vai ter lua e eu vou carregar tu, pra modo nós ter a nossa vida.
Não sei se eu vou ter coragem, porque a porta faz muito barulho quando vai abrir.
Tu pula pela janela.
É mesmo, a janela não faz muito barulho, já a porta, o pai ia dar um pulo danado da cama.
Bora dormir, Terezinha, está na hora.
Já vou, meu pai.
Tchau Terezinha.
Um cheiro, Josivaldo.
Outro no cangote cangote e arrume as tua roupa.
(O dia no Sertão passa acompanhado o sol. É longo. Nos dias que chove, não é um dia, é uma festa, no olhar de cada sertanejo.)
Mulher, o filho de Antonhe Grande é corajoso. Tá um escuro medonho e o cabra veio olhar a nossa filha. Eu coloquei o pinico debaixo da cama. Eu saio nem me pagando uma fortuna.
Escutou?
O quê, homem?
(Houve um abraço e adormeceram. O galo cantou. Um frio entrava na casa. A luz não acendia.)
Mulher, mulher.
O que foi, homem?
Tu botou gás na luz?
Não, porque está cheia.
Está entrando um vento forte!
Terezinha, Terezinha, tu deixou a porta aberta?
Deixa a menina dormir, José.
Vamos fechar a porta.
Segura a luz, mulher.
É a janela
Tais pensando o que eu estou pensando mulher?
Será que o danado carregou a nossa filha?
(A rede de Terezinha estava vazia. Um vazio junto de culpa e felicidade encheu a casa com sentimento desconhecido.)
Aquela danada não entra mais aqui.
Não fale isso, homem.
Desonrou antes de conhecer o cabra direito.
(Deitaram na cama, sem uma palavra a mais.)
Não tenho mais compromisso com Terezinha.
Ela é a nossa filha
Tua, minha mais não.
(Se eu continuasse a falar, o homem enlouquecia.)