RE-edita-se, porque fundamental e as evoluções são tão, universalmente, pálidas ...
... quando até regressivas ...!
... quando até regressivas ...!
(DMC)
Em 02 de Junho de 2017
Ex.mo Sr. Poder Institucional e Político
Bom dia
Hoje, como em qualquer dia 2 de Junho, ou como qualquer dia 31 de Maio, ou noutro qualquer dia, existem crianças.
Sabe o que é? Não é um conceito ...!!!
Sabe o que é? Não é um conceito ...!!!
Ontem foi um dia de "festa", em que V.ª Ex.cia andou bastante atarefado a dar beijinhos nas criancinhas das escolinhas e escolonas, a fazer festas (repelentes, está de se ver!) nas cabecitas da canalhada (que detesta!) alheias à sua presença, que se viam numa correria estranha ao dia-a- dia.
Pior ,..., ter vivido as repugnantes e antecipadas ideias que lhe surgiam à memória em 31 de Maio, sempre que a (terrífica) visão do dia 1 de Junho se imponha aos seus olhos.
Entende-se todo esse sacrifício ... acordar cedo para ir visitar uma escolinha ... que nunca pensou existir! Ninguém merece ...!!!
Dureza, indubitavelmente ...!!! Dureza ...!!!
Suportar essas antecipações de ansiedade e, sabe-se lá ,..., de angústia, até, ...!!!
Muito desgaste, muito trabalho, muita dedicação e, sobretudo, responsabilidade.
É o dever do sentido de Estado que, naturalmente, em si habita ...!!!
Contudo ... sem esquecer ...!!! ... Hoje, como em qualquer dia 2 de Junho, ou como em qualquer dia 31 de Maio, existem crianças.
Mas, Ex.mo Sr. Poder Institucional e Político ,..., relatando o arraial ... a desejada e ambicionada festa "das criancinhas" ...!!!
Pois ,..., ontem (1 de Junho de qualquer ano) foi um dia chato, sem rosto responsável, só máscara...!!!...
Ter, V.ª Ex.cia, que gramar:
- muita cantilena, mas muita ...!!!;
- muito esmurrar em pandeiretas, tambores e flautas de feira;
- muita dança, tão lindas e bem coreografadas ao sorriso da professora ensaiadora (a com mais jeito para as artes), lá estavam os pequenos, nuns desbotados e desfeitos figurinos de papel, por terem ficado esquecidos, durante uns tempos, no parapeito de uma janela que dá para o recreio da escola, sujeitos à intensidade do sol;
- muito teatrinho;
- muito teatrinho de fantoches (estes, por ventura, os mais ajustados!);
- muita criancinha naturalmente ranhosa, do choro, ou porque caiu, ou porque andou à porrada com outro, ou porque levou uma dentada de outro ... ou porque queria ir para casa ... ou outra coisa qualquer, menos aquilo ...;
- muita bolacha maria, muito rebuçado e amêndoa, muito bolinho de coco e refresco de pacote (misturado em água e açúcar), sempre com excesso de pó para dar mais cor, espalhados pela mesa do refeitório da escola, em jarros de plástico de várias cores;
- muita fatia de bolinho feito de véspera (bem cobertos com os mais lindos e alvos panos bordados à mão) pelas funcionárias e com ajuda das professoras, sendo os ingredientes os que os pais e mães das criancinhas puderam dispensar;
- muito (inapetecível) beijinho;
- muita professora sorridente, orgulhosa e bem trajada, após uma inevitável ida à cabeleireira;
- muitos sorrisos (inválidos);
- muito ar surpreendido (saturado!) pelas competentes façanhas das criancinhas, exaustivamente relatadas pelas professoras (sempre coladas!), na exibição das suas próprias qualificações;
- muita fotografia tirada e, posteriormente multiplicada pelo número de alunos, mais uma para cada professora, outra para cada auxiliar e ainda mais uma para constar (e mostrar ao futuro!) no álbum de recordações da escola;
- muito sorriso disfarçador sequencial a um invasor e inesperado aroma da interioridade intestinal, de qualquer criancinha mais descontraída mas ... aliviada ,..., ou de qualquer adulto mais apertado, sorrindo, tolerantemente, para uma qualquer inocente criancinha ...
Enfim ... e muitas outras delícias que o momento proporcionou ...!!!...
... e a vontade de virar costas a tudo a aumentar ... verdade! ... não é, Sr Poder Institucional e Político?
Entretanto ...
Entretanto ... vai que chegada a hora discursiva ... a comitiva popular (mas mascarada de importante poder, com a devida demarcação de distâncias ... está de se ver ...!!!) ... com muita presunção engravatada e com colares aos peitos (sem deixar sumir o corrosivo sorriso, não fosse alguma professora disparar uma fotografia, para colocar, mais tarde, numa qualquer rede social), se vê defronte para uma plateia de criancinhas, com o quadro como pano de fundo, onde ...
- uma criancinha esgravatava o cérebro com um dedo, entrado por uma narina, revirando a cabeça, a boca e os olhos para se ajeitar no alvo;
- outra, coitadinha, bem que se coçava mas o piolho não dava tréguas;
- outra, com ranho até às orelhas, por se assoar com as costas da mão, arrastando-a pelo percurso do rosto:
- outra comia as sobras das bolachas que tinha conseguido roubar e guardado nos bolsos;
- outra chorava porque tinha bebido refresco em excesso e a barriga inchava na reclamação ao corante;
- outra chorava, também, porque lhe tinham roubado as pegajosas amêndoas sempre bem apertados numa das mãos;
- outra chorava porque via e ouvia os outros a chorar;
- outra também chorava apenas de desespero e impaciência;
- Outra, ainda, também chorava, sem saber porquê ... já toda desgadelhada, com o elástico que prendia o cabelo, no início do dia, meio escambado e já sem a borboleta de feltro e plástico amarelo que o decorava;
- outra criancinha, toda suada do futebol e da entusiasmante gritaria, por mais que a professora insistisse, teimava em não largar a bola, cega para que aquilo acabasse para poder voltar "aos relvados", mesmo com o joelho esquerdo esfolado;
- as professoras e as auxiliares não paravam de dar atenção aos pequenos, numa constante confirmação de dedicação sem, contudo, deixarem de manter o olho nas perfeições dos debutantes oradores, garantindo que estavam a ser vistas e a ver;
... tudo isto sempre ao som da banda sonora e aromatizada, que a garotada ia, intestinalmente compondo, devido aos abusos ingeridos e, eventualmente com a ajuda de alguma professora, auxiliar ou elemento da comitiva, em aproveitamento da deixa dos pequenos, para se abrirem também ...!!!
... tudo isto sempre ao som da banda sonora e aromatizada, que a garotada ia, intestinalmente compondo, devido aos abusos ingeridos e, eventualmente com a ajuda de alguma professora, auxiliar ou elemento da comitiva, em aproveitamento da deixa dos pequenos, para se abrirem também ...!!!
... enfim, estava tudo nos conformes e como manda a lei da repetição ... sempre a mesma coisa, nada muda e ninguém aprende ...!!!
Terminado o discurso ... sempre louvável para os presentes ... vai que os sorrisos, já muito pálidos, começam a não ter disfarce.
Instalada a confusão das rapidíssimas despedidas ...
Toca a andar que se faz tarde ... tudo a desatar para os carros, com o motorista sempre a levar seca, entretendo-se a polir o carro, porque alguma mosca atrevida ali se esburrachou, sem se ter conseguido desviar a tempo, com a velocidade da viatura da comitiva.
O desespero da comitiva agravou-se, quando viram uma professora, atarefadíssima a juntar os pequenos, para a cantiga de despedida, ensaiada com tanto empenho durante semanas a fio para esta ocasião.
Neste momento, sem controlo ...!!!... o defeito do feitio pregou-se na expressão ... com alguma visível alteração do disfarce ...
Mas, na cantoria final, o sucesso não foi completo, pois muitas vozes já se esmurravam contra o cansaço, a saturação e a grande necessidade escarrapachada em toda a cachopada: mais refresco de morango (o preferido pela vivacidade da dor ... diz-se!) e mais brincadeira ... com bolachas, barulho e bola!
As professoras sem descolarem, sempre com mais uma conversita de novidade ou, ainda a tempo de, entre sorrisos, cravar uma resma de papel para os trabalhos das criancinhas ou, pior, fazer salientar a própria existência e dedicação com a disponibilidade de estar apta, para exercer o cargo (tão concorrido) de Secretária de Estado da Educação ou similar (se for da Agricultura ... também não tem problema ...), desde que tivesse a cor da saliência ...
Com os restantes e possíveis esforços, a comitiva, já com um pé dentro do carro, ainda conseguiu esboçar um meio sorriso que terminou num enorme bufar, já com o carro perto dos 100 ... enquanto os pequenos ainda gritavam os últimos versos da letra de uma imperceptível cantiga ...
O desespero da comitiva agravou-se, quando viram uma professora, atarefadíssima a juntar os pequenos, para a cantiga de despedida, ensaiada com tanto empenho durante semanas a fio para esta ocasião.
Neste momento, sem controlo ...!!!... o defeito do feitio pregou-se na expressão ... com alguma visível alteração do disfarce ...
Mas, na cantoria final, o sucesso não foi completo, pois muitas vozes já se esmurravam contra o cansaço, a saturação e a grande necessidade escarrapachada em toda a cachopada: mais refresco de morango (o preferido pela vivacidade da dor ... diz-se!) e mais brincadeira ... com bolachas, barulho e bola!
As professoras sem descolarem, sempre com mais uma conversita de novidade ou, ainda a tempo de, entre sorrisos, cravar uma resma de papel para os trabalhos das criancinhas ou, pior, fazer salientar a própria existência e dedicação com a disponibilidade de estar apta, para exercer o cargo (tão concorrido) de Secretária de Estado da Educação ou similar (se for da Agricultura ... também não tem problema ...), desde que tivesse a cor da saliência ...
Com os restantes e possíveis esforços, a comitiva, já com um pé dentro do carro, ainda conseguiu esboçar um meio sorriso que terminou num enorme bufar, já com o carro perto dos 100 ... enquanto os pequenos ainda gritavam os últimos versos da letra de uma imperceptível cantiga ...
Os pais e avós também começavam a chegar, no cumprimento do protocolo definido e bem ensaiado na última reunião de pais ... para levarem os respectivos pequenos.
Tudo correu como esperado e ... diga-se, de tão perfeito que foi, ... vai reportagem para o jornal escolar.
Uma cópia, prenhe de orgulho, fica dependurada num quadro de esferovite na sala dos professores, que também faz de salão de chá, enfiado dentro de micas de plástico e presa com pionéses (um de cada cor ... cumprindo o jogo do calhas ... calhou o azul porque a professora que o pegou estava virada para outra, entusiasmadamente, a debitar, pela enésima vez, o sucesso da festa, logo seguido de um pionés ferrugento, para fixar a outra ponta da mica ... e assim por diante ...) ...
Vai ainda (mas já uns dias depois), mais uma carrada de fotocópias do jornal escolar, ao preço da conveniência achada pela professora presidente da comissão organizadora da "festa", a ser vendida por cada criança aos próprios pais, em documento autenticado pelo Conselho de Festas e entregue um exemplar da pedinchice a cada pequeno, para fazer o resto da tarefa ... em casa.
Mas ...
Pois é, Ex.mo Sr. Poder Institucional e Político ...
A criançada não acabou ontem (nem as professoras)...
Hoje e amanhã também são dias mundiais da criança ...
A festa terminou ontem ... mas hoje também existem crianças e, pior, apesar da festa, as crianças com privações não acabaram ... continuam ... dolorosamente ... mas continuam e são aos milhões ... vivendo (ou já mortas) muito abaixo do básico ...!!!
Ex.mo Sr. Poder Institucional e Político ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças com o VENTRE nas costas ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças resignadas. Sim "RESIGNADAS" ... imagina a resignação numa criança? Consegue?
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças armadas com ÓDIO e com NADA ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças feitas de MEDO ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças manchadas de DOR e VERGONHA ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças que estão ao CONTRÁRIO ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças que nunca sentiram LUZ ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças que tentam mas NUNCA conseguem ...
Hoje, 2 de Junho, dia seguinte ao da "festa", há crianças que já nem SENTEM a carga ...
Mas, V.ª Ex.cia Sr. Poder Institucional e Político, já teve a sua dose de sacrifício ... ontem foi um dia cheio e muito trabalhoso, para além de lucrativo na resolução de problemas da CRIANÇA.
Entende-se ... que mereça, de justo direito, um descanso de pelo menos 2 semanas de férias (no estrangeiro), depois do árduo dia de trabalho de ontem, nas comemorações do DIA MUNDIAL DA CRIANÇA ... certamente que pago do seu próprio orçamento ... fica-se com a garantia!
Pois é ... nada vê, nada ouve e nada sabe ... como convém ...!!!
... como convém, a alguns!!! ... mas há quem denuncie ... as mortes antecipadas dos outros ...
Verdade, não podia falhar ...!!! ... ainda houveram as ridículas e sempre inoportunas patetices televisivas (e de outros meios, ditos, de comunicação social), onde as gracinhas do entulho "famoso" se deliciava, uns com os outros, a debitar historinhas da própria infância (igual à enormíssima banalidade, diga-se).
... Ah, sim ..., sem crítica absolutamente nenhuma, numa completa ausência de noção de ridículo, como habitualmente ...
Foi um fabuloso enredo, espelhando o prototipo manifesto do exercício narcísico, que apenas traduz o camadão de egocentrismo da doença do carácter e da brutalidade da inutilidade e da incompetência ... que naquelas caveiras estão, cronicamente, tatuados ...!!!
... É ... !!!
... Enfim ... mas ninguém (com alguma coisa dentro do crânio) consegue aguentar...!!!
Fique bem e usufrua das merecidas semanas de férias, Sr Poder Institucional e Político, que por cá vamos ficando com as criancinhas e com as agruras que não desgrudam ...
... Enfim ... mas ninguém (com alguma coisa dentro do crânio) consegue aguentar...!!!
Fique bem e usufrua das merecidas semanas de férias, Sr Poder Institucional e Político, que por cá vamos ficando com as criancinhas e com as agruras que não desgrudam ...
Certo da atenção e carinho que o assunto merece pela parte de V.ª Ex.cia, ficam as ânsias de que tudo seja efectuado na boa paz imposta pela (des)ordem social das coisas (dita "natural", para se travestir e poder mentir e roubar melhor) .... esta filha da puta da amputadora ORDEM SOCIAL DAS COISAS, que só impede o DESPERTAR CRÍTICO ....!!!
Planet Earth, 02 de Junho de ...
Com uma imensidão de desprezo ... e MUITÃO envergonhado por te conhecer ... subscrevo,
POVO NOBRE, HONRADO E HONESTO DESTE PLANETA, AINDA E SEMPRE LUTADOR POR IGUALDADES, JUSTIÇAS E LIBERDADES.
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Re-edição: Janiel Martins e Paulo Passos Imagem (DMC) - internet |
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