domingo, 13 de agosto de 2017

CAFÉ COM LETRAS - PAIXÕES COM MAR

Adolfo Caminha, Brasil. Fonte da imagem: internet.
"(...) Estava satisfeita a vontade de Bom-Crioulo. Aleixo surgia-lhe agora em plena e exuberante nudez, muito alvo, as formas roliças de calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do aposento, na penumbra acariciadora daquele ignorado e impudico santuário de paixões inconfessáveis (...)"

Bom-Crioulo, Adolfo Caminha.

Guilherme Simões, Portugal. Fonte da imagem: facebook.
MERGULHO
(Guilherme Simões)

Fui dar um mergulho como o planeado, mas um pouco mais tarde.
Ele foi comigo e, ao chegar à zona balnear do Negrito, estendi a toalha e ele também.
Reparei que não se sentia muito confortável. Estava habituado a areia e ali era cimento.
Passei-lhe o protector solar, respondeu que não era preciso.
Eu disse-lhe que era melhor.
E tu? Perguntou ele. Eu vou primeiro dar um mergulho. Não respondeu.
Tirei uma almofada insuflável, enchi-a e dei-lhe.
E tu? Eu o quê? Ah, não gosto de me deitar!
Aceitou, agradeceu, pôs os óculos de sol e deitou-se.
Pernas ligeiramente abertas e os braços bem abertos, como se estivesse crucificado.
Vou dar um mergulho, disse eu.
Ele não respondeu mas fez um pequeno gesto com a cabeça de concordância.
Dei várias braçadas e afastei-me do cais para o poder ver.
Lá estava deitado na mesma posição.
Quando saí do mar e me sentei na toalha ele, sem se mexer, disse: tens água? Claro que tenho mas está natural. Serve, disse ele. Sentou-se, dei-lhe a garrafa de água, ele bebeu um pedaço e deu mais gole. Tinha sede, disse.
Não respondi porque ele não imaginava a sede que eu tinha, sede de lhe beber o pensamento, de nadar na alma dele.
Agora é a minha vez de dar um mergulho.
Levantou-se, deu-me os óculos de sol e dirigiu-se aos degraus que acedem ao mar.
Fiquei a observar.
Ele a descer as escadas, vi-o a desaparecer aos poucos.
Fiz uma coisa que ele detesta: fumar um cigarro.
Dirigi-me ao varandim de tubo pintado de azul e fiquei a vê-lo na água.
Ele viu que estava a fumar e abanou a cabeça em sinal reprovativo.
Apaguei o cigarro e fiquei a vê-lo sair da água.
Visão espantosa, o sol a iluminar aquele corpo esguio, os calções colados ao corpo mostrando as formas belas do sexo, a água escorria pelo corpo e cara, ele sacudiu a cabeça, passou as duas mãos pelo cabelo e sacudiu novamente.
Estava majestoso, olhou para mim e disse: água belíssima. 
Dirigiu-se para a toalha, vi os olhares que as fêmeas lhe lançavam. 
Afinal, ele era meu!
Fui também para a toalha e ele disse: tira os óculos!
Para quê? O sol incomoda!
Ele repetiu: quero ver os teus olhos!
Eu tinha medo que ele visse a luxúria que os meus olhos deixavam ver.
Contudo, tirei os óculos e ele disse: eu sabia.
Não respondi, ele voltou a deitar-se e eu nada disse.
Ficámos em silêncio uns minutos.
Ele, sem se mexer, disse: este sol é gostoso mas é perigoso.
Deu uma risada, olhei e percebi, os calções tinham um grande inchaço.
Fiquei sem saber o que dizer e fazer.
Mas percebi que tinha dado UM MERGULHO NA FELICIDADE.

Jorge Amado, Brasil. Fonte da imagem: Internet
"(...) desde pela manhã cedinho até a hora da maré vespertina quando os saveiros partes mar afora na procissão da Janaína, à frente o de mestre Flaviano conduzindo o presente principal, o dos pescadores. 
No meio do mar a Rainha espera, trajada de transparentes conchas azuis, na mão o abebé, odoia, Yemanjá, odoia! (,,,)"

Tereza Batista cansada de guerra, Jorge Amado.


Edição: Janiel Martins














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