Janiel Martins, RN / Brasil
SI AJUNTANDO, NO SERTÃO
Si eu desconfia que tu anda
Si achamegando com algum macho,
Eu coloco tu pra correr de casa, Maria.
Não importa com quem seja!
Qui tu não tem idade pra tá se achamegando, não.
Quem avisa amigo é. Tu sabe.
Eu só aviso uma vez!
E não quero nem sonhá com isso.
Mas não tem jeito pra minina ruim...!!!
Eu não quero filha minha errada,
Dentro de casa, não.
Joãozinho, inocente,
Ouve a mãe dando o sermão, com ódio.
Pergunta: mãe, e eu?
Isso não é conversa di minino, não!
Vá pra lá, meu minininho,
Qui mamãe tá di conversa com sua irmã.
Ainda bem qui eu não tenho cabelo grande.
Até tu, Joãozinho, tá mi perturbando?
Ocês vão me deixá é doida!
Mas a conversa não acabou ainda não!
Quando eu era pequena,
Meu pai colocava todos pró roçado.
Não havia essa peste de escola,
Qui só ensina coisa ruim.
Chega aqui perguntando o que é um pau?!
Qui escola é essa, qui só ensina coisa qui não presta?
Só besteira!
Depois de alguma pausa
Joãozinho pergunta:
Mãe o que é caráio?
Toma um caralho, peste ruim, moleque sem vergonha!
Prá ocês não aprenderem mais essas bobagens.
E nunca mais falá com essa falta de respeito...!
Dentro de casa e em lugar nenhum.
Já sabemos que escola não é coisa prá aprendê nada!
Refletiu Joãozinho.
Pensou: deve ser só prá brincá e ouvi professora!
Que toda a vida que alguém fala,
Ela manda calá a boca!
E manda escrever...!!!
Mas no intervalo, Joãozinho aprendeu uma brincadeira.
Na janta, decidiu fazer essa brincadeira, logo com a mãe.
Mãe, a Senhora dá?
O quê, meu filhinho?
A Senhora dá, mãe. Tou perguntando.
Dou sim, meu filhinho.
Mãe, aí a Senhora dá a buceta pra mim comê?
Não houve reflexão...
Foi de chinelo escolhido a dedo.
A mais dura pisa.
E daquelas prá aprendê.
Que não se deve comê buceta, mas é nunca.
E que Deus castiga e o castigo é dos grandes.
Talvez até nem tenha perdão divino.
Deus manda direto pró andá de baixo,
Juntinho do Capeta.
Joãozinho acorda assustado, com sua mãe chamando
Pra ir levá uns saco com as roupa,
Da sem vergonha de sua irma, Maria.
Sua peste, ocê vai ficá lá na casa daquele macho.
Não mandei ocê sê errada.
Quem mandou ocê sê ruim com ele?
Ocê vai ficá lá de qualquer jeito!
Só não vai voltá pra casa, de jeito nenhum.
Vai morá com aquele vagabundo sem futuro.
O sermão continua a todo o vapor...
Eu saí de casa moça,
Com a minha honra.
Meus pai nunca precisaram di fazê isso comigo.
Cadê teu filho, Chicó?
Olha, ele buliu com minha minina.
E tá aqui a sem vergonha.
E cadê o sem vergonha?
Venha cá, Carlinho, seu filho da égua.
É verdade que ocê buliu com ela?
Se tão falando...é porque foi!
Tenha calma Dona do Carmo,
Que ele vai ter que ser homem pra assumir.
Não é, meu filhinho?
É sim, papai.
Deixa ela que agente vai cuidá dela.
Não se preocupe, minha filha.
Entra pra dentro.
E a Senhora, do Carmo, também qué entrá?
Não. Tenho mêmo é mais qui fazê!
Carlinho ficou no fogo encruzilhado,
Sem entendê nadinha.
Como era filho homem,
Foi fácil seus pai cuidarem de tudo.
Arrumou um colchão, que colocou pra dormir,
Num quartinho dos fundo.
Seus irmão foram dormi na sala.
Carlinho foi dormi com Maria.
Maria, dizia: e tu vai buli comigo, não, Carlinho?
Carlinho dizia: e eu não tou bulindo com tu, não?
Dando uns beliscão.
Só assim, Carlinho?
E tu qué mais o quê, muié?
Não tu bulindo com tu, sua troce?
Qui tu mexa comigo!
Coitados da Maria e do Carlinho.
Ainda criam em história de cegonha.
O mistério da pomba e da priquita,
Cozeu a cabeça dos pobre...!!!
Maria não tinha cabaça quebrada.
Carlinho não rasgou o cabresto.
Anjinhos por demais,
A inocência foi madrinha do casamento.
Janiel Martins |
Poeticamente delicioso.
ResponderExcluirTexto requintadamente enquadrado nas esferas dos afectos.
Genuíno.
Parabéns, Janiel.
muito bom! Belíssimo!
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