domingo, 9 de dezembro de 2018

CAFÉ COM LETRAS - VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Fonte da imagem: internet 
MANUEL BANDEIRA 
Escritor
1886 - Nasceu no Recife/Brasil
 1968 - Faleceu no Rio de Janeiro/Brasil 

Fonte da imagem: internet
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
(Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amogo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe - d´água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha-me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Pra gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Edição: Janiel Martins



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