Chegar a Barcelos é, para quem ficou com a cidade, uma reposição da calma que a ânsia de regressar não permite ter.
É como chegar a casa depois de uma temporada fora.
O conforto da chegada, transforma o desejo numa satisfação que enobrece as
mais variadas emoções.
Repete-se a liberdade de circular, de olhar, de estar, de sentir e viver os locais que já pertencem aos nossos interiores.
A ausência tem algumas particularidades que nos conferem segurança. Há como que um adormecimento do real, permanecendo apenas os valores que cada um filtra para sua própria protecção e satisfação. É a dominância da gratificação face ao desencanto.
A presença, activa todas as representações, numa ânsia certificativa de que tudo está como foi deixado. Tudo se mantém nosso!
Em Barcelos, esta particularidade é tão evidente que, ao revisitar a cidade, sinto sempre necessidade de me circular sozinho, para unificar os carinhosos laços existentes entre a cidade e o meu sentimento por ela.
Preciso, indubitavelmente, de circular, de me circular nela e comunicarmos num namoro que só a nós pertence. O aconchego das nossas trocas de secretos murmúrios, unificam-nos, fortalecendo a pertença à cidade, ficando a cidade como referência. É coesão, sim! É fusão.
O que poderá ser repetido, ainda que invariável, tem sempre novidades para contar.
Um passeio, independentemente das condições climatéricas, envaidece-nos na grandiosidade de quem ama e ama com segurança.
A cidade veste-se, ao meu olhar, num provocatório traje de elegância e de beleza que, dos seus mais ínfimos requintes, transbordam ondas de encantador charme e de humor reluzente para ânimo e gáudio do nosso novo encontro.
Foi uma notável manhã que passei, vagueando pelo centro histórico da cidade, enquanto aguardava por uns amigos, para almoçarmos.
Fui conversando com a cidade. A cidade foi conversando comigo, indicando-me, como sempre acontece, qual o itinerário a seguir.
Eu só me deixei levar.
Sugeriu-me pormenores que mereceram representação.
Fui olhando, com a curiosidade convidativa da cidade. Era num murmurar baixinho que ele me soprava no ouvido, dirigindo-me, carinhosamente, o olhar para os pormenores que lhe chamavam à atenção e que achava ser eu, merecedor de ser o seu parceiro de partilha.
De entre os inúmeros estímulos que uma rua pode ter, estão sempre outros tantos que, pela riqueza do pormenor, activam as valorizações e corrigem prioridades.
Alguns desses estímulos foram fotografados, com a soprada indicação incansável e sorridente da cidade, no meu ouvido...
São duas matérias sobre este assunto: "Barcelos, uma lição de pormenor", tendo sido a primeira crónica dedicado a elementos filiados na escultura e na arquitetura e já publicada neste site.
Esta publicação é a segunda crónica e incidirá em elementos, predominantemente, de índoles arqueológicos e de diversos manifestos de artes.
Sugerindo um escutar a cidade e um olhar atento ao que ela diz, encontra-se, garantidamente, muito material de nobreza psicológica, artística e cultural.
Preciosa manhã de namoro ...
Sugere-se a experiência!
Bem haja ... bela e acolhedora cidade de Barcelos!
Fonte das imagens: Janielson Martins |