ÁLAMO OLIVEIRA, escritor (romance, conto, guião, ensaio, poesia)
nascido na Ilha Terceira/Portugal, em 2 de Maio de 1945.
Álamo Oliveira - uma nesguinha para aguçar e...suspira-se por mais...!
|
Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões.
"(...) a pequena cidade da ilha que o Poeta doma para fazer evoluir
a trama do romance - não é um espaço localizado na avença do imaginário.
Ela pertence a um país que desde sempre se embriagou com a mania dos espaços,
que fez do mar as estradas dos seus sonhos grandiloquentes e delinquentes, onde cada acostagem e pé em terra eram ferrete de posse e de domínio. Jericó de ilha e de cidade de ilhas, nela recaem as leis do seu país distante, com seus pontas de lança sediados muito obedientes e rabugentos numa autonomia mas vestida e subalimentada. Sabendo o
Patachão tanto como isso, mandou à outra banda os ditames da literatura com a sua universalidade cingida à comichão sadia duma luxuriante camada de chatos: "Não dá outro trabalho que não seja o de coçar...E este, sim, é um gesto universal." (...)"
|
Excerto do livro:
"Pátio d´alfândega - meia noite" - Álamo Oliveira
Guilherme Simões e Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões.
QUE O SAL À MORTE
(Álamo Oliveira, Portugal)
foi tão breve o encontro que
não pudemos falar de poesia.
a vertigem dos olhos mais leves
do que deus ou pluma
nenhum outro peso sobre os ombros
da árvore ainda a prisão dos dedos
num resto de água e de silêncio.
não dirão do amor mais do que o sal
à morte
mas da ilha dir-se-á o porto
breve marinheiro tatuado de solidão.
deixa crescer as malvas.
|
Álamo Oliveira. Fotografia: colecção de Guilherme Simões. |
"(...) Ainda eram eles que faziam por aguentar mais tempo a sua visita e que
mais vezes se faziam acompanhar pelos filhos. De qualquer forma, Joe Sylvia
já compreendera que cada vez tinham menos tempo para lhe dar. Tony chegou
mesmo a deixar a caixa de chocolates sobre a cómoda uma vez que encontrou
o pai a dormitar na cadeira de rodas. À saída disse a Rosemary que informasse
o pai dos seus cuidados, das suas saudades. "Bardamerda!" dissera Joe Sylvia no
seu melhor português. Atirou com a caixa de chocolates para debaixo da cama,
lamentando a vez que dissera ser daqueles que mais gostava. Foi uma confissão
imperdoável. Prenda que lhe dessem, por mais que o embrulho disfarçasse,
já sabia que era uma caixa...de chocolates. Acomodou-se. Aceitou a fatalidade
como qualquer prisioneiro da fome. Nunca mais teve coragem para confessar
o quanto detestava aqueles chocolates, os quais responsabilizava por todos
os males que corriam. Até representavam o seu estar ali à espera da morte,
com a implacável lentidão de um acto litúrgico, que o deixaria a criar bolor
e coberto de formigas.(...)"
Excerto do livro:
"Já não gosto de chocolates" - Álamo Oliveira
Edição:
|
Guilherme Simões |
|
Paulo Passos |