sábado, 15 de fevereiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - SERTÃO

SERTÃO ... THE POETRY
(Janiel Martins - RN/Brasil)

Sentindo, sabendo
e ouvindo o sentido.
Narrativas transbordantes de poesia,
narrativa pura, narrativa vida, narrativas em vísceras poéticas.

Fiel dureza.
Fiel crueza.
Quimeras submersas nos suspiros.
Afogadas nos desejos.
Real, existente, poético ...
Sertão autoritário, amarrador, 
Sertão de fuga jamais, de entranhado no que lá se pariu.
Nado em poesia, nascido das rimas, 
rimas que são vidas.

Exigência pelo poema, por que pare 
e por que vive ...
Sertão,
guardião de desígnios sem escolha.

Por ser poesia, por ser Sertão,
Sertão supremo,
Sertão soberano,
de gente sentida no silêncio do verso pronunciado.

Sertanejos Machos.
Sertanejas Fêmeas.
Glorificam pertenças.
De honra feita Gente ...
De honra feita Nação.

Tamanho domínio, imperioso Sertão ... 
Sertanejão ou Sertaneijão ...!!!


VERMELHO DA COR DO CHÃO
(Janiel Martins - RN/Brasil)

Vermelho 
dos prazeres
da pujante cor
pujância de cor do chão
do desejo que se advém espreitoso.

Na conversa que comanda o silêncio e o pulsar
livre em alma e corpo que quer
que quer e deixa
tesão que adivinha 
tesão colosso ... já antes de ser.

Ejaculo sobre o pó ... vermelho de chão
vermelho da força do prazer 
e tremo ... num tremer de macho
num tremer suado 
num tremer luado de Sertão.

Verei vermelhar a vida
no interno e eterno chão de cor
chão de Sertão
chão onde gemi e me jorrei
chão meu onde me orgasmei.


Edição: Paulo Passos

domingo, 9 de fevereiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - O TAMANHO DA PESTE



O TAMANHO DA PESTE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Mas espia só o tamanho da peste!

Até parece gente!

Mas não é, José?

É a maldade encruada.

Aquilo cresceu.

Só a ruindade.

Eu acho que nunca se engasgou com um pentelho.

Deste tamanho é a maldade.

Não tem corpo.

Mas tem a língua maior que o mundo.



Edição: Paulo Passos


domingo, 2 de fevereiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - RACHADURAS CEREBRAIS


RACHADURAS CEREBRAIS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

A terra racha-se com a falta da água no chão do Sertão.

Eu racho-me de emoções que não sei viver.
Não saber viver é um vazio, é destruturação cerebral.

Onde nos buscamos? 
Viver é para a morte.
Onde está o intervalo da vida?
Eu quero pausar e voltar depois.
A palavra é bonita.
Tudo demais é loucura.
Menos a ilusão.

Eu acho que a tristeza é o medo da morte.
E acho que o sexo é raiva da morte.

Dividindo a vida em texto:
Inocência...
Nada se sabe mas faz-se de conta que sim...
Resignação...
A ferrugem cerebral corrói.

Iludir é o tesão da vida.





ESCREVER SEM GRAMATICAR
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aprendi a respeitar o texto sem a pressão e a força da gramática.
Pensei, sempre, que não era admissível fazê-lo.
Sei, hoje, que sim.
Faço-o.
Tenho uma gramática personalizada.
Tem nome.
Digo-o mas não o escrevo.
Uso-a em liberdade.

Escrevo… escrevo o que sinto e avalio em mim e no que vejo.
A minha gramática dá corpo à alma que digo em escrita. 
Acho que é a minha forma de prazer, em pleno, de comunicar.
Aprendi que comunicar em texto é possível sem "saber escrever".
A gramática é uma convenção.
Escrevo do jeito que sinto e penso.
O (meu) lápis chama-se sentimento.

A (minha) borracha chama-se pensamento.



Edição: Paulo Passos 






domingo, 26 de janeiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - ÍMAN


ÍMAN
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O discurso mais belo é o céu
É enxergar as três marias bem alto
E depois vê-las bem pertinho
Dá vontade de chorar
Não é de chorar lágrimas

Eu grito
Eu grito
Será injusto não conhecer o universo
Ficarei com muita raiva se não conhecer cada cantinho do mundo
Só não vou ficar perto das estrelas
Senão vou virar cinzas
Só quando cansar de viver
Direcionarei os meus pensamentos sobre uma estrela
Aí virarei cinzas e me tornarei areia de um novo chão.



Edição: Paulo Passos

domingo, 19 de janeiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - SUSPIRE MENINO


SUSPIRE MENINO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

E como tu fizeste para suspirar?
Peguei os ovos da galinha.
Separei as claras das gemas.
O que tu fizeste com as gemas?
Pintei-te.
Foi?
Foi sim, quando tu eras pequeno.
Tu eras bem alvinho.
Ficou um galego fogoió.
Por isso quando passo o dia no sol, a pele fica descamando.
Deve ser das gemas.
Aí pego uma quantidade de clara 
e boto duas vezes açúcar do bem fininho,
com um banda de limão espremido.
E a outra banda coloco para cozer.
Misturo com uma colher de pau.
Boto no fogo, meio baixo.
Mexo até espumar.
Tiro a banda do limão.
Depois bato na batedeira,
até ficar as claras bem firmes.
É só pegar no saco com um furinho em baixo.
E fazer o que vier da tua imaginação.
Bota no forno bem baixinho, para assar.
Não é assar, é desidratar.
Por isso que o forno tem que está só com uma quenturinha.
Vai demorar mais de meia hora
É o doce da lua.






Edição: Paulo Passos


domingo, 12 de janeiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - A PLANTA



A PLANTA
(Janiel Martins, RN/Brasil)

oi planta...! planta, tu estás viva?
estou sim.

e como tu estás falando comigo?
eu estou imaginando.

e tu imagina?
claro que sim, até vejo tudo.

como assim?
em sonhos.

é verdade?
claro que sim e até vou contar um segredo...!

que segredo é esse?
as frutas são nossos olhos...!

é verdade planta?
é sim, mas não gostamos de ver o mundo por muito tempo, por isso amadurecemos e morremos.

porque planta não gosta de ver o mundo?
porque não tenho pernas.

ah... sim!
e, planta, porque tu não cresces bem muito?
eu tenho medo de cair.

é verdade, se tu caíres nunca mais te vais conseguir levantar.
eu tenho duas mãos. 
é como se fossem os teus galhos.

pois é... por isso que fico bem gorda para me segurar na terra e o vento não me levar.

e tu não te cansas de estar aí?
que nada... eu fico é imaginando que vou morrer e não terei mais tempo para viver, por isso uso a imaginação aos poucos.

eu também. 
gosto de me perder no céu.
quero conhecer cada cantinho do mundo e depois quando me cansar de viver, vou direcionar o meu pensamento para um estrela e vou virar vapor, porque eu acho que não dá tempo de virar cinza, porque as estrelas são muito quentes.


            Edição: Paulo Passos



domingo, 5 de janeiro de 2020

CAFÉ COM LETRAS - JUÍZO DIVIDIDO


JUÍZO DIVIDIDO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O juízo dividiu-se ao meio

O danado do pensamento
parece que está com medo
de se saber alguma coisa

Esse medo
deve ser pecaminoso 
para o pensamento

Deve ser igual
a ter um medo grande
assustador


Edição: Paulo Passos

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

SUSTENTO DA ALMA - DESMATEMATICANDO O CAPITALISMO



DESMATEMATICANDO O CAPITALISMO
(Janiel Martins, RN/ Brasil)

Até quando suportamos a miséria?
Um ano? Mais um ano?

Até quando vamos acreditar que o novo existe?
Olhemos para um espelho.

Acreditamos sermos santos.
E esquecemos que viemos de um foda alheia.

Até quando suportaremos esta moda de santidade?

Os animais fodem e os seres humanos humilham-se.

Quando vamos deixar de ser encurralados?
Quando seremos habitantes de um planeta comum?

Vamos parar de desejar em sermos ricos...
... cagando e mijando... naturalmente...!


Edição: Paulo Passos 













domingo, 29 de dezembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - PORQUE FUI SAIR DOS COLHÕES DO MEU PAI



PORQUE FUI SAIR DOS COLHÕES DO MEU PAI
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Oi Minhoquinha, Minhoquinha tu não está bem hoje!
Pois não Minhoquinha?
Tua cara não nega.

Porque fui, eu, sair dos colhões do meu pai?
Ele foi coisar e eu como sou atrevida, fui na frente dos meus irmãos e aqui estou.
Hoje acordei tão distante, que não tenho a mínima ideia de como voltar para mim.
Não consigo e nem quero saber onde os meus pensamentos têm ido.

Minhoquinha, nós somos muitos sensíveis.

Eu fico imaginando o alimento do corpo. 
É o pão. 
E o alimento da nossa imaginação é o quê mesmo? 
É coisar?

Isso é uma pergunta para mim, Minhoquinha? É que eu não sei responder!

É uma auto-pergunta. 
O alimento da nossa imaginação, na verdade, é o nosso querer.
O querer, na verdade, é um sentimento que nos dá força. 
Só que a força também enfraquece e nasce a fraqueza.
E como destruir a frequeza?

Não trocando o juízo com a fraqueza, Minhoquinha.

É verdade Minhoquinha.
Só que, Minhoquinha... ir é um caminho muito fácil. Qualquer um vai. O difícil da vida é voltar.

É mesmo Minhoquinha... 
... se fosse pela minha inocência...
... a minha mãe continuava a limpar a minha preguiça. 

Edição: Paulo Passos

domingo, 22 de dezembro de 2019

SUSTENTO DA ALMA - INCLINADOS



INCLINADOS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Como desinclinar a humanidade?
Humanidade encurralada em países, quando estes não são países, mas mais parecidos com currais cheios de orgulho...! Falso orgulho, injectado logo antes da nascença de cada criatura.
O capitalismo (só?) é feito de desigualdades.
É um câncer social e antropológico.
Há desempregados, super empregados e pequenos empregados que vivem à mercê do capitão-mor.
Tanta diferença! Para quê?
Para uma monumental maioria ser servida.
Para exercitar o capricho da fétida corrupção dos servidos. 
Os alimentos, dos da boca ao do lazer passando pelos do sexo, que sejam em equidade.

Que seja olhado, visto, observado, em atento, o que vai para além e aquém de cada curral.
Defender um curral é trair a humanidade duas vezes.
A guerra existe e continua no modo do subalterno, para sustentar soberanos e poderosos, em nome da pobreza dos curraleses. 

Guerreie-se, sem tréguas e sem logros, por igualdade. 
Pois...
A distância é como a morte, um dia alcança-se... e que seja feita a questão: " foi tu quem chegou, ou fui eu que cheguei em tu?"

Edição: Paulo Passos