ABUTRES E ÁGUIAS
(Janiel Martins, RN/Brasil)
O abutre espera
Espera pela morte
A águia trabalha
Trabalha no momento certo
Edição: Paulo Passos
O blogue – Comer e Saber – apresenta-se com o intuito de exterminar amarras. Impera-se em três rubricas: Sustento da Alma; Café com Letras; Gastronomia e Culinária, como ferramentas de promoção e fomentação de liberdades e pluralidades. Movimenta-se na consciencialização da noção de direito às criatividades, no débito da conjugação dos intrínsecos conceitos de SABER (enquanto fonte de SABOR) e o de SABER (enquanto fonte de CONHECIMENTO).
ABUTRES E ÁGUIAS
(Janiel Martins, RN/Brasil)
O abutre espera
Espera pela morte
A águia trabalha
Trabalha no momento certo
Edição: Paulo Passos
O VALE QUE ARDE
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Cair sobre um vale ardente
O fôlego não tem força
A gravidade domina o corpo
Porque me levaste a este caminho, Satanás?
Olhando para os quatro cantos, num quarto escurecido,
respondeu um EU, amedrontado.
“O diabo está dentro de mim, assim como Deus”.
As minhas mãos já não se levantam. Ardem os músculos, antes do meu cérebro reagir como humano. É vergonha. O meu órgão genital está sendo cada vez mais escondido...
... corro com as mãos tapando os colhões,
ouvindo aquele homem que tem nome de cachorro, ou que o cachorro tem o nome
dele, mastudo.
Venha enxergar o mundo, caralho. Conseguir.
Mas que ar gostoso é este em Braga.
Olha como se pega, o ar, com facilidade.
Táis doida?
É mais fácil se apaixonar em Portugal, do que pagar um sexto do salário em um perfume e ficar dentro de um quarto, com aquele cheiro de roupa lavada e a pele com catinga de mofo.
As pessoas não nasceram para ter.
Somos um carrapato qualquer.
A minha bexiga me deixa triste.
O meu
reto já não fecha com tanta facilidade.
Edição: Paulo Passos
ROMA É AMOR
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Escrevo palavras
Nesta terra inclinada
De lama
Iluminada pelo cristal
Partido
Dói saber
Que tudo isto acaba
Entretanto
O homem
Troca sentimentos
Por palavras
Que dizem conveniências
Para uns
Edição: Paulo Passos
1887(8)
Janiel Martins (RN/Brasil)
A minha alma
Se formou
Hoje sou uma estrela pensante
2022
A sua voz é silêncio
Mesmo você falando
No sentimento desejo
1887(8)
Nos campos de vinhos a minha alma vive.
Que belo é olhar e beber o sangue da terra de Portugal.
Adormecer.
Trás-os-Montes a mim me escondeu.
O diabo construiu o túnel do Marão.
Tem gente querendo esse sangue.
Néctar das terras portuguesas.
Edição: Paulo Passos
O VENTO QUE ME LEVA
(Janiel ;Martins, RN/Brasil)
Sonhar mais um sonho
Viver mais uma ilusão
O chão não me pertence
O céu é o meu tesão
Tesão é uma inveja embutida
Transar é estourar um balão de ar
Filhos é tentar ficar na terra
Os meus olhos não verão mais o sol
Dói saber
Namoro o céu
Na verdade, as nuvens
São tão delicadas
Parece quererem falar
Estás falando só, doida?
Nada disso... falo com o meu conjunto de órgãos.
De quê?
Órgãos.
Porque não sonhamos acordados?
Sonhamos, só que é diferente. São as estrelas explodindo dentro do nosso juízo. Só que quando estamos dormindo as estrelas veem, e quando nós estamos acordados só dão uma cosquinha no juízo e um friozinho bem gostoso.
Deixe de doidiça, doida.
É verdade, tu sabes como é o nosso juízo?
Não.
Eu vi uma foto do cérebro e parece, até, um caracol.
E por dentro, nós somos como um porco.
É mesmo, e porque os porcos andam de diferente!
Devem pensar que voar é impossível. Meteram o aço a comer tudo e se entregaram à vida.
E os passarinhos porque são tão delicados?
Os passarinhos são sabidos. Viram que o vento levava as flores. Aí, começaram a comer as sementes e criaram asas.
Edição: Paulo Passos
BRASAS NO INVERNO
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Com os olhos cegos
Tento ver o mundo
Os olhos são alheios
O corpo me pertence
Choro com a consciência
As lágrimas são a dor
Ingredientes: