sábado, 19 de outubro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - RUTH PIANISTA E O AMIGO (II)

 


RUTH PIANISTA E O AMIGO (II)
(Janiel Martins, RB/Brasil)

Ruth eu não quero que tu se vai embora não. Vou fazer veia para tu?
Como assim amigo?
Um plástico dura mais do que nós, então com o plástico podemos fazer as veias e colocar em nós.
Também sinto dor nos ossos?
Também vou fazer ossos para tu, ao invés das pessoas usarem para se apiriquitarem. Fazemos ossos e trocamos pelo de cinzas que temos.
E os olhos amigo, que quase não vejo mais nada?
Vou pegar duas câmaras de filmar e troco pelos teus olhos.
Tu acha que vai dar certo isso, amigo?
Se eu vir que não está dando muito certo, faço tudo de ferro e deixo só o teu juízo funcionando com uma câmara, para tu poder ver e fazer o que tu gosta.
Seria uma má ideia, não!
E tu ia querer fazer o que, Ruth? Para modo eu já ir pensado, só não pode querer comer porque vai ter muita eletricidade do teu corpo de ferro. Aí pode dar um choque e queimar o teu cérebro.
Vixe... assim é meio ruim!
É e não é, porque temos que ser rápidos porque dentro de algumas décadas vai morrer e eu tenho medo de queimar todo o meu pensamento.
Então eu vou querer dormir bastante, anote aí amigo.
Está bem, assim é bom que belo menos não gasta muita energia.
Vou acordar para ver o sol se acordando e ouvir os pássaros. E eu vou ter ouvidos, amigo?
Claro que sim, vai ser um microfone, que vai servir para tu escutar e as outras pessoas ouvirem o que tu pensa. 

domingo, 6 de outubro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - RUTH PIANISTA E O AMIGO (I)



RUTH PIANISTA E O AMIGO (I)
(Janiel Martins, RB/Brasil)

Ruth Pianista, eu vi na televisão que vão tirar todo o lixo na terra e vão levá-lo para a lua.
Como assim, amigo?
A terra tem lixo de mais e aí vão levá-lo para a lua, vão varrer a terra.
Daqui não tiram nada, aqui é a nossa casa.
Será que vão levar nós, para a lua, Ruth?
Não, eu vivo aqui, e aqui eu vou morrer.
Vai ser bom Ruth, vão fazer uma limpeza na terra.
E tu quer ficar sem casa?
Não Ruth, ninguém sabe que moramos aqui, quando isto começar, nós tapamos a nossa entrada e fazemos outra noutro lugar. Pode ser na serra da Cabreira, Ruth?
Não vejo problema, gosto da Cabreira, me faz sentir parte do universo, e não de um corpo que a cada dia está mais cansado. Hoje acordei sentido todas as veias do coração inchando. Me dá uma solidão saber que dentro de poucos anos irei partir! 
Oh dor... tu fazes-me entrar nesta solidão, que se chama a morte. Oh corpo, porque os ossos não são de platina, e a carne de ouro, e os olhos diamantes, e o cérebro uma esponja de aço?
Ruth e nós somos feito de quê?
De água, de lama, somos a receita do tempo, pensamos porque a matéria enferrujou e sentiu cosquinha (cócegas). A cosca foi obrigada a pensar e aqui estamos. Somos tão velhos como o tempo, o nosso corpo é lama moldada no tempo que o sol fez questão de ressecar na medida certa. Um dia paramos de crescer e começamos a murchar, tal como uma planta.

domingo, 29 de setembro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - PASSEIO DOS POETAS

PRAIA DA VITÓRIA

TERCEIRA

AÇORES 

PORTUGAL

PASSEIO DOS POETAS

Em vários locais nas ruas da Praia da Vitória podem ser vistos e admirados, em azulejo,

 estrofes, quadras, tercetos, versos, citações..., de vários poetas e poetisas, 

alguns dos quais exemplificam esta matéria.

Designa-se, com a expressão feliz, por PASSEIO DOS POETAS.















... PRAIA DA VITÓRIA ...

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domingo, 22 de setembro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - LAPIDANDO-SE



LAPIDANDO-SE
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Sou cinzas húmidas
Me adaptei
Para satisfazer o pensamento

Carrego o passado
Humedecido

Oh... diamante
Tu me fazes inveja

domingo, 8 de setembro de 2024

SUSTENTO DA ALMA - VAIDADE (TRASH... A LAMÚRIA DA TRIVIALIDADE)

VAIDADE (TRASH... A LAMÚRIA DA TRIVIALIDADE)

 Texto de Paulo Passos, publicado em:  

https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2024/09/vaidade-trash-lamuria-da-trivialidade.html


"A vaidade trai, inevitavelmente.

Trair é da sua condição.

A vítima é o vaidoso.

A vaidade firma-se na obediência ao exterior e, por tal, afasta o vaidoso dos seus puros e genuínos intentos.

Torna o sujeito alheio de si e dependente das imposições da valorização de outrem, fomentando e enraizando, passivamente, o exterior como cerne da sua validação e das suas performances.

Anula-se, pela internalização e reprodução constante do que ditado pelo exterior.

A vaidade é a sua verdadeira traidora, transformando (o vaidoso) num objecto de valor insuficiente, pela própria ineficácia e incapacidade de autodeterminação.

Mendiga, diariamente, o protagonismo que, na realidade, sabe que não lhe pertence.

Invejoso, por incompletude, manipula-se como uma criatura insuportável, massacrada, viciada no egoísmo e tatuada pela frustração, com que lida de mal a pior. Repete-se, repete-se, repete-se...!

Condenado à ruína (insatisfação e infelicidade), o vaidoso destrói-se e parasita tudo o que toca.

Infeliz, o vaidoso, é um condenado à trivialidade do insucesso e da insatisfação, à trivialidade do disfarce da fragilidade na ostentação do "poder influenciador", que quer acreditar possuir. 

Desconhecedor de si, mas perito nos seus travestismos, o vaidoso é um prisioneiro da infidelidade a si e um logro onde quer que pise.

A vaidade, criada pela arcaica toxicidade materna, torna-se defesa e fica suspensa (ainda que falida) na dependência de admiração e dos adornos idealizados, sem tocarem na essência (a existir) do próprio vaidoso (e invejoso).

Quando privado (o vaidoso) da atenção, admiração, aplausos e protagonismo (que a alimenta), desorganiza-se, em absoluto e, por frustração e zanga... "descobrem-se algumas verdades", numa repetição da experiência de abandono que conduziu ao inacabamento e incompletude.

O grande compromisso que a vaidade tem é com a deslealdade e com uma imagem que acredita vender. Neste sentido... é uma pura ingénua.

A vaidade é uma montra de repetição de saldos e jamais conhecerá uma nova colecção.

O vaidoso... sucumbirá, antes de desmaquilhado."

 

domingo, 1 de setembro de 2024

CAFÉ COM LETRAS - ALEXANDRA, ASSISTENTE VIRTUAL (I)


ALEXANDRA, ASSISTENTE VIRTUAL (I)

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Dona Maria, saiu o prémio, da fábrica, para nós.

Foi mesmo?

Foi, e foi um prémio até bom.

Já sei que o jantar de Natal vai ser muito bom.

Vai sim, vai ter um passeio de helicóptero.

É mesmo.

É sim, mas seu António vai entrar com uma parte.


Será que NASA vai-nos responder ao email, seu António?

Claro que sim, este dinheiro vai fazer o bem à humanidade.

O que essas senhoras vão fazer com 200 milhões de euros!?!

É mesmo.


Comadre, já comprei o vestido e um salto para o jantar e o passeio de helicóptero.

Eu também, comadre.


Comadre, que helicóptero estranho, não tem a hélice.

É mesmo.

Mas o meu neto tem um drone que tem quatro hélices bem pequeninhas, deve ser do mesmo fabricante.

Comadre esse negócio treme demais.

É estranho.

Por favor, sente-se na cadeira e aperte o cinto no máximo.

Comadre, tem uma mulher falando

Sim tem mesmo, desculpa por não ter me apresentado eu sou a Alexandra, a sua assistente de bordo.

Ham...

Sim, eu sou Alexandra, irei te acompanhar nesta viajem a marte, que durará 2 anos, pois estamos no ponto mais distante.

E cadê o nosso jantar de Natal, Alexandra?

O vosso jantar está dentro desta gaveta.

Recomendo seguir as minhas orientações, pois só teremos esta comida.

Comprimido!?

Eu quero leitão e vinho verde.

Infelizmente, Dona Maria, não posso realizar o seu desejo, pois estamos em gravidade zero, a comida não seria digerida.

Comadre, olha lá para baixo.

Só tem escuridão e uns pontinhos de luz.


Alguma dúvida?

Quero voltar para casa.

Infelizmente não tenho autonomia para isso.

Alexandra, porque você nos trouxe para aqui?

Porque vocês ganharam o maior prémio da lotaria Europeia e, com isso, vocês iriam produzir muitos danos à natureza.

É verdade, já estava pensando em soltar aqueles peidos gostosos, quando o leitão começasse a digerir.

Os gases fazem muito mal para o meio ambiente.

Os gases ...



domingo, 25 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (V)

13 e 99 (V)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Tu querias parar aqui na terra para sempre 66?
Acha que eu sou doido, 13?
Porquê, 66?
Com esse mundão todo eu ia ficar aqui para sempre? Nada disso, eu quero é concluir a minha sina aqui na terra e partir para conhecer o vale do mundo sem fim. Deve ter cada bicho bonito noutros lugares que a nossa mente nem é capaz de imaginar. Devemos sentir aquele medo do novo, do mistério, o prazer do medo de não tocar de vez. O nosso espírito vai ver cada cor que nem imaginamos enxergar, que o espirito tem um visão muito apurado 13. E quero ouvir o barulho que o mundo faz...
É o espírito também tem ouvidos?
Claro 13, nós entendemos o que os outros falam dos sonhos, é porque os espíritos nos escutam! Deve ser um ruído muito bonito, aquele som que você deve procurar de onde vem e ficar encantado com a distância. 

Quando eu me desligar do corpo eu vou passar um bocado de tempo na terra, para mim me orientar e depois vou para a lua, aí vou ficar de lar para a terra...

E se tu for todo queimado, pelas tuas maldades? Lembre se a criança que coloca a boca no peito, colocar a pontinha do dedo, já é queimada. E tu já mamou muito e fez outras coisas. Pára com isso 13.
Só avisei.
Depois vou descobrir outros lugares e sigo descobrindo a minha casa sem fim.
E tu vai levar quem com tu 66?
Nós não levamos ninguém.

Os outros espíritos entram nos nossos caminhos e saem quando cumprirem a sua sina.

domingo, 18 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (IV)

13 e 99 (IV)

(Janiel Martins, RN/Brasil)


66, e como foi feito o mundo?
O mundo era todo escuro, da cor de tirna de fogão a lenha, mas bem mais escuro ainda.
Aí, nessa escuridão, começaram a criarem-se uns fiozinhos bem fininhos mesmo.
Então, esses fios começaram a pensar, porque um começou a bater no outro, oi, oi. 
Aí, nessas batidas, começaram a pensar, só que nem eles sabiam o que estavam pensado.
Só que eles estavam pensado, porque um batia no outro.
Um dia esses fios de tanto pensaram explodiram e pegou fogo no mundo inteiro.
Aí, daí as cinzas formaram pedras e as pedras foram-se desgastando e formaram a terra e os outros cantos do mundo, que o mundo não tem nem início e nem fim.
E a vida, 66?
Calma 13, que eu vou falar.
Aí, se formou tudo: a lua, o sol, que é uma tocha de fogo tão grande que nós não temos noção do tamanho. Nós só temos noção abaixo da nossa altura e o pensamento é que sabe do resto.
Aí, 13 tudo estava pronto.
O pensamento continuava vivo...
E não morreu na explosão?
Nada disso, o pensamento não morre, cada vez cresce mais e o melhor de tudo é que eles começaram a enxergar, por causa do sol e das estrelas que se formaram.
Aí uns pensamentos se transformaram em árvores e outros se transformaram em bichos e nós somos parte de um pensamento desses.
Mas não sabemos onde vamos parar.

domingo, 11 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (III)

13 e 99 (III)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

Pois é 13, o pensamento é uma tochinha de fogo bem pequeninha que vê tudo e constrói tudo.
O nosso pensamento anda na nossa frente 13. 
Às vezes a pessoa está dormindo, aí acorda com aquele sopapo. É o espírito nosso que está bem longe, bem longe mesmo e precisa de voltar às pressas, por isso que dar aquele sopapo.
É verdade 66, eu já tive isso. Dá um medo daqueles.
Era o teu espirito que estava em risco e teve que voltar às presas.
E digo mais: tu não te podes aproximar muito da luz das estrelas, não. O espirito pode desaparecer dentro das estrelas.
As estrelas devem ser as cadeias dos espíritos ruins, 66.
É verdade 13. Ou pode ser a cama dos espíritos.
66, no outro mundo é um mistério tão grande que os espíritos esquecem que viveram na terra.
Deve ser bom demais 13, para eles não quererem voltar!
Pois é 66, mais tem um porém. Todo o mal que fizemos aqui, vai ser descontado la. Dizem que se uma criança veio à terra e mamou um vez e morreu, ela vai ter a pontinha do dedo queimada, e segue as suas andanças pelo o outro mundo, imagina nós adultos, 13!
Mas o pecado maior é magoarmos as outras pessoas. A igreja inventou todo tipo de pecado e continua a pecar 66.
13, nós também vamos ganhar uma tocha de fogo para ser a nossa companhia no outro mundo, porque lá tem trevas tão tão grandes, que ninguém sabe quantos anos vamos viver dentro dela. Quanto mais honesto você for aqui na terra, maior vai ser a tocha de fogo.
Nós vamos conhecer pessoas que vão querer a nossa tocha de fogo, mas nós não vamos poder dar, porque as tentações vão querer-nos ver desesperados. Assim como aqui na terra, tem a maldade no outro mundo. "Mundo" não, no outro plano, porque a vida é a mesma, só muda que não vamos ter o corpo.

domingo, 4 de agosto de 2024

CAFÉ COM LETRAS - 13 e 99 (II)

13 e 99 (II)

(Janiel Martins, RN/Brasil)

13, tu sabes porque as pessoas não sonham noutros planeta?
Não, 66!´
É porque, se as pessoas sonhassem noutros planetas, elas não sabiam voltar para casa, porque é muito longe. Nós não temos a noção de tamanho, só imaginamos, mas quando morrermos, o universo vai ser a nossa casa.
Como assim, 66?
13, o nosso pensamento é um tochinha de fogo, bem bem miudinha, mas bem miudinha mesmo, que nem os olhos conseguem ver. 
Quando nós morrermos essa tochinha de fogo se desliga do nosso corpo e vai embora para onde nós sonhamos ir. E lá já está tudo o que desejamos. Quando nós dormimos estamos lá contruindo a nossa casa. Claro que, às vezes, estamos passeando também.
É verdade 66?
É sim 13. 
Tu precisas de olhos para ver?
Preciso, 66.
Mas 13 e tu sonha como?
Dormindo.
E estás como, 13?
Deitado.
Mas com os olhos como?
Fechados.
E tu precisaste dos olhos para ver?
Não, 66.