SOB E SOBRE A PELE
(Janiel Martins - RN / Brasil)
Sob a pele e sobre a pele
pelados ou por pelar.
Vos tenho.
Aqui no meio do tempo.
Dois mastros que me entesam
pelo texto, pela palavra, por vós.
Um no cheiro,
no tacto e no sabor.
Esse que é um ser eu.
Outro no imaginar,
nos sentidos exaltados
pelo mistério da incerteza sonhada.
São dois, feitos homens feitos,
que se respondem nos desenhos grafados
e perpetuados nos seus escreveres.
Texto de um, belezado pela essência impulsiva.
Texto de outro, belezado pela análise.
Texto de um, projectiva criação.
Texto de outro, analítica interpretação.
Dialogantes inteiros.
Meus.
Sob e sobre a pele.
Amados donos dos vossos dizeres
... convosco sou.
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Fonte da imagem: Facebook |
SOB A PELE
(Antônio Baltazar Gonçalves - SP
/ Brasil)
Não há pressa na pele papel macio
do homem mais velho;
Não há demora na pele seda
porcelana
fria do rapaz de frete.
Vivem sós, marcaram esse
desencontro.
A pressa do rapaz é olho de águia
na grana,
não aprendeu amar.
A demora no olhar do outro é
gana,
esqueceu-se como se ama.
Seria bonito de ver se o caso
fosse outro,
de amor entre dois homens
encontro de gerações como oração
coordenada
pelo desejo nato desinibido
ou a simples sobreposição da pele
à sede de hidratação
ou troca de afeto,
solidão mordida ou apenas fome.
Mas não é o caso,
embora comum é famigerado esse
encontro.
Os dois foram tatuados no escuro
marcados pela vida, um será o
outro amanhã.
Sendo a pele o maior órgão do
corpo
se compreendida tornar-se-ia
e a tudo, o mais humano de nós.
Mas não é o caso o caso desse
encontro.
Aqui a pele é moeda de troca
papel de grife
embrulho
do perfume o frasco
perfumaria
mal tocada quebra
tanto mais trocada mais sangra.
A pele nunca está pronta.
Por negros pêlos de um lado
e loiros finos fios do outro,
perfurada feito granito,
a pele eriçada é a mais bela
flora
na epiderme em choque.
Flor repisada, duro espinho
brutal arma na bainha.
Por fim, o acerto é feito
: amor abjeto, a obra
o coito.
Vivos beijos mortos de línguas
tensas,
o silêncio é o oco do desejo que
sobra.
Na pele dos dois um texto há
muito redigido
é um pedido de socorro mal
grafado,
o grito de um menino que foi
abusado ,
gemido abafado, nada é esquecido.
O medo no ápice do orgasmo
pede colo e paz de abrigo.
Agora só há pressa,
grana
gasta e marcas na grama.
Aplacada
a gana, os dois buscam
no
tempo o que não foram.
No
escuro, a quixotesca figura se desfaz
depois
de aplacado o furor.
Os
homens seguem sem rumo seu rumo,
o
que foi amplificado fica não dito.
Junto
deles vai a sombra do medo,
cravado
na memória do corpo
sob
a pele.
SOBRE
A PELE
(Paulo Passos - Braga / Portugal)
Esfregar na pele
O
sabor de língua
Esfregar na língua
O
sabor de pele
O ansiado
O
desejado
(In)cómodo
e irresistível
Geme
o tesão que é o teu
Não
o que não te pertence
Não
afogues o que tens
Porque
não ao livre?
Solta
no grito o jorro
Desamarra
o pau.
Narração
de angústias
Experimentos
de vão
Tardios,
perdidos
Em
estepes de fraquezas
De
mágoas
Ou
de medos
Massacrado
Oscilante.
Dirás da pele
Que te é alma.
Mas
tem desejo
Desejo
e fuga
Deste
não feito homem
Deste
não feito gente
Desejo
esquecido de ser
Desejo
com dor
Mas
tem outro querer
Mesmo o narcísico
De
fugir
Par
do tesão
Do
tesão de ser homem.
Texto
vivido
Denunciado
Discursação vérita
Analítico
em prosa
Dolorido
em poesia
Cheira
a medo
Tem
narração
Tem
mancha tatuada
Matador
de um
Nascedor
de outro
Fica
no outro
No
do homem teso
No
teso que és tu
Ou
todos
Gritador
do teu gemido
Audível
o teu tesão.
Diz
de ti.
Mutações
Dirás.
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Janiel Martins |