domingo, 28 de maio de 2017

CAFÉ COM LETRAS - COISAS PARA MURMURAR ALTO


Fonte da imagem: internet
PARA VIVENCIAR NADAS
(Ondjaki, Angola)

borboleta é um ser irrequieto
para vestes usa pólen
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho raiz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arco íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.

Ondjaki. Fonte da imagem: internet
Ser SER
(Ondjaki, Angola)

seja ruído
seja beijo
seja voo
seja andorinha
seja lago
seja pacatez de árvore
seja aterrizagem de borboleta
seja mármore de elefante
seja alma de gaivota
seja luz num olhar
seja um cardume de tardes
e grite: JÁ SOU


Almeida Garrett. Fonte da imagem: internet
ESTE INFERNO DE AMAR
(Almeida Garrett, 1799-1854 / Portugal)

Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n´alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz - não o sei:
Mas nessa hora a viver comecei...


Antônio Baltazar Gonçalves. Fonte da imagem: facebook
MUSICAL
(Antônio Baltazar Gonçalves, Brasil)

O olhar molhado do namorado
demora
Logo nota o assunto escondido,
onde moro. Porque demora?
repara.
Emerge precisa resposta, sentidos
Ergue majestoso e se prepara.
laços.
Prolonga
O sussurro no silêncio insurge.
O tato reanima, palmo a palmo.
aroma.
a demora e toca: esconde-onde!
Olfato canta notas mornas, atiça
na pele ancestral acorda e renova.
Cena aberta no contraluz, olhar.
Audição autodidata, auditoria nata.
arrepio
E tudo se refaz, musical.


Paulo Passos.
TROVADOR DE MURMÚRIOS
(Paulo Passos, Portugal)

Fazer o quê?
Fazer o quê com um homem,
Fogoso de abraço que o receba,
Fogoso do esconderijo que lhe é.

Fazer o quê?
Fazer o quê com um homem,
Trovador de murmúrios?
Estar contigo, de inteiro, que te dou.

Murmuramos num 
Suamos num
Num é num.

Inteiros amamos 
Inteiros desejamos
Inteiros espermamos. 

Edição: Janiel Martins


quinta-feira, 25 de maio de 2017

CAMARÃO AUX CHAMPIGNONS


Ingredientes:

- Camarões
- Cogumelos
- Pimento
- Malagueta
- Coentros
- Queijo
- Azeite
- Sal
- Alface
- Tomate
- Oregãos
- Cebola
- Alho


Modo de preparação:

Num tacho com azeite refogue uma cebola e deite o pimento cortado em cubos.
Junte os cogumelos, previamente cortados aos pedaços.
Deixe cozinhar até reduzir o líquido dos ingredientes.
Junte o sal e a malagueta.
Adicione os camarões.
Retire do lume e deixe arrefecer um pouco.
Sirva e polvilhe com uma chuvadinha de coentros e de queijo ralado.



Acompanha ... consigo e com uma colorida salada de tomate, alface, 
oregãos e cebola, com o tempero que de si advém.



Gente ... não se descartem ...!

Fonte das imagens: Janiel Martins

domingo, 21 de maio de 2017

SUSTENTO DA ALMA - COMPANHEIROS DE ANTAGONISMOS

Herberto Helder. Fonte da imagem: internet
TEORIA DAS CORES
(Herberto Helder, 1930-2015 / Portugal)

Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava a sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.

Paulo Passos.
DIZ
(Paulo Passos, Portugal)
Sou de dizer...
Tenho uma burra que está a parir uma vaca.
A vaca tem cornos.
A burra chama-se Fusível.
Sou de um país cheio de messias.
Não gosto dele.
Chama-se Portugal.


Manuel Laranjeira. Fonte da imagem: internet

PESSIMISMO NACIONAL
(Manuel Laranjeira, 1877-1912 - Portugal)

"(...) Um dos aspectos mais típicos da vida portuguesa e um dos seus males mais funestos é a sua prodigiosa fertilidade messiânica. A cada passo surge um homem que se sente com envergadura e ventre de messias. Por cada messias que aborta, pululam inesgotavelmente centos de messias, toda uma falperra de messias (...)"


Cazuza. Fonte da imagem: internet

CITAÇÃO DE
(Cazuza, 1958-1990 / Brasil)
Cantando a gente inventa.
Inventa um romance, uma saudade, uma mentira... 
Cantando a gente faz história. 
Foi gritando que eu aprendi a cantar: sem nenhum pudor, sem pecado. 
Canto para espantar os demônios, para juntar os amigos. 
Para sentir o mundo, para seduzir a vida.



Henry David Thoreau. Fonte da imagem: internet
CITAÇÕES DE
(Henry David Thoreau, 1817-1862 / EUA)

"Por cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal,
há apenas um atacando as raízes."

"Eu clamo não já por governo nenhum,
mas imediatamente por um governo melhor."

"Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus
companheiros, é porque ouve outro tambor."

"Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá."

"Os homens hão-de aprender que a política não é a moral


e que se ocupa apenas do que é oportuno."

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Edição: Paulo Passos




sexta-feira, 19 de maio de 2017

PATANISCAS DE BACALHAU


Ingredientes:

- Bacalhau
- Cebola (1)
- Alho
- Salsa fresca
- Ovos (2)
- Farinha de trigo (2 chávenas de chá)
- Leite (1 chávena de chá)
- Fermento em pó (1 colher de chá)
- Sal q.b.
- Pimenta q.b.
- Louro (1 folha)
- Couve
- Morangos
- Azeitonas
- Azeite
- Óleo de fritar


Modo de preparação:

Após deixar o bacalhau (use aparas, badanas e todas as partes mais baratas) mergulhado em água, durante um dia, mudando a água algumas vezes, coza-o em água com uma folha de louro.


Desfiado e retiradas as espinhas e a pele, misture-o, numa malga, com a cebola, 
o dente de alho e a salsa (não descarte os caules), tudo previamente muito bem picado 
e envolva esses ingredientes.


Noutro recipiente junte a farinha, o fermento em pó e os ovos e mexa sempre 
enquanto verte o leite.
A textura da mistura deverá ser leve mas com alguma consistência.
Junte as partes dos dois recipientes e tempere de sal e pimenta moída.


Numa frigideira com óleo bem quente, frite as porções da mistura, até que o dourado e o crocante invadam a patanisca.
Deixe descansar sobre papel absorvente, antes de servir.


Acompanhe com couves salteadas em cebola e azeite, em provocação aos morangos.


Um copo de vinho e azeitonas fazem parte deste pacote ...!


Edição: Janiel Martins


domingo, 14 de maio de 2017

SUSTENTO DA ALMA - AMORDAÇADOS

Paulo Passos / Portugal.
Como qualquer outro criminoso,
a injustiça também tem mãe - a TIRANIA,
a sempre tóxica tirania.

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Na sua essência bio-psicológica a humanidade é una.
Na sua essência social a humanidade é una, com duas alíneas:
- Os favelados,
- Os que julgam que não o são.

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O preço da tirania e da corrupção
é sempre pago pelos desfavorecidos.

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MORDAÇAS

Mordaças que fuzilam a alma,
Mordaças que secam vontades,
Mordaças que castram pensamentos,
Mordaças que se suportam na mansidão
Obedecer ... OBEDECER ...
Castrar liberdades ...
Reprimir direitos ...
Dizer ... BENÇÃO ... à miséria e à submissão ...
Glorificar a dor ...
Agradecer o sofrimento ...
São os verbos dos carrascos
São predicados das ditaduras
Amordaçar ...
No corrosivo sorriso da tirania ...
Putas de ratazanas ...
Filhas da PUTA
Filhos da PUTA
Paulo Passos


"(...) Não compensar o trabalho é aniquilar o estímulo de trabalhar (...)."
Manuel Laranjeira

Manuel Laranjeira / Portugal, 1877 - 1912. Fonte da imagem: internet.
"(...) Representa esta passividade do povo português, em face da parasitagem que o devora, um profundo sentimento de cobardia? É esgotamento de dignidade? É exaustão da sua dignidade de reagir? Não.
Ninguém lhes ensinou os seus direitos e os seus deveres. Ele, dos direitos do homem tem apenas a noção secular, tradicional: obedecer. Os seus direitos de cidadão livre? Mas como querem que ele os defenda, se nem sequer sabe que eles existem? E com esta consciência moral de servo que ninguém educa até a transformar numa consciência de homem livre, lá se vai debatendo inutilmente a arrancar do ventre da terra-mãe a ilusão da subsistência quotidiana, ou, numa fúria animal de viver, emigra à conquista de pão.
Quanto à minoria ilustrada, como não há-de ser ela pessimista, se se sente isolada, inutilizada, nesta atmosfera de ignorância? Se sente triunfar apenas a escória mental e moral da raça portuguesa? (...)"
Manuel Laranjeira - Pessimismo Nacional (Publicado pela 1ª vez em 1907 - 1908, no jornal - O Norte / Porto).

Miguel Real / Portugal. Fonte da imagem: internet.
"(...) Com efeito, "Pessimismo Nacional" refulge hoje com uma actualidade inisutada. Sob a diferença da conjuntura, vibra hoje, estruturalmente, um século após a sua publicação, o mesmo Portugal que Manuel Laranjeira conheceu entre a última década do séc. XIX e a primeira do séc. XX: instituições bloqueadas ou ineficazes (Justiça, Educação, Saúde), uma classe política genericamente medíocre - refugo, em todos os partidos, das notáveis direcções refundadoras da democracia - , uma Assembleia da República de funcionários, em que mais sobeja o interesse do que o pensamento, um empresariado especulativo, assente no betão e no comércio de curto prazo, elites jogando com a sorte, visando a fama sem o suor do estudo e do trabalho, um povo bárbaro rastejando em Fátima ou ululando em estádios de futebol, de olhos grudados numa televisão vocacionada para mentes imbecis, frequentando os delirantemente maiores centros comerciais da Europa (...)."
Miguel Real. Prefácio de "Pessimismo Nacional" de Manuel Laranjeira,
Edição OMNIA OPERA, Guimarães, 2012.


Júlio Henriques / Portugal. Fonte da imagem: internet.
"Sem chefes não há rebanhos e isto é uma grande catástrofe."
Júlio Henriques


Fred Astaire / EUA, 1899 - 1987. Fonte da imagem: internet.
"Quanto mais alto subimos, mais erros nos são permitidos.
E quando estamos no topo, se errarmos o suficiente,
isso passa a ser considerado o nosso estilo."
Fred Astaire



Edição: Paulo Passos