domingo, 3 de novembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - AÇUCAR E SAL


AÇÚCAR E SAL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aos deuses entregamos a vida
Com os nossos demónios matamos uns
Matamos outros
Matamo-nos uns aos outros

Como guerrear
Nessa guerra?

Ir... é um caminho
Que todos têm a coragem de seguir
Voltar... é o caminho
Que poucos conseguirão

Deuses e demónios
Incorporam-me
Incorporam-nos

Estamos na constante guerra
De se entregar aos deuses
De entregar aos deuses

O que irão fazer os deuses
Com a nossa miséria?
Tornam-se demónios.

Edição: Paulo Passos



domingo, 27 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - DOIS... EM POESIA


SONETO PARA FLORBELA
A Florbela Espanca (In Memoriam)
(Edilon Moreira, BA/BRASIL)

Quisera fosse este presente a uma Flor...
Das criaturas é a mais delicada e bela!
Na vida, na alegria, na tristeza e na dor
A sua presença é marcante e singela!

Nascida como Florbela, de uma outra Flor...
Vertente em Sonetos, duma curta Primavera
Que não se espanca, nem com pena de cor
E louva-se nos versos, por onde se reverbera...

Quisera merecer um soneto e não compor...
E gritá-lo ao ardor por fora da estratosfera
Para ser percebido e causar-te, um fervor!

E repousar, se achegar aonde o amor espera...
E achar teu doce odor, onde jaz a miúda Flor
Aterrada em luso solo, tranquila... Mais etérea!



INSOLÚVEL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Aceita uma água
Não
Um azeite
Sim

O incerto
Não aceita
O certo

É tão
Duvidoso
Que aceita
O inseticida



 
Edição: Paulo Passos


domingo, 20 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - O VENTO LEVOU


O VENTO LEVOU
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Parece que vai chover.
Espero que não, homem! Hoje é o aniversário da menina da Dalva.
Que dia é mesmo, Tornica?
É dia 32.
Dia 32, dona Tornica?
Sim homem, é hoje.
O tempo está é bonito!
Tu vais é gostar de sair de casa com guarda-chuva que Marluce te deu! 
Tu gostas é de coisa para acumular, mulher! 
Nada José, vem até uma chuvinha do lado de baixo. Espia só!
É verdade, que milagre é esse chovendo nesta altura do ano? 
Vai lá coisa ruim, mostrar o teu guarda-chuva, que chuva aqui no Sertão é difícil!
Que ventania é essa, meu Deus? 
Ai meu Deus o vento está levando Tornica. Se segura mulher!
Socorro, me espendurei no gancho do guarda-chuva. 
Eu estou indo pelos ares. 
Estou com medo. 
Socorro... estou cada vez mais alto.
E agora meu Deus, o que que faço para ajudar a minha mulher, a minha Tornica?

Foi um alvoroço mendonho no Vale da Pipa. Não tinha como controlar o vento e a danada da dona Tornica é tão magra, que a ventania passou, e a danada não descia de jeito nenhum, e o povo sem saber o que fazer, para acudir.

A pobre nunca comeu uma fruta; não tem um dente na boca; o osso dela é igual a papel...
Credo, essa criatura não tem carne naquele corpo, tem só pele e vento dentro dela.
O prefeito parece um boi, de tanto comer. 
A vaca dele gastando dinheiro para fechar o estômago.
Onde estão os bombeiros, que não chegam!
Bombeiros só na capital, meu filho. Daqui para amanhã eles chegam.
Ela não pode passar a noite ao relento, no escuro!
Chegaram os bombeiros. Chegaram os bombeiros. 
Até que enfim.
Vocês vão fazer o quê, para descer a minha mulher?
Infelizmente não podemos fazer nada que a escada que temos é de 70 metros, e a mulher está mais ou menos ha uns 300 metros do chão.
E qual vai ser a solução, meu Deus?
Infelizmente não temos, Sr José.
A culpa é dos políticos que privatizam tudo e nós pagamos para viver e dar luxo à esses mangotes de chico-espertos.
É verdade! 
Nós somos escravos dos ricos e ainda ensinam aos nossos filhos que ser rico é para poucos, vocês roubam dos mansos e vivem nos escravizando.
É verdade!
A escravidão não acabou, os espertos mudaram a forma de nos escravizar.
O político tem auxílio de tudo, até de roupa.
O manso, que é o pobre, sai do Sertão se tiver o dinheiro da passagem. 
Vai para a cidade grande passar fome, sede, dorme no canto de parede e, quando trabalha, é para pagar o aluguer e comer. Não sobra nada. Nem para roupa e muito menos para ir ao dentista. 
Pior, tem ainda tem ser gente que ri da desgraça do desdentado. 
E político tem de tudo e mais um pouco.
A pele chega a brilhar de bem tratada. 
Até parece um boi bem tratado, gordo e pronto para o abate.
E a coitada dessa mulher aí, o vento levou.
Não existe rico. 
Existem corruptos e doentes do caráter, assim como existem pessoas mansas, que o permitem.
Se o político tira férias é porque o trabalhador não tira e deixa.
Porque o rico explora e rouba o manso, e este aceita tudo de boca costurada.

Já é boquinha da noite, no Vale da Pipa, e a mulher não desce...!

Vamos fazer assim: já que a polícia está aqui, vamos pedir que eles atirem no guarda chuva e aí nós pegamos numas cobertas e seguramos a danada. 
O que você acha, José?
Eu não tenho o que achar! Já que não tem outra solução, temos que arriscar.
Sr. polícia tem como algum de vocês atirar no guarda-chuva, para ver ser a mulher desce?
Tem sim. Deixa-me chamar o cabra que atira numa laranja no ar.
Depois de cinco tiros a pobre da dona Tornica começou a descer, a pairar e... olhem só, nem precisou dos homens a amparar. 
A infeliz era magra de verdade... igual a fome.


Edição: Paulo Passos






PIMPÃO VERMELHO ASSADO COM ALECRIM


Ingredientes

- 1 pimpão vermelho
- Chu-chu
- Bróculis 
- Alecrim
- Louro
- Sal
- Malagueta
- Azeite


Modo de preparação

Coloque o alecrim dentro da assadeira.
Regue com um fio de azeite e sal.
Coloque o peixe inteiro sobre o preparado.
Retoque com sal, azeite e malagueta.
Esfregue suavemente e deixe absorver.
Cubra com papel de alumínio e leve ao forno a 180º.



Num tacho com água, sal e uma folha de louro,
coza os chu-chus e os bróculis, 
que servirão de acompanhamento,
bem regados com o molho criado pelo assado.


Enjoy... 
Enjoy your sunday...!

Edição: Janiel Martins

domingo, 13 de outubro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - CURRAL


CURRAL
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Símbolos
As cancelas são

Representam
Dizem
De animais encurralados

Em cada curral um rei
Para cada rei
Um calhamaço de escravos

 Ser em anseio
Em anseio ser...
Habitantes da terra
Não de um curral

Levantar a cabeça
E baixar o orgulho
Não aos reis nos currais
Não aos reis dos currais

Mansos
Idolatrando a falsa grandeza
Tanto orgulho menor
E em vão

A vida é e ocupa...
Ocupa uma pequena temporada

Aos reis a dor é alheia
É alheia e a felicidade em arena

Aos mansos
A riqueza é mísera e alheia 
É um sonho continuado

Sonham 
O sonho é...
É o abismo e a crença
O pensar é o freio sapiens
É o freio do homem (o sapiens)

Sustentar quem e...
Sustentar até quando?

Maria não luta para viver
Resignou no coletivo

Adoeceu de tanto bucho vazio
De tanto parir
De tanto pagar aluguer


Edição de: Paulo Passos




domingo, 6 de outubro de 2019

AÇORDA DE AMEIJÔAS


Ingredientes:

- Miolo de ameijoas (150 g)
- Pão (duro)
- Ovos
- Espinafres
- Coentros
- Azeite
- Cebola
- Alho
- Pimenta
- Sal



Modo de preparação:

Demolhe o pão em água.
Coza o miolo das ameijôas (podem ser congelados) em água e sal 
e não descarte a água.
Num tacho refogue a cebola, previamente picada, em azeite.
Esmague os dentes de alho e adicione ao refogado, assim como 
os cubinhos (cerca de meia dúzia) de espinafres congelados, bem como a pimenta.
Escorra o pão e junte ao preparado.
Misture a quantidade necessária de água da cozedura das ameijôas.
Envolva grosseiramente e deixe apurar.
Confira temperos.
Na hora de servir junte os ovos (um por pessoa) e
mexa vigorosamente, de modo a que eles se envolvam 
e cozinhem na temperatura da açorda.
Polvilhe com coentros.



Vitamine-se e...



Deixo o resto por sua conta ...!

Edição: Janiel Martins




domingo, 29 de setembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - NO CHÃO E O CÉU


NO CHÃO E O CÉU 
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Bom dia Paulo
Bom dia Chico
Como estás?
Estou bem
E como está o céu?
Está na solidão
A distância confunde-se com a solidão
Solidão é não saber
A distância é um sentimento
Está bem!


Edição: Paulo Passos




domingo, 22 de setembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - SERTÃO DE CONTOS E DE TESÃO


SERTÃO DE CONTOS E DE TESÃO
(Janiel Martins - RN / Brasil)


Sertão ... Sertão de mistérios ...
de sentidas lendas e narrativas ...
Sertão de histórias de convicções ... quais as almas que ali sufragam ...
irredutíveis a argumentações das doutas conveniências ...
império da razão ... da razão embelezada com os medos e as fantasias,
enriquecida com as crenças feitas gente, feitas horas, feita crónica,
adjectivada com as honras das certezas que, 
feitas dúvidas, tatuam-se na coragem dos mistérios ...
impondo a verticalidade das vontades ali vingadas ...!!!
Sertão de tesão ...!!!


No intimismo da corporalidade ...
... conduzido pela potência de quem domina o cavalo
e conduz uma manada como se fosse um animal só ...
... num conto ardente de desejo, de pertença e de tesão ...!!!

Mistérios que habitam os tempos, os lugares e as mentes ...
prenhes de cortesias e dominação pela nobreza do sereno
de quem nele silencia a comoção, sangra em solidão e jorra 
a essência do macho para onde o tesão apontar ...
Aponta ... Sertão de virtudes assinadas ... sorrindo e
com mãos entranhadas nas fontes da magia,
liberta-se em esperma enamorada aos gemidos dos desejos ...
... desejos feitos para serem gemidos ... 
... na desregrada medida da pureza de tudo no tesão ...!!!

Sertão de contos ...!!!


Edição: Paulo Passos


SOPA DE ABÓBORA E SALSA


Ingredientes:

- Abóbora
- Salsa
- Cebolas
- Alho
- Batatas
- Malagueta (opcional)
- Azeite
- Sal



Modo de preparação:

Pique a cebola para uma panela e refogue-a em azeite.
Misture o alho picado e a malagueta.
Junte a abóbora e as batatas (apenas o suficiente
para engrossar um pouco o caldo) cortadas aos pedaços.
Tempere de sal, cubra com água e deixe cozinhar.
Um pouco antes de desligar o fogo,
adicione alguns talos da salsa para os escaldar.
Desligue o fogo e deixe arrefecer um pouco.
Passe na varinha mágica ou no liquidificador.


Verifique temperos e a espessura da sopa,
pelo que deverá acrescentar água, caso seja necessário.
Polvilhe com salsa picada e envolva.


Acompanha com avelãs ou outros frutos secos.
e finalize com umas saborosas pêras ercolini.



Edição: Janiel Martins

domingo, 15 de setembro de 2019

CAFÉ COM LETRAS - UMA MOEDA


UMA MOEDA
(Janiel Martins, RN/Brasil)


um abraço
faltou na transa
um sonho cansado
desistiu de sonhar

que guerra é a do corpo?
é por alimento e água
e ainda temos vergonha de cagar!

do sentimento é o amor
o amor é o companheirismo
e não falamos de transa

a guerra do corpo é sigunlar
o sentimento é comunitário
o sentimento é confuso
é duvidoso
é triste 
é alegre

quem direciona
os pensamentos?
é a fome?
e os saciados o que fazem?

deveríamos construir a igualdade
e não querer ser reis

já basta a bíblia
já basta o vicio da fome
aprendemos como rainhas?

quando vamos
desatar o nó 
da arrogância
do passado
o nó da humanidade?
tudo é de todos
mais nem todos
estão acordados

o dilema: 
acordar ou fingir?
o dilema:
calçar e andar
ou 
descalçar e desistir?

enquanto silenciarmos
a nossa inveja
pagamos luxos e injustiças
para homens
que desejamos ser

a tristeza
é acanhada
é o nosso silêncio
são os nossos sonhos
... MORRENDO


Edição: Paulo Passos