domingo, 18 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - NO DEDO PODE NASCER UM OLHO


NO DEDO PODE NASCER UM OLHO

(Janiel Martins, RN/Brasil)


O que estás a fazer com estes dois dedo em pé, e com os olhos fechados? 

Estou tentando ver se nasce dois olhos nos dedo, mas tu cortaste a energia que estava sendo usada para isso. 

Levanta-te, tens que ir trabalhar! 

Obedecer a um patrão de um sistemas injusto. 

É o teu ganha pão. 

Sim, mas não a minha guerra. 

Obedeces e nada mais. 

Como isto mudou o ramo do homem, deveríamos caçar e não rasgar o sentimento. 

Ferimos a natureza do ser vivo, começamos a minguar e a tristeza vem com mais facilidade.

Não temos mais voz a não ser a de obedecer. 

Temos que ser flexíveis. 

Como assim, flexíveis?

A terra foi dividida em curral.

Não somos humanos.

Mais um número... ou uma vontade de alguém...!


Já sei que o dia e a noite não me pertencem, mas gosto de sentir a emoção das nuvens, da distância do sol e, às vezes... são vezes que pensam por mim. 

Isto me pertence.

O sol troca de roupa? 

Claro que sim. 

Deve ser para ir dormir.

É bonito quando ele está com a roupa vermelha, ele fica bem grandão e quando acorda também.


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - VEREDAS DA VIDA


VEREDAS DA VIDA

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Até onde o pensamento vai?

Sem me arder.

O meu corpo é frágil.

Finjo ser forte.

A ferida da alma dói.

domingo, 4 de setembro de 2022

CAFÉ COM LETRAS - FIOZINHO

 

FIOZINHO
(Janiel Martins, RN/Brasil)

O mundo era todo escuro, da cor de tirna de fogão a lenha.
Bem mais escuro ainda.
Nessa escuridão, começou a criar um fiozinho, bem fininho mesmo.
Esses fios começaram a bater no outro.
Oi, oi, aí... nessas batidas começaram a pensar, só que nem eles sabiam o que estavam fazendo. 
Só que eles estavam pensando: por que um batia no outro? 

Um dia, esses fios, de tanto pensarem, explodiram e pegou-se fogo no mundo.
Daí as cinzas formaram pedras e as pedras foram-se desgastando e formaram a terra e os outros cantos do mundo.

Surgido do pensamento, o mundo não tem nem início e nem tem fim.

domingo, 28 de agosto de 2022

domingo, 21 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - SALTAMOS?


SALTAMOS?

(Janiel Martins, RN/Brasil)


Dentro de mim há barulho e um silêncio cheio de almas. 

Carrego a vida e admiro cada ser.

Eu vou cuidar de todos, não vou ser mais um dos animais deste zoológico.

As cores radiantes dos pássaros me dão leveza, porque sou este porco?

Tu sois um porco, meu avô?

Não meu filho, sou só um velho cheio de mofo. 

Gosto deste mofo. 

Faz-me lembrar que eu vivi.

E tu não vives mais?

Vivo a intensidão do ir. 

Já me perco lá longe. 

Tentar voltar já é uma dorzinha.

Lá longe é como, meu avó?

É um buraco onde as almas vivem, onde o silêncio e o barulho não brigam, a noite e o dia estão juntos, assim como o ver e o escuro.

É lá que a minha mãe está?

É sim meu filho, onde a nossa alma estará.

Saltamos?


domingo, 14 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - IN-SENTIDOS



IN-SENTIDOS
(Janiel Martins, RN/Brasil)

Cair no abismo
e na beleza de ver o sol nascer

Deixei-me ir


Sem outro caminho
a não ser o rasto do belo

Que nos faz perder

domingo, 7 de agosto de 2022

CAFÉ COM LETRAS - INDO PEGAR UMA ESTRELA


INDO PEGAR UMA ESTRELA
(Janiel Martins, RN/Brasil)


Vô, cadê a minha mãe? 

Vai demorar?

Vai sim, meu filho.

Ela falou que ia pegar uma estrela pra tu.

Tu quer ir lá com eu?

O vô não sabe o caminho. Descobrirás depois de tu crescer.

Tu acha que ela foi como?

Será que um pássaro levou ela?

Acho que não, meu filho. 

Será que ela criou asas e foi? 

Vou tentar voar.


 Edição: Paulo Passos

domingo, 31 de julho de 2022

CAFÉ COM LETRAS - FEIRA DE ARTESANATO DE BARCELOS: APONTAMENTOS


Barcelos/Portugal

ARTE - SANATO 

29 de Julho a 07 de Agosto de 2022

Galeria de artesãs e artesãos: alguns rostos de significado...


...ceramistas de renome...


...em expressão à presença...


...em modo figurado...


...cumprindo heranças...


...naturais do Minho... 


...naturais de Barcelos...


...traduzindo o povo...


...traduzindo a vida e traduzindo Portugal.


Bem hajam
Edição: Janiel Martins


domingo, 24 de julho de 2022

SUSTENTO DA ALMA - RECOMENDAÇÕES DE UMA PSICÓLOGA DE FAMÍLIA


Paulo Passos

Em: https://sai-qolo-gi.blogspot.com/2021/07/recomendacoes-duma-psicologa-de-familia.html

 

Sim... uma psicóloga.

Moça ainda nova (beirando os 30), mas convicta (aparentemente). 

É uma psicóloga de família. 

Psicóloga de família... e de outras coisas.

É uma psicóloga conselheira.

Chama-se Jéssica Patrícia.

(Diz-se: Dr.ª Jéssica Patrícia.)

A Dr.ª Jéssica Patrícia é muito urbana.

 

Os "ímpros".

"Ímpro" é uma variante de "hiper", quando aplicada aos hipermercados.

Hipermecado ou "Hiper", para facilitar a comunicação.

 "Ímpro", para os criativos. 

 

(Para dizer a palavra "ímpro", basta verbalizar a primeira sílaba (ím), que a seguinte aparece logo. Mas tem que se carregar bem no "í". Quando assim pronunciado, surge logo a palavra completa e fica tudo composto e com o destino traçado.)

Vai-se, então, ao ímpro.

 

As pessoas vão ao ímpro.

O ímpro serve para fazer compras e para passear.

 

Ir ao ímpro, em família, é uma recomendação que a psicóloga Jéssica Patrícia aconselha.

Uma sanitária (aproveitando a moda do vocábulo) recomendação.

Sanitária e sem dar trabalho, pelo cariz voluntário que a veste, reveste e torna a vestir (tal como o vira que vira e torna a virar...).

São muito acatadas as recomendações da psicóloga de família e de outras coisas, Dr.ª Jéssica Patrícia.

Além do aconchego familiar, há o convívio ("combíbio", para os do Norte) social.

São recomendações da psicóloga Jéssica Patrícia que, numa prescrição que pode ser diária, há a recomendação de, aos domingos à tarde, o efeito ter mais impacto sobre o prazer.

 

O ímpro e o domingo à tarde, são quase um mercante fenómeno de engenharia social.

Nas tardes de domingo, as recomendações assumem, então, o seu momento áureo.

Sem contra-tempos, sem indecisões e sem contrariedades. 

Vai-se.

 

Estacionado o citadino e utilitário veículo de 5 lugares (ou carrinha de 9 ou, até, de caixa aberta), vê-se o desfile de criaturas protagonistas (ainda em formato de aroma de partes de pijama cansado) em direcção à porta, que se abre só (e em magia), do ímpro.

O determino da mãe retira o carrinho para as compras.

Assume o comando do veículo, assim como de todas as outras exigências.

Ainda com réstias do mau humor, fruto da zaragata na hora da refeição (por via do excesso de vinho emborcado pelo marido e sogro), vai no comando, empinando mais ainda o colosso conjunto de duas mamas que a enfeitam e se salientam sob a blusa prateada, bem colada ao corpo. 

Arrasta consigo a velha-mãe que se agarra na lateral do carrinho (amparando-se, querendo acelerar para acompanhar o génio da filha, mas a perna... já não vai lá...), e que, num preparo pensado, se exibe lenta (das dores propósitas), de legs côr-de-rosa, sapatilha branca com aplicativos dourados e t-shirt justa ao corpo, da côr que mais achou ao agrado.

O marido e o sogro seguem-lhe a peugada, levando, de vez em quando (ambos), e por via do audível arejo fugido pela tubagem inferior, um sopapo ofendido, nos bandulhos, dado com a mala, junto com um sacudido e humilhante: "porcos". A velha, aproveitando a culpa já atribuída aos outros, dispara no mesmo sentido (para trás), num alívio que lhe põe um pálido sorriso no rosto. E segue viagem...! 

De nada se apercebe, a velha, para além do alívio, das dores e da admiração pela sua sapatilha com aplicativos dourados.

A filha adolescente, trajada a gosto, segue num afastamento que lhe é devido às imposições das conveniências, sem retirar o olhar do telemóvel que segura e exibe com invejável honra.

O rapaz, aluno da 2ª classe, aproxima-se do pai e do avô, mas sempre vítima dos puxões dados pela mãe, para o afastar da proximidade da zona, farta em indesejados odores. Segue, então, o pequeno, entre a parte de trás do cortejo e a parte junto ao andor, numa luta com um pujante obstáculo nasal que o invade, quase até ao cérebro, que esgravata com a falangeta do indicador direito, integralmente metida na narina, acompanhado do revirar de olhos e franzir de nariz, para melhor apanhar o jeito.

A sobrinha, pela parte do marido, 18 anos acabados de fazer e vestida na sua orgulhosa moda de igual à moda, acompanha a procissão, com a primita de 10 meses ao colo, esta de bandolete amarelinha, elástica e com laço conforme, a prender as penugens que teimam em rarear, numa parceria com diversos pontos do ímpro, de onde emanam orquestrações gritadas dos infelizes berçantes, em oposição aos incómodos trejeitos ambientais das famílias no ímpro.

Num cumprido celibato emancipatório, lá vai a rusga no desígnio que lhe é de opinião e satisfação, matando outros de inveja, esta parte já não tão focalizada pela psicóloga de família (e de outras coisas), como é de bem.

Tarde passada sem demais atributos.

Acompanhando os roncos do sogro, já de volta ao paraíso familiar do r/c esqº trás de um suburbano prédio de 12 andares, vão os resmungos da matrona, numa orquestra onde se ouvem os pasmos silêncios da velha; os sons do telemóvel da filha; o trautear de uma cantiga mal cantada (estrangeira) da sobrinha, tentando acalmar o berreiro da criança de colo; os peidos do marido (que conduz) e os do filho que gargalha em sintonia com o sorriso do pai...; num rogar de praga ao dia que, invariavelmente se repetirá num futuro próximo (fds seguinte), no cumprimento das sanitárias  recomendações da psicóloga de família (e de outras coisas), intitulada e auto-intitulada de Dr.ª Jéssica Patrícia.

Entusiasticamente anseiam as próximas férias anuais, de duas semanas no Algarve.

Já de férias, numa tarde de chuva, limitante para praia, cruzam-se com a psicóloga de família e de outras coisas (a auto-intitulada Dr.ª Jéssica Patrícia), que lhes desvia o olhar, enquanto se dirige para a porta principal do ímpro. Vai na companhia do pai, da mãe e da irmã (recém divorciada), enquanto empurra um carrinho de bebé, onde está deitada uma criatura de poucos meses, dando já alta voz à sua peremptoriedade para com o berreiro e para com o infortúnio.

 Edição: Paulo Passos

domingo, 17 de julho de 2022

CAFÉ COM LETRAS - BLACK HOUSE


BLACK HOUSE

(Janiel Martins, RN/Brasil)


No escuro vivia Deus.

Deus pensou: porquê tanta solidão? Vou fazer outra noite. 

Deus continuou solitário. 

Somos a escuridão. Só viemos olhar o mundo. Caso contrário seríamos destruídos pela luz.


Edição: Paulo Passos