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Adolfo Caminha, Brasil. Fonte da imagem: internet. |
"(...) Estava satisfeita a vontade de
Bom-Crioulo. Aleixo surgia-lhe agora em plena e exuberante nudez, muito alvo,
as formas roliças de calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do
aposento, na penumbra acariciadora daquele ignorado e impudico santuário de
paixões inconfessáveis (...)"
Bom-Crioulo,
Adolfo Caminha.
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Guilherme Simões, Portugal. Fonte da imagem: facebook. |
MERGULHO
(Guilherme Simões)
Fui dar um mergulho como o planeado,
mas um pouco mais tarde.
Ele foi comigo e, ao chegar à zona
balnear do Negrito, estendi a toalha e ele também.
Reparei que não se sentia muito
confortável. Estava habituado a areia e ali era cimento.
Passei-lhe o protector solar,
respondeu que não era preciso.
Eu disse-lhe que era melhor.
E tu? Perguntou ele. Eu vou primeiro
dar um mergulho. Não respondeu.
Tirei uma almofada insuflável,
enchi-a e dei-lhe.
E tu? Eu o quê? Ah, não gosto de me
deitar!
Aceitou, agradeceu, pôs os óculos de
sol e deitou-se.
Pernas ligeiramente abertas e os
braços bem abertos, como se estivesse crucificado.
Vou dar um mergulho, disse eu.
Ele não respondeu mas fez um pequeno
gesto com a cabeça de concordância.
Dei várias braçadas e afastei-me do
cais para o poder ver.
Lá estava deitado na mesma posição.
Quando saí do mar e me sentei na
toalha ele, sem se mexer, disse: tens água? Claro que tenho mas está natural.
Serve, disse ele. Sentou-se, dei-lhe a garrafa de água, ele bebeu um pedaço e
deu mais gole. Tinha sede, disse.
Não respondi porque ele não imaginava
a sede que eu tinha, sede de lhe beber o pensamento, de nadar na alma dele.
Agora é a minha vez de dar um
mergulho.
Levantou-se, deu-me os óculos de sol
e dirigiu-se aos degraus que acedem ao mar.
Fiquei a observar.
Ele a descer as escadas, vi-o a
desaparecer aos poucos.
Fiz uma coisa que ele detesta: fumar
um cigarro.
Dirigi-me ao varandim de tubo pintado
de azul e fiquei a vê-lo na água.
Ele viu que estava a fumar e abanou a
cabeça em sinal reprovativo.
Apaguei o cigarro e fiquei a vê-lo
sair da água.
Visão espantosa, o sol a iluminar
aquele corpo esguio, os calções colados ao corpo mostrando as formas belas do
sexo, a água escorria pelo corpo e cara, ele sacudiu a cabeça, passou as duas
mãos pelo cabelo e sacudiu novamente.
Estava majestoso, olhou para mim e
disse: água belíssima.
Dirigiu-se para a toalha, vi os
olhares que as fêmeas lhe lançavam.
Afinal, ele era meu!
Fui também para a toalha e ele disse:
tira os óculos!
Para quê? O sol incomoda!
Ele repetiu: quero ver os teus olhos!
Eu tinha medo que ele visse a luxúria
que os meus olhos deixavam ver.
Contudo, tirei os óculos e ele disse:
eu sabia.
Não respondi, ele voltou a deitar-se
e eu nada disse.
Ficámos em silêncio uns minutos.
Ele, sem se mexer, disse: este sol é
gostoso mas é perigoso.
Deu uma risada, olhei e percebi, os
calções tinham um grande inchaço.
Fiquei sem saber o que dizer e fazer.
Mas percebi que tinha dado UM MERGULHO NA FELICIDADE.
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Jorge Amado, Brasil. Fonte da imagem: Internet |
"(...) desde pela manhã cedinho até a hora da
maré vespertina quando os saveiros partes mar afora na procissão da Janaína, à frente o
de mestre Flaviano conduzindo o presente principal, o dos pescadores.
No
meio do mar a Rainha espera, trajada de transparentes conchas azuis, na mão o
abebé, odoia, Yemanjá, odoia! (,,,)"
Tereza Batista cansada de guerra, Jorge Amado.
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Edição: Janiel Martins |