O BAILADO EM UM QUARTO
(Janiel Martins, RN/Brasil)
Vai devagar, caralho
Está doendo
Fode caralho, bata mais.
O que foi? O que está acontecendo?
Tereza olhou para Izaque, com um olhar de decepcão.
Izaque faz birra e vira-se para o outro lado, sem se vir.
Ai meu Deus eles estavam fodendo, quem os mandou fazerem barulho? Eu jurava que eles estavam brigando.
Izaque, está na hora de ir trabalhar!
Já sei.
Eu estou indo, que vou sacar o dinheiro para pagar a renda do quarto.
Um dia, Izaque, vamos ter a nossa casa.
Um dia eu ver morrer Tereza, sem ter a dignidade de ter vivido.
Somos imigrantes mofando dentro de um quarto, sem poder peidar, cagar, foder, acreditando (no engano) que amanhã vai ser melhor.
Temos que ter paciência, que tudo vai dar certo, Izaque.
Paciência é um perigo. Fodemos em silêncio. O tesão é mais ódio e desamparo do que prazer. Prazer é comer e ficar satisfeito.
O meu juízo produz estrelinhas que já não são pensamentos.
O que é isso Izaque?
É o suicido do pré-pensamento, Tereza.
O meu sonho é ter a minha casa e um trabalho que digne a igualdade, Izaque!
Os animais são separados quando aprendem a comer.
Os humanos não tem coragem de largar a cria.
Tornamo-nos adultos cheios de mofo atrás de um sonho falso e fedendo a um suor alheio, que também é o nosso, onde a fome se habita corroendo a humanidade.
As palavras tornaram ordem mas o sentimento é o alheio.
Penso pelos meus ossos, pelos dentes que já perdi, pela fome que já senti, pelas desigualdades.
Quando falaste em morte, as estrelinhas explodiram com medo, dentro do meu juízo, Izaque.
As estrelinhas são sabidas.
As pessoas trocaram sentimentos por palavras ausentes.
Fizeram-nos movimentar e ver.
Os homens desaprenderam de pensar.
E foram todos copiados.
Edição: Paulo Passos