domingo, 27 de março de 2016

CAFÉ COM LETRAS - NATURAL MOTIVAÇÃO ARTÍSTICA


 

"É a minha vez" e "A santa ceia dos condenados"

Dois exemplos de notoriedade de um trabalho mental trazido à superfície, pela via da pintura, no cenário do nobre efeito de motivações naturais, num auto-didatismo tão natural quanto perfeito. Sem invasões de academismos balizados por tendências, qual moda travestida de trapos. 

Não se trata disso, trata-se, eficazmente de um suspiro embelezador, catártico, com origem nas naturalidades de indivíduo, na perfeita isenção a subjugações ou adesões de carreirismos ou ideologias artísticas. 
É um perfeito, saudável e natural exemplo de alheamento de influências.
Existem, certamente, influências ... São as proprioceptivas, as da naturalidade, as da essência do sujeito.
Naif ? Eventualmente, no banal e categórico balanço técnico! Discordando, adianta-se, pela plasmada razão do volume de conteúdo tão denso, nas esferas do inconsciente, onde o traço e a cor foram as únicas vias para o iluminar. 
Preciosa ingenuidade!

De que importa a classificação e a categorização, perante tanta profundidade de sentir e saber?
Congratula-se pela liberdade de não estar acorrentado nem atrelado ao competitivo, incompleto e limitado mundo académico, nem ao de prestação incondicional de vassalagem
aos meandros comerciais e negociais.
Este "doutoramento" não tem referências bibliográficas, 
é isento de academismos e de vassalagens, 
e não obedece às regras da indústria dos títulos.
Este "doutoramento" tem estudo, tem trabalho, tem visão, vida e genialidade!
Não tem atropelos, nem abalroamentos!

Honrosas congratulações ao homem e ao autor, pela nobreza do seu caráter, de onde lhe transbordam qualificações.
É um filho da honestidade.
  

É A MINHA VEZ
(2016)

Acrílico sobre tela: 24 cm X 18 cm (assinado e datado no verso)




Ingredientes de exatidão para a confeção de uma preciosa caracterização de um exemplar manifesto de motivação artística, especificamente, para a pintura, de um jeito integralmente natural, ou como se diz em linguagem da ciência psicológica, motivação oriunda de um local de controlo, de índole interno e ativo (é um tipo de elite, porque mais seguro e genuíno).
É uma aptidão em transformação de capacidades artísticas.
Genuína concetualização (psica)analítica, onde se cruzam as mais nobres e profundas pulsões com a algazarra das intenções de registo social.
É um cruzamento com conflito. 
Espelha, o quadro, uma matriz de sentimentos provenientes de uma excelência capacidade introspetiva, em confronto com as exigências de um estado social decadente e ofensivo para o conforto pulsional.
Traduz a guerra entre o motivo da doença social (os obscuros e danosos territórios sociais) e os esforços psíquicos para salvaguardar, até ao limite, a integridade possível, do sistema psicológico.
Não se segura no conforto e na certeza das relações, segura-se numa linha de montagem fabril, numa fila de espera para se ser alimentado, ordenhando oralmente a mãe. Do menor ao maior que, na ausência de espaço psicológico, se vão esgueirando e contorcendo para o alcance dos fins (sugar). É a origem da ginástica realizada nos meandros da malandragem, para o alcance do fim. É o simbolismo do desrespeito pelos meios, do desrespeito pelo outro. Simboliza as mais básicas estratégias de sobrevivência - a caça - mascarado pela máscara socialmente visível da organização (falsa). Na confirmada ausência de fiscalização, o impulso é o de ataque para roubar, no imediato. 
Tal como na doença do caráter, onde o contorcionismo obscuro,  para o alcance das intenções, assume as rédeas do cumprimento, meio usado por excelência. 

O quadro intitulado "É a minha vez", salienta-se no índole do inconsciente, materializado numa colorida, contudo aflitiva, alusão ao formato biológico da nutrição - a amamentação. 
Traduz quase um propósito sobrevivente, chorando-se sobre o leite derramado.
Traduz-se pelos ímpetos da animalidade, no formato humano.


A SANTA CEIA DOS CONDENADOS
(2016)

Acrílico sobre madeira: 44 cm X 34 cm (assinado e datado no verso)

Título: A Santa Ceia dos Condenados

Simbolização da beatificação dos condenados, dos desviados, dos segregados.
É a glorificação do mal, simplificado pelos valores da corrupção, camuflados pela honestidade. 
É o sistema social beatificador das suas próprias inseguranças e maleitas.
Glorificação dos condenados (da humanidade), materializados por representações liliputianas ou demóniozinhos, ou mesmo por meros pensamentos ou rasgos pulsionais, tão só por serem humanos.
A cor fortalece o quadro, mantendo-se a delicadeza dos gestos inerentes à leveza dos pensamentos ou das intenções (conscientes ou não conscientes).
O vermelho de fundo, incute um forte cariz de infernização e penalização ao cenário, contudo, zombado pelos sorrisos expressos nos rostos dos esvoaçantes e condenados pensamentos, existindo como o comportamento de um fluido, ocupador da globalidade do espaço, com insistência e sem contrariedade! Existe!
Ceia dos condenados ou dos pensamentos condenados!
Santa ceia dos pensamentos condenados e condenáveis! 
Visão supra-terrena e supra-matéria da condenação.
Materializa os ímpetos humanos, repletos de devassidão, aos olhos de uma moral devassa e aos olhos da hipocrisia dos valores sociais, da falsidade entre o sentido e o pérfido proclamado protocolo de definição das condutas exemplares.

Os dois quadros encontram-se na profusão da profunda linguagem psicológica, na linguagem intra-psíquica. Usam corpos para se exprimirem, sem que a linguagem seja a corporal. Escravizam corpos, os dois quadros. Salientam almas, denunciam desigualdades, denunciam aflições sufocadas.
Cruzam-se na linha da continuidade do notável constructo que habita a imaginação, manifesto pela criatividade e pelo saber fazer material, de material psicológico.
Excelente otimização do poder introspetivo e de o trazer para a partilha.

"Um quadro não serve para decorar paredes. Um quadro é uma arma de guerra"
                                                                                                                            (Picasso)

"A lógica leva-nos do ponto A ao ponto B. A imaginação leva-nos para todos os lugares"
                                                                                                                                      (Einstein)











(Por manifesta vontade do autor, não é debitada a sua identidade)

Fonte das imagens: Janielson Martins


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