Desenho de Gorka Olmo PREFÁCIO (ANDO): |
O El PAÍS, em 20 de Setembro de 2017, publica uma matéria acessível sobre o DON JUANISMO
ou MITO DE DON JUAN, que merece ser lido e, entendido,
como denúncia e como arma de protecção aos encantos
como denúncia e como arma de protecção aos encantos
de todos os que se movimentam na esfera do narcisismo psicopático, embebido numa doce e sedutora disponibilidade e empolgamento, até que a vítima deixe de estar na sua interesseira alçada manipulativa.
A competência de encantar, encantando-se a si próprio, é falível, como todas as outras competências ... basta não cair nas pálidas tentações que dele emanam, e as feridas do encanto e da magia começam a manifestarem-se.
Recusar e contrariar, algum dos intentos do juanismo, obriga-o a mostrar o verdadeiro rosto.
Surge, de imediato, o ódio, a impaciência, o medo, o desespero, tatuado em todo o facies.
Desaparecem as cores do psiquismo da sedução e aparece o baço do tirano.
Contrariar e não ceder, e a imaturidade e o carácter enfermo mostram as suas garras.
Mostrar determinismo é mortal para o manipulador conquistador. Surgem as ambivalências e
inseguranças quando as convicções da sua admiração e desejo de ser amado são beliscadas.
A validação do mito de Don Juan é aplicável tanto em relações de natureza amorosa,
como em profissionais, familiares, sociais ou quaisquer outras ...!
Resta perceber o antídoto, para que o seu extermínio da praga comece.
Enquanto lhe é vantajoso, injecta-se de delicados e sedutores sorrisos, promessas de encanto,
eternas dedicações, declaradas benfeitorias e paixões disponíveis.
O desprezo, a saturação e a humilhação sobre a vítima, vem depois,
quando precisa de novo sangue, repetindo e perpetuando o esquema.
Em suma, Don Juan, ... é uma bicha oportunista, incompleta e incubada ...
travestida de narcisismo psicopático, exibindo-se para se esconder.
travestida de narcisismo psicopático, exibindo-se para se esconder.
Desenho de Gorka Olmo. |
EL PAÍS (20 Set 2017):
"Da psicanálise à falta de hormônios:
as explicações para o “donjuanismo”.
O Don Juan é um viciado: sedutor compulsivo, infiel e insatisfeito
Poucos mitos nascidos na Espanha são tão universais como o de Don Juan.
O sedutor insaciável inspirou artistas e escritores, de Tirso de Molina a José Zorrilla, sem esquecer
de Prosper Mérimée, Albert
Camus e Lord Byron. Seja sob o nome de Don Juan ou de Casanova,
o arquétipo foi alvo de incontáveis análises para tentar explicar o comportamento
desse tipo de gente. Embora o donjuanismo possa ocorrer em ambos os sexos,
costuma ser associado aos homens.
Quem sofre dessa síndrome é um sedutor compulsivo, infiel e insatisfeito.
Sabe bem como conquistar, porque é um sábio manipulador das emoções. Mas quando
uma pessoa se apaixona por ele, a abandona na hora, para começar a seduzir a
outra. O sexo é o de menos para ele, não é o protótipo do
garanhão que vai de cama em cama. O que lhe interessa, o que verdadeiramente
lhe excita, é o cortejo sentimental, a paixão dos primeiros dias. Uma vez que a
consegue, quando tem a certeza de que esse alguém está disposto a tudo por seu
amor, perde o interesse. Pode manter uma relação de anos por pressões sociais,
inclusive pode sentir afeto, mas não será fiel. Platão dizia que só se deseja o
que não se tem, e é isso o que acontece com os afetados pelo donjuanismo.
Muitos especialistas já tentaram explicar o porquê dessa conduta compulsiva e
insaciável, da sua incapacidade de construir um amor estável e duradouro.
Para Freud, pai da psicanálise, o Don Juan está preso na
fantasia edipiana de ser o alvo da paixão materna. É um homem emocionalmente
imaturo, de perfil narcisista, que procura a figura da mãe em cada mulher que
seduz. Quando consegue seu amor, não pode senão abandoná-la, fugir dessa
relação que, para seu inconsciente, seria incestuosa. Assim, jamais conseguem
estabelecer uma relação amorosa; vivem retidos nesse loop de busca e abandono, passando da entrega
absoluta ao mais desalmado rechaço.
Bom conhecedor de Freud, o médico e escritor espanhol Gregorio Marañón
(1887-1960) também estudou a fundo a figura de Don Juan e lhe atribuiu uma
personalidade narcisista, com uma homossexualidade latente sob seu caráter
gozador. Embora o escritor Albert Camus argumentasse que esse personagem se
apaixonava por todas as mulheres, o psiquiatra e sexólogo Adrian Sapetti suspeita
que ele só “acredita estar apaixonado”, já que depois da conquista esse
sentimento nunca chega a se fortalecer. Se a presa se mostrar indiferente ou o
rejeitar, o sedutor insatisfeito, valendo-se de todas as suas artimanhas,
persiste até conquistá-la. Trata-se, portanto, de um sentimento muito primário,
carente de profundidade.
Manuel de Juan Espinosa, catedrático de Psicologia da
Universidade Autônoma de Madri e especialista nos mecanismos do amor, sustenta
que os Don Juans sentem, de fato, um tipo de amor real, embora sua essência
seja volátil e fugaz. “É uma espécie de sentimento que estoura feito rojão;
essas pessoas da mesma forma que sentem uma euforia sofrem um baque.” O
professor explica que os sedutores compulsivos são “predadores amorosos que na
verdade se apaixonam pelo amor, pela sensação que lhes produz o fato de alguém
se apaixonar por eles, e pela ideia de estarem apaixonados”.
Essas poéticas afirmações têm uma explicação muito prosaica: esse tipo de
personalidade se caracteriza por níveis excepcionalmente baixos de
vasopressina, um hormônio segregado no momento inicial da relação, junto com a
oxitocina, causadora do bem-estar que o apego provoca. Essa substância é que
desencadeia os sentimentos de fidelidade, coesão e confiança, três pilares
sobre os quais se assenta o desejo de que uma relação perdure, e no caso desses
sedutores ela se encontra em níveis mínimos.
Segundo a descrição de Manuel de Juan, o amor tem três etapas: uma primeira
de atração amorosa, não necessariamente sexual; outra de paixão, e uma terceira
de apego e comprometimento. E o que o Don Juan vive é esse amor lúdico já
descrito por Aristóteles. Entende a primeira etapa como uma espécie de rapina.
Só ativa a fase seguinte quando percebe que a outra pessoa está apaixonada.
Esses indivíduos vivem intensamente os momentos iniciais: produzem mais
dopamina e noradrenalina do que o normal e sentem o chute bioquímico do amor
com mais intensidade que os demais. Isto lhes produz uma espécie de embotamento
rápido, o que os especialistas chamam “saturação do estímulo”, fazendo com que
rapidamente se desinteressem e passem a procurar uma nova presa que os sacie
outra vez. Seja qual for a explicação psicológica ou analítica que se queira
dar a esse comportamento, o que está claro é que tais pessoas sofrem uma
disfunção hormonal que as deixa sempre às portas do “verdadeiro amor”, se assim
entendermos o amor duradouro.
O Don Juan é, portanto, um viciado. Excita-se com esse coquetel de
endorfinas segregado no início da relação – uma vertigem que acaba com a mesma
rapidez com que surge. Pode se apaixonar em poucas horas e se cansar no dia
seguinte, ou em semanas. Mas não muito mais: o tempo necessário para que seu
organismo pare de segregar opiáceos e seu nível hormonal se equilibre. Então,
Don Juan, ou Dona Joana, como todo viciado, sai de novo em busca de mais uma
dose. No seu caso, de amor."
Desenho de Gorka Olmo. |
POSFÁCIO (ANDO):
O contributo explicativo hormonal e farmacológico, acarreta em si uma exequibilidade fácil ...!
O contributo explicativo hormonal e farmacológico, acarreta em si uma exequibilidade fácil ...!
E o contributo explicativo psicanalítico ? Exequibilidade eficaz mas de difícil
acesso com muitos obstáculos na sensibilização de consciências ...!
E não dá jeito ...!
E não dá jeito ...!
A arma, contra o juanismo, é ter um frasco de antídoto no local de trabalho,
em casa, nas ruas, na cama, nas fortuitidades ...!
em casa, nas ruas, na cama, nas fortuitidades ...!
O poderoso antídoto contra o veneno do juanismo é a nobreza do carácter,
é a verticalidade sustentada da personalidade ...!
A arma é gente completa, madura, regida pela imagem ética e estética.
Gente que não sabe maquilhagens de persona.
Gente que rejeita maquilhagens de persona.
Gente que repele maquilhagens de persona.
São armas.
Um Don Juan é um aflito a procurar, desesperadamente, ancoradouro, mãe.
É um aflito a fugir, desesperadamente, da ebulição das marés, da sua mãe.
Namorou o pai.
Anima-se e aninha-se (mentalmente inconsciente) com o homem.
Suga e suga-se nos aromas das masculinidades.
Vibra nas virilidades que não são suas.
Quando puder ter acesso à vontade ... fica HOMEM, bicha ou o que for de facto,
mas abandonando as pérfidas necessidades de oportunista,
de incompletude, deixa de ser incubado e de andar travestido de narcisismo psicopático:
esconder-se-á menos, enfeitar-se-á menos e será (quase) mais GENTE.
Um Don Juan é um aflito a procurar, desesperadamente, ancoradouro, mãe.
É um aflito a fugir, desesperadamente, da ebulição das marés, da sua mãe.
Namorou o pai.
Anima-se e aninha-se (mentalmente inconsciente) com o homem.
Suga e suga-se nos aromas das masculinidades.
Vibra nas virilidades que não são suas.
Quando puder ter acesso à vontade ... fica HOMEM, bicha ou o que for de facto,
mas abandonando as pérfidas necessidades de oportunista,
de incompletude, deixa de ser incubado e de andar travestido de narcisismo psicopático:
esconder-se-á menos, enfeitar-se-á menos e será (quase) mais GENTE.