domingo, 21 de maio de 2017

SUSTENTO DA ALMA - COMPANHEIROS DE ANTAGONISMOS

Herberto Helder. Fonte da imagem: internet
TEORIA DAS CORES
(Herberto Helder, 1930-2015 / Portugal)

Era uma vez um pintor que tinha um aquário com um peixe vermelho. Vivia o peixe tranquilamente acompanhado pela sua cor vermelha até que principiou a tornar-se negro a partir de dentro, um nó preto atrás da cor encarnada. O nó desenvolvia-se alastrando e tomando conta de todo o peixe. Por fora do aquário o pintor assistia surpreendido ao aparecimento do novo peixe.
O problema do artista era que, obrigado a interromper o quadro onde estava a chegar o vermelho do peixe, não sabia que fazer da cor preta que ele agora lhe ensinava. Os elementos do problema constituíam-se na observação dos factos e punham-se por esta ordem: peixe, vermelho, pintor - sendo o vermelho o nexo entre o peixe e o quadro através do pintor. O preto formava a insídia do real e abria um abismo na primitiva fidelidade do pintor.
Ao meditar sobre as razões da mudança exactamente quando assentava a sua fidelidade, o pintor supôs que o peixe, efectuando um número de mágica, mostrava que existia apenas uma lei abrangendo tanto o mundo das coisas como o da imaginação. Era a lei da metamorfose.
Compreendida esta espécie de fidelidade, o artista pintou um peixe amarelo.

Paulo Passos.
DIZ
(Paulo Passos, Portugal)
Sou de dizer...
Tenho uma burra que está a parir uma vaca.
A vaca tem cornos.
A burra chama-se Fusível.
Sou de um país cheio de messias.
Não gosto dele.
Chama-se Portugal.


Manuel Laranjeira. Fonte da imagem: internet

PESSIMISMO NACIONAL
(Manuel Laranjeira, 1877-1912 - Portugal)

"(...) Um dos aspectos mais típicos da vida portuguesa e um dos seus males mais funestos é a sua prodigiosa fertilidade messiânica. A cada passo surge um homem que se sente com envergadura e ventre de messias. Por cada messias que aborta, pululam inesgotavelmente centos de messias, toda uma falperra de messias (...)"


Cazuza. Fonte da imagem: internet

CITAÇÃO DE
(Cazuza, 1958-1990 / Brasil)
Cantando a gente inventa.
Inventa um romance, uma saudade, uma mentira... 
Cantando a gente faz história. 
Foi gritando que eu aprendi a cantar: sem nenhum pudor, sem pecado. 
Canto para espantar os demônios, para juntar os amigos. 
Para sentir o mundo, para seduzir a vida.



Henry David Thoreau. Fonte da imagem: internet
CITAÇÕES DE
(Henry David Thoreau, 1817-1862 / EUA)

"Por cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal,
há apenas um atacando as raízes."

"Eu clamo não já por governo nenhum,
mas imediatamente por um governo melhor."

"Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus
companheiros, é porque ouve outro tambor."

"Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá."

"Os homens hão-de aprender que a política não é a moral


e que se ocupa apenas do que é oportuno."

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Edição: Paulo Passos




sexta-feira, 19 de maio de 2017

PATANISCAS DE BACALHAU


Ingredientes:

- Bacalhau
- Cebola (1)
- Alho
- Salsa fresca
- Ovos (2)
- Farinha de trigo (2 chávenas de chá)
- Leite (1 chávena de chá)
- Fermento em pó (1 colher de chá)
- Sal q.b.
- Pimenta q.b.
- Louro (1 folha)
- Couve
- Morangos
- Azeitonas
- Azeite
- Óleo de fritar


Modo de preparação:

Após deixar o bacalhau (use aparas, badanas e todas as partes mais baratas) mergulhado em água, durante um dia, mudando a água algumas vezes, coza-o em água com uma folha de louro.


Desfiado e retiradas as espinhas e a pele, misture-o, numa malga, com a cebola, 
o dente de alho e a salsa (não descarte os caules), tudo previamente muito bem picado 
e envolva esses ingredientes.


Noutro recipiente junte a farinha, o fermento em pó e os ovos e mexa sempre 
enquanto verte o leite.
A textura da mistura deverá ser leve mas com alguma consistência.
Junte as partes dos dois recipientes e tempere de sal e pimenta moída.


Numa frigideira com óleo bem quente, frite as porções da mistura, até que o dourado e o crocante invadam a patanisca.
Deixe descansar sobre papel absorvente, antes de servir.


Acompanhe com couves salteadas em cebola e azeite, em provocação aos morangos.


Um copo de vinho e azeitonas fazem parte deste pacote ...!


Edição: Janiel Martins


domingo, 14 de maio de 2017

SUSTENTO DA ALMA - AMORDAÇADOS

Paulo Passos / Portugal.
Como qualquer outro criminoso,
a injustiça também tem mãe - a TIRANIA,
a sempre tóxica tirania.

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Na sua essência bio-psicológica a humanidade é una.
Na sua essência social a humanidade é una, com duas alíneas:
- Os favelados,
- Os que julgam que não o são.

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O preço da tirania e da corrupção
é sempre pago pelos desfavorecidos.

\\\///

MORDAÇAS

Mordaças que fuzilam a alma,
Mordaças que secam vontades,
Mordaças que castram pensamentos,
Mordaças que se suportam na mansidão
Obedecer ... OBEDECER ...
Castrar liberdades ...
Reprimir direitos ...
Dizer ... BENÇÃO ... à miséria e à submissão ...
Glorificar a dor ...
Agradecer o sofrimento ...
São os verbos dos carrascos
São predicados das ditaduras
Amordaçar ...
No corrosivo sorriso da tirania ...
Putas de ratazanas ...
Filhas da PUTA
Filhos da PUTA
Paulo Passos


"(...) Não compensar o trabalho é aniquilar o estímulo de trabalhar (...)."
Manuel Laranjeira

Manuel Laranjeira / Portugal, 1877 - 1912. Fonte da imagem: internet.
"(...) Representa esta passividade do povo português, em face da parasitagem que o devora, um profundo sentimento de cobardia? É esgotamento de dignidade? É exaustão da sua dignidade de reagir? Não.
Ninguém lhes ensinou os seus direitos e os seus deveres. Ele, dos direitos do homem tem apenas a noção secular, tradicional: obedecer. Os seus direitos de cidadão livre? Mas como querem que ele os defenda, se nem sequer sabe que eles existem? E com esta consciência moral de servo que ninguém educa até a transformar numa consciência de homem livre, lá se vai debatendo inutilmente a arrancar do ventre da terra-mãe a ilusão da subsistência quotidiana, ou, numa fúria animal de viver, emigra à conquista de pão.
Quanto à minoria ilustrada, como não há-de ser ela pessimista, se se sente isolada, inutilizada, nesta atmosfera de ignorância? Se sente triunfar apenas a escória mental e moral da raça portuguesa? (...)"
Manuel Laranjeira - Pessimismo Nacional (Publicado pela 1ª vez em 1907 - 1908, no jornal - O Norte / Porto).

Miguel Real / Portugal. Fonte da imagem: internet.
"(...) Com efeito, "Pessimismo Nacional" refulge hoje com uma actualidade inisutada. Sob a diferença da conjuntura, vibra hoje, estruturalmente, um século após a sua publicação, o mesmo Portugal que Manuel Laranjeira conheceu entre a última década do séc. XIX e a primeira do séc. XX: instituições bloqueadas ou ineficazes (Justiça, Educação, Saúde), uma classe política genericamente medíocre - refugo, em todos os partidos, das notáveis direcções refundadoras da democracia - , uma Assembleia da República de funcionários, em que mais sobeja o interesse do que o pensamento, um empresariado especulativo, assente no betão e no comércio de curto prazo, elites jogando com a sorte, visando a fama sem o suor do estudo e do trabalho, um povo bárbaro rastejando em Fátima ou ululando em estádios de futebol, de olhos grudados numa televisão vocacionada para mentes imbecis, frequentando os delirantemente maiores centros comerciais da Europa (...)."
Miguel Real. Prefácio de "Pessimismo Nacional" de Manuel Laranjeira,
Edição OMNIA OPERA, Guimarães, 2012.


Júlio Henriques / Portugal. Fonte da imagem: internet.
"Sem chefes não há rebanhos e isto é uma grande catástrofe."
Júlio Henriques


Fred Astaire / EUA, 1899 - 1987. Fonte da imagem: internet.
"Quanto mais alto subimos, mais erros nos são permitidos.
E quando estamos no topo, se errarmos o suficiente,
isso passa a ser considerado o nosso estilo."
Fred Astaire



Edição: Paulo Passos




quinta-feira, 11 de maio de 2017

CONGRO FRITO


Ingredientes:

- Congro fresco
- Limão
- Vinho branco
- Oregãos
- Pimenta branca
- Colorau
- Farinha de trigo
- Coentros
- Sal
- Óleo de fritar


Modo de preparação:

Sendo o congro (safio ou cação ... penso serem o mesmo e, a diferirem, 
talvez se prenda com fases de desenvolvimento ...!) um peixe bastante espinhoso, 
sugere-se que o corte em postas bastante finas.


Em São Miguel é hábito deixar as postas finas 
a marinar em limão e vinho branco, de um dia para o outro, 
para ajudar a amolecer e, como tal, serem de menor incómodo.
A marinada inclui sal e coentros.
A fritura ainda torna as espinhas mais quebradiças, 
pela crocância que lhes é incutida.


Misture num prato, a farinha, o colorau, os oregãos e a pimenta.
Envolva posta por posta do peixe, neste preparado.
Em óleo quente vá fritando, sem exagerar na quantidade de peixe que 
coloca de cada vez, para não arrefecer o óleo.
Deixe descansar sobre papel absorvente e acompanhe com um vinho branco, 
salada de alface, cebola nova e tomate, temperada a seu jeito.


Coma fruta, a que lhe apetecer ou lhe for possível.

A estes que a ternura invadiu - Fernanda e Paulo (Marianos),
fica um beijo ... bem no meio do tempo ...!!!
Parabéns querida e doce Fernanda.

Edição: Janiel Martins

domingo, 7 de maio de 2017

CAFÉ COM LETRAS - DIALOGANTES



SOB E SOBRE A PELE
(Janiel Martins - RN / Brasil)

Sob a pele e sobre a pele 
pelados ou por pelar.
Vos tenho.
Aqui no meio do tempo.
Dois mastros que me entesam 
pelo texto, pela palavra, por vós.
Um no cheiro, 
no tacto e no sabor.
Esse que é um ser eu.
Outro no imaginar, 
nos sentidos exaltados 
pelo mistério da incerteza sonhada.
São dois, feitos homens feitos, 
que se respondem nos desenhos grafados 
e perpetuados nos seus escreveres.
Texto de um, belezado pela essência impulsiva.
Texto de outro, belezado pela análise.
Texto de um, projectiva criação.
Texto de outro, analítica interpretação.
Dialogantes inteiros.
Meus.
Sob e sobre a pele.
Amados donos dos vossos dizeres 
... convosco sou.


Fonte da imagem: Facebook
SOB A PELE
(Antônio Baltazar Gonçalves - SP / Brasil)

Não há pressa na pele papel macio
do homem mais velho;
Não há demora na pele seda porcelana
fria do rapaz de frete.

Vivem sós, marcaram esse desencontro.
A pressa do rapaz é olho de águia na grana,
não aprendeu amar.
A demora no olhar do outro é gana,
esqueceu-se como se ama.
Seria bonito de ver se o caso fosse outro,
de amor entre dois homens
encontro de gerações como oração coordenada
pelo desejo nato desinibido
ou a simples sobreposição da pele
à sede de hidratação
ou troca de afeto,
solidão mordida ou apenas fome.
Mas não é o caso,
embora comum é famigerado esse encontro.
Os dois foram tatuados no escuro
marcados pela vida, um será o outro amanhã.
Sendo a pele o maior órgão do corpo
se compreendida tornar-se-ia
e a tudo, o mais humano de nós.
Mas não é o caso o caso desse encontro.
Aqui a pele é moeda de troca
papel de grife
embrulho
do perfume o frasco
perfumaria
mal tocada quebra
tanto mais trocada mais sangra.
A pele nunca está pronta.
Por negros pêlos de um lado
e loiros finos fios do outro,
perfurada feito granito,
a pele eriçada é a mais bela flora
na epiderme em choque.
Flor repisada, duro espinho
brutal arma na bainha.
Por fim, o acerto é feito
: amor abjeto, a obra
o coito.
Vivos beijos mortos de línguas tensas,
o silêncio é o oco do desejo que sobra.
Na pele dos dois um texto há muito redigido
é um pedido de socorro mal grafado,
o grito de um menino que foi abusado ,
gemido abafado, nada é esquecido.
O medo no ápice do orgasmo
pede colo e paz de abrigo.
Agora só há pressa,
grana gasta e marcas na grama.
Aplacada a gana, os dois buscam
no tempo o que não foram.
No escuro, a quixotesca figura se desfaz
depois de aplacado o furor.
Os homens seguem sem rumo seu rumo,
o que foi amplificado fica não dito.
Junto deles vai a sombra do medo,
cravado na memória do corpo
sob a pele.



SOBRE A PELE
(Paulo Passos - Braga / Portugal)

Esfregar na pele 
O sabor de língua
Esfregar na língua
O sabor de pele
O ansiado
O desejado
(In)cómodo e irresistível
Geme o tesão que é o teu
Não o que não te pertence
Não afogues o que tens
Porque não ao livre?
Solta no grito o jorro
Desamarra o pau.

Narração de angústias
Experimentos de vão
Tardios, perdidos
Em estepes de fraquezas
De mágoas
Ou de medos
Massacrado
Oscilante.

Dirás da pele
Que te é alma.

Mas tem desejo
Desejo e fuga
Deste não feito homem
Deste não feito gente
Desejo esquecido de ser
Desejo com dor
Mas tem outro querer
Mesmo o narcísico
De fugir
Par do tesão
Do tesão de ser homem.

Texto vivido
Denunciado
Discursação vérita 
Analítico em prosa
Dolorido em poesia
Cheira a medo
Tem narração
Tem mancha tatuada
Matador de um
Nascedor de outro
Fica no outro
No do homem teso
No teso que és tu
Ou todos
Gritador do teu gemido
Audível o teu tesão.

Diz de ti. 

Mutações 
Dirás.


Janiel Martins







quarta-feira, 3 de maio de 2017

SOPA DE ALFACE


Ingredientes:

- Alfaces
- Alho francês
- Cebola grande
- Salsa
- Azeite
- Sal
- Pimenta branca


Acompanhamento:

- Oregãos
- Queijo fresco
- Chutney (manga e lima)
- Azeitonas alcaparras
- Pão
- Laranja
- Limão
- Gengibre
- Mel



Modo de preparação:

Depois de cortar o alho francês em rodelas e a cebola bem picada,
refogue numa panela com azeite e um pouco de sal.
Reserve e, usando a mesma panela, escalde as alfaces, sem retirar os caules.
Passe-as na varinha mágica ou no liquidificador.
Misture o puré de alface com o refogado de cebola e alho francês.
Confira tempero.



Adicione uma chuvada de salsa picada e de pimenta do reino (branca)
e envolva carinhosamente.
Acompanhe com pão e queijo fresco polvilhado com oregãos,
azeitonas alcaparras e chutney.
Vitamine com um suco de citrinos, gengibre e mel.


E pronto ... fica consigo ...!!!

Fonte das imagens: Janiel Martins