sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CAFÉ COM LETRAS



        Café com Letras - I
Fonte da imagem: Janielson Martins



1964 - Brasil, Rio Grande do Norte, Natal.

Luís da Câmara Cascudo escrevia, no preliminar de "Flor de Romances Trágicos":


"... Essa Flor de Romances Trágicos comprova, nos limites pessoais da seleção, o registro pela aventura do homem valente não confundido na entidade capitulada no Código Penal. Coragem, bravura, arrojo, provocam a simpatia mas não a solidariedade ... é indispensável uma justificativa moral - ("ética", direi!) - que todos compreendam ...".

Acrescentava, ainda, Câmara Cascudo, nesse mesmo preliminar:

"...Todos os animais bravos, touros, onças, marruás que longos anos fugiram à servidão curralenga foram exaltados em versos de louvor. Mesmo o Boi Surubim, a Vaca do Burel, o Bode dos Grossos obtiveram as glórias cantadeiras."

Aludindo à adesão revisitada em Câmara Cascudo (como na justiça feita de honra lavada), através dos versos da vida das "glórias cantadeiras", singela-se este texto numa revisitação a algumas das figuras de nobre destaque da literatura brasileira.

Esta receita "Café com Letras", move-se no cenário da motivação à consideração do que é maior na condição humana: o ato de criar.
No sentido de contribuir para os prazeres inerentes à companhia da leitura, com os valores da nossa casa literária, visitam-se alguns personagens de obras consagradas pela notável qualidade da literatura brasileira.

O namoro da culinária com a literatura não é um caso recente. 
Sempre se conjugaram, tanto na evidência como na subtileza.
Pese embora as, vãs, tendências para a sua generalização, estarem em mãos tão pouco sufragadas de regência cultural. 
A falta de nobreza e de clareza dos poderosos pacotes de interesses, falsamente referenciados como institucionais, têm mantido a motivação e o prazer para a leitura, residente na desprezível Rua da Amargura.

Mas, sendo a fuga à "servidão curralenga"(como no dizer literário de Câmara Cascudo) o patamar básico de liberdade, urge consciencializar que a sua prática está muito aquém das premissas da igualdades nas oportunidades e práticas vigentes. 
É atual, aliás, é ainda muito atual no nosso país! ... como Graciliano Ramos, em 1938, na publicação de "Vidas Secas", qualifica Fabiano (tão fiel representante das ingénuas existências ...) quando comenta: "... Fabiano dava-se bem com a ignorância", ou o terrífico conceito que, também Graciliano Ramos usou na mesma obra, tão dolorosa mas visivelmente banalizado "... apanhar do governo não é desfeita". 
Desigualdades e desigualdades no direito de sentir e pensar, neste país, têm massacrado a mais pura e rica fruta da nação - a própria população. 
Grandiosamente, essas desigualdades têm como opositoras as denúncias dos poderosos manifestos culturais - bem hajam estes genuínos manifestos. 
Não os manifestos subjugados a interesses e idiossincrasias individuais e duvidosas, ainda que com disfarçados com o conceito de Cultura ...!!!...

Salientam-se, neste texto, e na sua intenção revisitadora e de motivação literária, alguns personagens que habitam as narrativas dos nossos maiores.
Sem desprimor por nenhum ou nenhuma dos e das que integram o Olimpo da Cultura Brasileira e que aqui não foram referenciados, ilustrativamente, debitam-se:  

... Capitu, Bentinho e Escobar em "Dom Casmurro" do grande Machado de Assis ... !

... Meninos de rua em "Capitães da Areia" do eterno Jorge Amado ... ! 

... Albino, o decorativo Albino, ansiando existência, em "O Cortiço", do coloquial Aluísio de Azevedo ...!

... Amaro, desamparado pela paixão, em "Bom Crioulo", do corajoso realista Adolfo Caminha ...!

... Iracema, a "virgem de lábios de mel" (lenda do Ceará), em "Iracema" do romântico José de Alencar ...!

... O jagunço Riobaldo de "Grande Sertão: Veredas" do erudito João Guimarães Rosa ...!

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Relaxe e deixe-se adotar por Livros e tome-os com um café ou tempere-os com Liberdade.. !

     Disponibilize-se e entregue-se aos seus diversos bons apetites...! 


     Saliente-se! O dia 5 de Fevereiro de 2016, será a sua data...!


"Um quadro pode ser uma arma de guerra"
Pablo Picasso







Um comentário:

  1. Excelente texto de revisão literária
    Excelente ideia de tornar a culinária num veículo despertador de mentes.
    Personagens que foram e serão companhias transversais, em todas as gerações, em harmonia perfeita na cozinha!
    Que o Brasil não deixe esquecer estes marcos.
    A mão da justiça e do direito não vai deixar o Brasil afundar.
    Exemplo que os governantes e influentes do Brasil, deveriam adotar..
    Renovados parabéns.

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