domingo, 10 de abril de 2016

SUSTENTO DA ALMA - DA JUSTIÇA E DA IGUALDADE




Numa conflituosa e perigosa época (mais uma!) em que os valores
 que deveriam glorificar a humanidade
 debitam-se em desvantagem, 
face aos que dominam nos registos das desigualdades, 
dos obscuros interesses, das corrupções,  
dos abalos à justiça e dos danos à ética, relembrando, com novas roupagens,
  holocaustos e inquisição ...
intenta-se contribuir no abalroamento que os sistemas sociais deverão impor, 
a esses obstáculos condutores e promotores da supremacia da injustiça, 
do mal e da desigualdade.


As formas de luta jamais se vergarão perante as idiossincrasias
 e as caprichosas falsidades e hipocrisias, 
tão banalizadas que, quase, 
já se transformaram em miseráveis postulados
 protegidos legislativamente.


A pérfida valorização da mentira, camuflada pelos sorrisos cínicos
 e concludentes dos vazios interiores, 
das carregadas mágoas acumuladas pelas frustrações e pelos medos, 
dos seus inacabados e doentes de carácter protagonistas, 
não cruzarão, jamais, 


as muralhas da razão e da justiça,
infinitamente disponíveis na defesa 
das igualdades funcionais 
e dos direitos em oportunidades
e em existência.
  

Nesta continuidade e defesa de valores e de princípios
 que, em nobreza, regem os íntegros cidadãos e cidadãs, 
transcreve-se um artigo alusivo,
da autoria de
 dois psicólogos portugueses: Ana Sizalda Oliveira e Paulo Passos, 
publicado em 2016,
 no Portal dos Psicólogos - site: www.psicologia.pt 
cujo título foi o derivativo usado para titular a matéria de hoje,
 na rubrica "Sustento da Alma", deste blogue.



O artigo:

"A PSICOLOGIA NA PROMOÇÃO DA JUSTIÇA E DA IGUALDADE
  
Palavras-chave: Igualdade; Justiça; Direito; Liberdade; Homotranssexualidades.

A Psicologia na Promoção da Igualdade e da Justiça, é um artigo que se inclui no vasto leque de manifestos e lutas pelo honesto e digno registo das igualdades.
Cabe-lhe, enquanto ciência e enquanto conhecimento regido por ricos e múltiplos postulados teóricos de subjacência eficaz na intervenção e explicação de fenómenos inerentes à humanidade, contribuir para, efectivamente e de modo claro, se impor na linha da frente, na luta contra tudo o que contrarie a garantia do direito, da justiça e da igualdade, nos sistemas sociais.
Colocar a ciência e o conhecimento científico ao serviço comunitário, das exacerbações da liberdade e da igualdade, são meios pelos quais o bem estar social e ambiental se encontram, na certeza de um excelente itinerário de facilitação social e de evolução.
Fica, neste enquadramento, um reforço à promoção da saúde mental, tanto em indivíduos como em grupos sociais.

É um artigo que se incute nos intentos denunciadores da imoral prevalência de opiniões, em territórios consagrados à ciência, agravado pelo domínio das idiossincrasias individuais, sobre o que, de direito, assiste aos indivíduos e populações.
O esclarecimento, o suporte clínico e terapêutico, os meios de investigação, a melhoria de todo o equilíbrio mundano, não pode estar alheio à justiça.
Enquanto os mecanismos parasitários de privação ao esclarecimento e à informação, se sobrepuserem ao direito à saúde e, especificamente à saúde mental, não poderá haver um silêncio tranquilo no terreno da paz.
Não se deixará, quem bem trabalha, silenciar moléstias enganadoras e travestidas de qualificação profissional.

Este artigo, em soslaio de projecto, demonstra uma possibilidade de, em cada serviço, em cada psicólogo/a, o radiante sorriso da satisfação de dar, se embelezar pela criatividade e pela regência da Psicologia ao serviço de toda a humanidade … a Psicologia nos Cuidados de Saúde Primários.

PROJECTO

------ SOLTA A FRANGA ------

                         “Prendia o choro e aguava o bom do amor”
Verso do poema/canção “Codinome Beija-Flôr”, do cantor, compositor, letrista e poeta brasileiro – Agenor de Miranda Araújo Neto, conhecido por Cazuza (Rio de Janeiro 4/4/1958 – 7/7/1990).

A escolha desta alusão não é uma homenagem alugada.
            A escolha desta alusão é uma declaração de vida, sem limitação de prazo.

CONTEXTUALIZAÇÃO

           “É-se” e não “está-se” nos determinismos, desejos, práticas e modos de vida em qualquer condição sexual / psico-sexual, nunca sendo, então, um percurso passageiro ou uma fase: é-se assim!
Infelizmente, ainda se vive com a presença e actualidade da “santa fogueira”, sem que as estruturas políticas, institucionais, familiares e sociais estejam na disposição de se implicarem de modo honesto (e não conveniente ou de conveniente fuga, sabe-se lá de quê!) e com o suporte do emanado pela ciência e conhecimento científico.
Não pode continuar a ser a opinião social, familiar e individual, bem como de outras instâncias de cariz religioso, caseiro e centrados no direito ao ponto de vista, ao mistério e ao dogmatismo, a determinar quais as vias para os sucessos e prazeres das funcionalidades e legítimos prazeres e viveres das sexualidades humanas.
A raiz da qualidade profissional, em Saúde, nunca deve permitir actuar-se, sem o  honroso e respeitoso fundamento clínico-científico, dispensando-se quaisquer ponto de vista, opiniões ou sugestões (ainda que designados, falsamente, como profissionais), para aquém ou além dos designados pela Psicologia Clínica e da Saúde, em âmbito do SNS (Serviço Nacional de Saúde).
Neste cenário e porque cada pessoa ama quem quiser (uns/umas, infelizmente, de forma silenciada; outros/as, felizmente, com sonora voz), sugere-se (em contributo para a construção de uma historiografia social menos trágica, menos dolorosa, injusta, castradora, mirrada, corrosiva, preconceituosa, infiel e, sobretudo, tão bem articulada com a pequenez, a obediência e a mansa ignorância) a criação de medidas que façam cumprir os seguintes intuitos:
-prevenir e contrariar o agravamento do actual contexto individual, familiar e social, no que concerne à homo e/ou à trans sexualidades;
-impedir a continuação do postulado da mentira, no intento de querer transmitir posturas de igualdade, este camuflado por subjectividades discursivas e parasitas conveniências circunstanciais;
-promover a noção de direito à identidade;
-consciencializar a identidade sexual e psico-sexual;
-conjugar as imagens especular, mental e corporal;
-facilitar a auto-despenalização e auto-problematização;
-identificar a angústia e/ou conflito intrapsíquico, sujeitos a repressão;
-mobilizar os mecanismos de defesa de forma ajustada;
-facilitar a identificação da homo e trans sexualidades latentes;
-eliminar erros cognitivos sobre a relação homossexual – nesta relação, nunca há um homem e uma mulher;
-actualizar, definir e integrar os papéis sexuais, conjugais e parentais;
-sobrevalorizar a conceptualização de direito e de justiça:
-tornar viável a ego–sintonia em cada sujeito, familiares e pares;
-derrubar conceptualizações e postulados inerentes ao moralismo e benfeitoria;
-interiorizar a noção de igualdade, justiça e liberdade;
-fortalecer a instância egóica, instaurando operatividade na exposição em todos os contextos persecutórios, de alienação, de rejeição ou de canalização à catarse social;
-adquirir ferramentas de luta contra a homotransfobia (e conceitos inerentes);
-exprimir que a “aceitação” é uma variante homotransfóbica;
-identificar outras variantes de posturas de homotransfobia;
-impedir a continuidade do abuso e do preconceito, que estipulam quem deve amar quem.

            Assim, e na impossibilidade de se ser indiferente, a todos/as os/as que abraçaram a Psicologia nos Cuidados de Saúde Primários … projecta-se:

INTERVENÇÃO

1/ Criação de uma consulta destinada a todas as pessoas cuja orientação ou práticas sexuais sejam ego-distónicas, bem como de suporte a familiares, sobretudo no que diz respeito a púberes, adolescentes e, mesmo, a crianças.
2/ A consulta e todos os actos inerentes, são efectuados, exclusivamente, por psicólogos/as, nas instalações dos Centro de Saúde/ACES (Agrupamento de Centros de Saúde).
3/ A consulta tem o cariz de gratuitidade (isenção de taxa moderadora, tal como em muitos outros promotores de saúde) e de confidencialidade (na sua máxima garantia, como em todas as outras consultas de Psicologia).
4/ Os utentes terão acesso à marcação da consulta por e-mail (a serem criados), sem passarem por nenhum procedimento administrativo habitual. Este e-mail é aberto, exclusivamente, pelos psicólogos/as integrantes desta consulta, que marcarão o dia e hora, em resposta ao e-mail recepcionado.
5/ O/a psicólogo/a, no Centro de Saúde/ACES, decidirá qual ou quais os períodos destinados a esta consulta, que não deverão ter dia e horário fixos, de modo a garantir a confidencialidade de sala de espera e evitar a infeliz e usual tendência à rotulização.
6/ Entre os psicólogos intervenientes haverão reuniões prévias, de forma a serem uniformes as questões de linguagem, ajuste de procedimentos e de conceptualizações, bem como a revisão e actualização bibliográfica.
7/ Existirão reuniões periódicas, e sempre que necessário, para discussão de casos clínicos, acerto de procedimentos e suporte de supervisão em parceria.
8/ Uso de material de exame psicológico de forma uniforme, com avaliação prévia e posterior ao espaço terapêutico, com intuito de investigação.
9/ A divulgação da consulta é efectuada através de desdobráveis a distribuir pelos diversos espaços do Centro de Saúde interveniente; publicitação em órgãos de comunicação social locais (jornais e rádios); bem como pelas actividades de Psicologia Comunitária efectuadas pelos/as psicólogos/as (escolas, juntas freguesias, associações, IPSS e outros organizações de utilidade social).
10/ O/a psicólogo/a será o elemento de ligação entre o/a presidente do conselho clínico e da saúde (pccs), do respectivo ACES e o presente projecto.
11/ Os directores executivos dos ACES implicados neste projecto (na eventual expansão do projecto para outros ACES), após as medidas lógicas (não de eventuais subjectividades idiossincráticas) a tomar junto do/a pccs deverão emitir o deferimento em documento único, a criar para o efeito, que circulará pelos psicólogos/as para o acesso aos respectivos directores executivos.
12/ Este projecto deverá ser posto em prática logo após o deferimento, sendo que, na inexistência de acordo geral, será posto em prática nos Centros de Saúde que tiverem o lógico, congratulado e adulticiamente nobre, parecer favorável.

A intenção da sua publicação é por demais evidente, pelo que dispensará justificativas e/ou interpretações.
À questão sobre se se correrá algum risco discriminatório, na criação de uma consulta específica a esta realidade; certamente que a resposta contemplará todos os absurdos, atrocidades e negligências  que se têm verificado ao longo da História da Humanidade e da História Institucional em Saúde.
Não, não será um gueto. Será uma consulta de direito para a construção da igualdade. Os critérios de acessibilidade a este assunto seriam, francamente facilitados e melhorados, com a existência de uma consulta deste nível.
Gueto é o local social onde as pessoas têm sido colocadas, pela existência dos caprichosos e  miseráveis impérios da opinião e da crença, fomentados em espaço familiar, social, institucional e individual.

Este projecto não está implementado, por falta de resposta.
Foi enviado para apreciação, à direcção do ACES, em Fevereiro de 2014.

Braga, 13 de Março de 2016


Referências Bibliográficas:

- La Personalité Normale et Pathologique
  Jean Bergeret
  Dunod, Paris 1996

- Psychologie Pathologique
  Jean Bergeret
  Masson, Paris 1979

- Psychologie Sociale
  J-P Leyens
  Pierre Margada, Brussels 1979

- Teoria Psicanalítica das Neuroses
  Otto Fenichel
  Ed. Atheneu, Rio de Janeiro 1981

- Liberdade sem medo
  A. S. Neill
  IBRASA, São Paulo 1976

- A Função do Orgasmo
  Wilhelm Reich
  Publicações Dom Quixote, Lisboa 1979

- A Revolução Sexual
  Wilhelm Reich
  Zahar editores, Rio de Janeiro 1975

- As Origens da Moral Sexual
  Wilhelm Reich
  Publicações Dom Quixote, Lisboa 1988

- A Loucura da Normalidade
  Arno Gruen
  Assírio e Alvim, Lisboa 1995

- A Traição do Eu
  Arno Gruen
  Assírio e Alvim, Lisboa 1996 "


Congratulações infinitas pela seriedade com que textos e pessoas 
se ornamentam, na denuncia de atrocidades e violentações
 aos justos valores patrimoniais da humanidade.


na genuína  
e na mais alta base 
da harmonia social:


a igualdade,
a pluralidade,
a liberdade 
e a catarse pela justiça!














Fonte das imagens: Janielson Martins



Um comentário:

  1. Ensaio, projeto e argumentos... Leitura imprescindível que devem subsidiar ações concretas em prol de um mundo de inter relações menos preconceituosas, mentes abertas para a História e o tempo presente. Porque "Não pode continuar a ser a opinião social, familiar e individual, bem como de outras instâncias de cariz religioso, caseiro e centrados no direito ao ponto de vista, ao mistério e ao dogmatismo, a determinar quais as vias para os sucessos e prazeres das funcionalidades e legítimos prazeres e viveres das sexualidades humanas." Parabéns a todos os envolvidos, parabéns Janielson Martins.

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